sábado, 31 de agosto de 2019

Miguel Paiva - Fauna brasileira 2

Bolsonaro diz que Sínodo da Amazônia é evento político e coloca Abin para monitorar bispos


Palácio do Planalto quer conter o que considera um avanço da Igreja Católica na liderança da oposição a Bolsonaro. Bispos dizem ser chamados de 'inimigos da pátria'.


A defesa da
A defesa da "responsabilidade mundial" pela preservação da Amazônia também é reforçada na carta divulgada ao final do encontro em Belém. (Repam/Divulgação)
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), disse que o Sínodo da Amazônia é um evento político. "Tem muita influência política lá sim", afirmou neste sábado, 31, em almoço com jornalistas.

Questionado se o evento está sendo monitorado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Bolsonaro confirmou e disse que a agência monitora todos os grandes grupos.

Um dos jornalistas perguntou ainda se o presidente considerava se o papa Francisco era de esquerda, ao que o presidente respondeu: "Não vou arrumar confusão com os católicos. Só posso dizer que o papa é argentino", brincou.

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Em resposta a críticas do governo Bolsonaro, a Igreja Católica afirmou que os bispos envolvidos na organização do Sínodo da Amazônia estão sendo "criminalizados" e tratados como "inimigos da Pátria".

Em carta, religiosos rebateram avaliações de que o evento, que tem em sua pauta questões ambientais, represente alguma ameaça à "soberania nacional", como argumenta o Palácio do Planalto e alas conservadoras do clero.

"Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da Pátria", diz documento publicado na sexta-feira, após três dias de reuniões em preparação ao Sínodo - que está marcado para outubro, em Roma. Cerca de 120 religiosos católicos participaram do encontro em Belém.

A carta foi encomendada pelo cardeal dom frei Cláudio Hummes, O.F.M. nomeado pelo papa Francisco como relator do Sínodo e porta-voz do pontífice para o tema, para desfazer o que os bispos consideram visões distorcidas sobre as intenções do Vaticano. Na única entrevista que deu após sua nomeação, dom frei Cláudio disse que o papa quer "pressionar" os governos locais a agir, entre eles, o Estado brasileiro, e defende ajuda internacional aos países afetados pelas queimadas - "criminosamente provocadas", nas palavras da Igreja.

A realização do Sínodo é vista com ressalvas por integrantes do governo brasileiro. O Palácio do Planalto quer conter o que considera um avanço da Igreja Católica na liderança da oposição a Bolsonaro, no vácuo da derrota e perda de protagonismo dos partidos de esquerda.

Na avaliação da equipe do presidente, a Igreja é uma tradicional aliada do PT e estaria se articulando para influenciar debates antes protagonizados pelo partido no interior do País e nas periferias.

No evento em Roma, bispos de todos os continentes vão discutir a situação da Amazônia e tratar de temas considerados pelo governo brasileiro como uma "agenda da esquerda", como situação de povos indígenas, mudanças climáticas provocadas por desmatamento e quilombolas. Procurado, o Palácio do Planalto não quis comentar a carta.

Ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Fernando Henrique Cardoso, o general da reserva Alberto Cardoso contestou o tom da carta dos religiosos. Segundo o general - que não faz parte do atual governo, mas é voz influente entre os militares -, os integrantes da Igreja "estão sendo criminalizados pelas atitudes deles de tentar interferir em questões da soberania".

Para o ex-ministro, o grupo que trabalha no Sínodo da Amazônia apresenta como uma das metas da Igreja "uma nova ordem social e política" e "isso não é papel da Igreja, que tem como papel fazer orientação espiritual aos seus fiéis".

Soberania

A redação da carta foi coordenada pelo bispo emérito do Xingu (PA), dom Erwin Krautler. O documento relata que os bispos estão "angustiados" com a degradação ambiental e "horrorizados" com a violência na Amazônia. E afirma que foram os bispos brasileiros que solicitaram ao papa uma assembleia especial dedicada à floresta tropical.

A defesa da "responsabilidade mundial" pela preservação da Amazônia também é reforçada na carta divulgada ao final do encontro em Belém. Os bispos afirmam, no entanto, que a soberania dos países sobre os territórios não estaria em questão. "A soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é para nós inquestionável. Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupação do mundo inteiro a respeito deste macrobioma que desempenha uma importantíssima função reguladora do clima planetário."

O "currículo" da Igreja na Região Norte virou um argumento dos bispos para justificar a participação deles num movimento de pressão política para mobilizar o governo a intervir na crise ambiental, agravada pelos recentes incêndios florestais. O arcebispo metropolitano de Belém, d. Alberto Taveira Corrêa, disse que a Igreja é a instituição que tem mais conhecimento dos problemas amazônicos, um recado indireto aos militares que questionaram a preparação do Sínodo.

Almoço

Bolsonaro participou nesta sábado de um churrasco no quartel-general do Exército, em Brasília. Pouco depois de entrar Bolsonaro mandou os seguranças convidarem um grupo de jornalistas e motoristas da imprensa que o esperavam na porta para participar do evento. Ele conversou por cerca de uma hora e meia com seis jornalistas. Os jornalistas não puderam gravar a conversa e foram orientados a deixarem os celulares do lado de fora.

O almoço foi uma confraternização com funcionários de gabinetes do Bolsonaro. Foi servido churrasco, arroz, vinagrete, farofa e chope. Bolsonaro disse ter tomado "apenas um golinho" já que teria uma cota de "uma lata de cerveja por mês". "A Michele não deixa, mas tenho uma escondida pra tomar quando ela sai", brincou.
Agência Estado

Haddad pede retomada de diálogo com quem votou em Bolsonaro

"O povo desta região não fugiu da luta. Mas agora temos que convencer o povo lá do Sul e Sudeste a botar a mão na consciência", disse o presidenciável petista, durante agenda em Recife (PE)

(Foto: Foto: Ricardo Stuckert)

Brasil de Fato - Na manhã deste sábado (31) o ex-ministro da Educação Fernando Haddad participou de manifestação em defesa da liberdade do ex-presidente Lula. O ato, no bairro de Casa Amarela, reuniu - segundo organizadores - cerca de 5 mil pessoas em frente ao mercado público, periferia do Recife. Em discurso de menos de 10 minutos, Haddad pediu que militância seja paciente, mas não abra mão de retomar o diálogo com amigos e familiares que votaram em Jair Bolsonaro.

Ao criticar ataques institucionais e verbais contra mulheres, indígenas e nordestinos, o petista disse que "esse foi o presidente que nós [de outras regiões do país] botamos, não o Nordeste". "O povo desta região não fugiu da luta. Mas agora temos que convencer o povo lá do Sul e Sudeste a botar a mão na consciência", opinou. "Como o Nordeste entende o que está acontecendo, é hora de fazer a diferença", convocou. Na avaliação do ex-ministro, a população não aprova o atual alinhamento do Brasil aos Estados Unidos. "O povo quer manter a soberania", afirmou.

Haddad pediu que a base militante do PT retome as relações com os amigos e familiares que votaram em Bolsonaro. "Todo mundo conhece alguém que foi morar lá no Sudeste, ou mesmo que mora aqui, mas que votou em Bolsonaro. São pessoas trabalhadoras, patrióticas, nacionalistas e temos que nos comunicar com elas", afirmou. E pediu que se baixe a guarda na hora do diálogo. "Não vamos ficar acusando. Muitos votaram nele por causa das fake news", pontuou. Para o ex-ministro, "é hora de ligar para aquele primo ou tio, chamar para um churrasco e para conversar sobre o Brasil".

A deputada Marília Arraes também destacou o papel do Nordeste nesse momento político e a necessidade de defender a soberania nacional. "Demos o recado em 2018: nas urnas nós não legitimamos o golpe [de 2016]. Recife e Pernambuco são contra o golpe e o fascismo. Nós reconhecemos o projeto de sociedade que este lado aqui representa", comemorou Arraes. "E temos que impedir a entrega de nossas riquezas de mãos beijadas para os Estados Unidos. Temos que resgatar o Brasil para os brasileiros, impedir o empobrecimento ainda maior da nossa população", defendeu. Ela também se dirigiu à feira pública do bairro. "Esse comércio aqui com certeza tem sentido a piora desde a derrubada da presidenta Dilma. Mas vamos mudar isso. E essa mudança vai começar pelo Nordeste", vislumbrou.

Também presente no ato, a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) pediu à militância mais paciência e persistência, apontando a necessidade de se construir uma frente que una a esquerda, mas que vá além da esquerda, para defender o Brasil do avanço do fascismo neoliberal. "Temos que olhar o exemplo da Argentina. Precisamos de mais amplitude para derrotar o avanço deles, que estão numa ofensiva muito forte sobre a América Latina e a Europa. Precisamos aprender essas lições, ter sagacidade, atitude e persistência", disse Santos, que é presidenta nacional de seu partido.

Lava Jato e Lula

No discurso, Fernando Haddad também saiu em defesa da ex-deputada e vice na chapa presidencial encabeçada pelo petista, Manuela D'Ávila (PCdoB). "Vocês sabem que Manuela colocou em contato o hacker e o jornalista do The Intercept. Esta semana Manuela entregou o celular a Polícia Federal, disse que não deve nada, não teme. Ela é uma mulher honrada", afirmou. "Mas fico me perguntando por que o Dallagnol não entrega o celular dele", completou.

O petista seguiu provocando o procurador federal e chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol.  "A colega dele já pediu desculpas sobre o que falou da morte dos familiares de Lula, outras pessoas já admitiram que as mensagens [divulgadas pelo The Intercept] são verdadeiras. Mas o Dallagnol, que aprontou essa confusão e impediu Lula de estar no lugar desse [presidente] destrambelhado, o Dallagnol não entrega o celular", provocou.

Para Haddad, a prisão de Lula ultrapassa os limites da disputa eleitoral. "Um dia se ganha, noutro se perde. A alternância de poder é normal. Outra coisa é inventar uma história para tirar o maior líder do país da disputa e mantê-lo preso até hoje", se queixou, completando que enquanto a situação perdurar, a militância permanecerá ativa. "Não podemos cometer essa injustiça e não vamos sair das ruas".

Em breve conversa com a imprensa ao chegar à manifestação, Haddad disse acreditar que Lula pode ser solto até o fim de setembro. "Está cada vez mais claro que foram cometidas injustiças contra o ex-presidente Lula. Muitas decisões estão sendo revertidas e esperamos que a condenação de Lula seja revista", disse o petista, avaliando ainda que o ex-presidente não teve amplo direito de defesa e que foi condenado sem provas.

Bolsonaro diz que Doria está 'morto' para 2022 e que ministro da AGU é mais 'supremável' que Moro

Guerra política na direita ganha força com Bolsonaro desprezando as chances de João Doria para a disputa presidencial: “Não dá para forçar ser quem você não é”. Ele também voltou a humilhar publicamente o ministro da Justiça, citando novamente o ministro da AGU, André Mendonça, para uma vaga no STF. “Não me comprometi com o Moro no STF"

Jair Bolsonaro e João Doria
Jair Bolsonaro e João Doria (Foto: Marcos Correa/PR)

247 - Jair Bolsonaro voltou a alimentar a guerra na direita com provocações ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu provável adversário político na corrida presidencial de 2022. Para Bolsonaro, o tucano está "morto" politicamente na disputa.

“Não dá para forçar ser quem você não é”, disse em conversa com um grupo de jornalistas no Quartel-General do Exército, em Brasília, neste sábado 1.

Os dois fizeram provocações públicas nos últimos dias, com Bolsonaro acusando Doria de ter 'mamado nos governos do PT', por conta da compra de uma aeronave com ajuda do BNDES. Doria respondeu ao ataque.

Bolsonaro também mirou seu ministro da Justiça, Sergio Moro, lembrando mais uma vez do ministro da AGU (Advocacia Geral da União), André Mendonça, para a indicação de uma futura vaga no Supremo Tribunal Federal.

“Não me comprometi com o Moro no STF. Durante a campanha, o que eu prometi foi alguém do perfil do Moro”, disse, segundo reportagem de Danielle Brant, da Folha. Em seguida, disse que o ministro da AGU  é “terrivelmente supremável".

Em julho, Bolsonaro já havia cogitado o nome de Mendonça para a Suprema Corte, usando a expressão "terrivelmente evangélico" para elogiá-lo.

Bolsonaro quer perdoar pena de envolvidos em chacinas do Carandiru e Eldorado dos Carajás

"Não quero dar detalhes, mas tem casos que, se puder colocar, eu vou colocar. Como os policiais que estiveram no caso do Carandiru, do ônibus 174, Eldorado dos Carajás. E, se tiver alguma pendência ainda, o caso da Ana Hickmann", disse Bolsonaro neste sábado

(Foto: Foto: Reprodução)

247 - O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse neste sábado (31) que pretende conceder indulto para os policiais que participaram dos massacres de Eldorado dos Carajás (Pará) e do Carandiru (São Paulo), além dos envolvidos no episódio do ônibus 174, no Rio de Janeiro.

A conversa com os jornalistas não pode ser gravada nem anotada, e nela Bolsonaro disse que pedirá para os comandantes da Polícia Militar nos estados faça uma lista dos policiais que podem receber o benefício. Durante a semana, ele já havia dito que os nomes que receberiam o indulto seriam "surpreendentes".

Bolsonaro afirmou ainda que se o comandante Ubiratan Guimarães, que comandou a operação que terminou na morte de 111 presos no presídio do Carandiru em outubro de 1992, estivesse vivo, também seria indultado.

"Não quero dar detalhes, mas tem casos que, se puder colocar, eu vou colocar. Como os policiais que estiveram no caso do Carandiru, do ônibus 174, Eldorado dos Carajás. E, se tiver alguma pendência ainda, o caso da Ana Hickmann", disse Bolsonaro.

O pároco que pode virar papa

Um sacerdote da diocese de Roma que se tornou arcebispo, representante do papa e cardeal em três anos, está fazendo muito barulho na cidade que abriga a sede da Igreja Católica.


Papa Francisco e Angelo De Donatis.
Papa Francisco e Angelo De Donatis. (AFP)
Por Mirticeli Medeiros*
Guarde este nome: cardeal Angelo de Donatis. Ele era um pároco de homilias cativantes que reunia uma multidão de fiéis em suas missas. A lendária Basílica de São Marcos, que fica localizada no centro de Roma, conviveu por muitos anos com um sacerdote diferente, cujo carisma recebeu a atenção de ninguém menos que o papa Francisco.
O pontífice argentino, que o consagrou bispo em 2015, confiou-lhe uma tarefa difícil em 2017: ser seu representante na diocese de Roma. O clero local foi consultado antes da nomeação, e a maioria dos membros o descreveu como “uma figura pastoral e misericordiosa, que mantinha uma boa relação com o clero e com o povo romano”. Com o parecer positivo dos padres da dioceseFrancisco não pensou duas vezes. Partindo do princípio que não se consertará a Igreja Universal sem começar pelo quintal de casa, o papa passou a contar com alguém capaz de levar adiante essa empreitada.
Apesar de o papa ser bispo de Roma, não é ele quem administra diretamente a diocese, ao contrário do que muitos pensam. É por isso que ele delega um vigário, alguém que seja o seu braço direito para lidar com questões referentes à vida das paróquias, associações e congregações da cidade eterna.
Hoje, como vigário da diocese de Roma, cardeal Angelo de Donatis tem incomodado bastante. Não somente por causa de sua linha “franciscana” de governar, mas por tentar romper o engessamento da diocese, que é uma herança histórica. Em recentes pronunciamentos, o religioso tem atacado “os clérigos nobres” que se recusam a ir às periferias – as físicas e as existenciais –, além de estender aos fiéis a responsabilidade de humanizar a diocese.
“Quantas vezes as nossas paróquias se apoiam em falsas seguranças de bem-estar pastoral e sobre o ‘sempre foi assim’. Quantas vezes nos fechamos em poucos eleitos, acreditando ter tudo e evitando percorrer as vias da vida cotidiana. Em vez disso, a Igreja deve abrir-se à novidade”, disse ele em mensagem aos fiéis que participam da tradicional peregrinação organizada pela diocese.
De acordo com a vaticanista Franca Giansoldati, que também dedicou um artigo a essa figura que não tem passado despercebida pelos cidadãos da urbe, o tom do discurso do cardeal não só se inspira no papa Francisco. Ela afirma que De Donatis tem sido orientado diretamente pelo papa argentino.
Isso nos leva a crer que o vigário seja o nome escolhido por papa Francisco para integrar a lista dos papáveis do próximo conclave. Apesar de tratar-se de uma dedução da minha parte, não é incomum que um papa, no auge dos seus 82 anos, comece a pensar em um substituto.
Em meio à campanha americana para que o próximo papa siga uma linha contrária à assumida por papa Francisco, há quem lute para o legado do papa atual perdure. O que é positivo, já que uma mudança brusca em relação ao papado gera bastante desconforto no início. E a história já comprovou. Não por acaso, escolheram Bento XVI para encabeçar um papado de transição após o longo pontificado de João Paulo II.
A escolha por Francisco não proveio de uma disputa entre blocos, mas do desejo de fazer sobressair uma figura “antissistema”, uma vez que a Cúria Romana, à época, estava em total descrédito após o escândalo do Vatileaks e a dramática renúncia de Bento XVI. Uma mudança, neste caso, foi mais que necessária. Tiveram que pegar “o papa do fim do mundo”, como o próprio Francisco disse em sua primeira aparição pública.
O quadro que espera o próximo conclave é diferente. A disputa será acirrada, já que dois grupos, com visões de Igreja bastante diferentes, votarão no próximo sucessor de Pedro. O tradicionalismo católico de matriz americana já tem seu escolhido: o cardeal Gerhard Ludwig Müller, uma vez que a impopularidade do cardeal Raymund Leo Burke colocaria tudo a perder. O grupo “franciscano”, do outro lado, não está preocupado com “um nome partidário” – apesar de sinalizar alguns candidatos em potencial –, mas com quem será capaz de sanar a polarização e, ao mesmo tempo, que saiba dar continuidade à revolução no papado que Francisco provocou.
*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre primordialmente o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália, sendo uma das poucas jornalistas brasileiras credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé.

Em vitória de Bolsonaro sobre Moro, superintendente da PF no Rio é exonerado


Presidente confirmou ingerência sobre a Polícia Federal e Sérgio Moro foi obrigado a aceitar decisão para se manter no cargo.


Paz foi selada com a vontade pessoal de Bolsonaro prevelecer sobre gestão de Moro e da PF.
Paz foi selada com a vontade pessoal de Bolsonaro prevelecer sobre gestão de Moro e da PF. (Marcos Corrêa/PR e Pedro França/Senado)
Personagem da crise envolvendo o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da Justiça, Sergio Moro, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, foi exonerado nessa  sexta-feira, 30. Sua saída do cargo foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), em portaria assinada pelo secretário-executivo da pasta, Luiz Pontel.

Saiba mais:


A troca do superintendente do Rio foi antecipada por Bolsonaro, em entrevista a jornalistas, no dia 15, quando alegou "questão de produtividade". A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha "qualquer relação com desempenho".

Na ocasião, a PF informou que o delegado Carlos Henrique Oliveira Sousa, atual chefe do órgão em Pernambuco, será indicado como substituto de Saadi no Rio. A nomeação de Sousa, porém, não foi efetiva ainda.

A PF também não informa qual será o destino de Saadi. Ele negociava uma mudança para Brasília, onde fica a sede da corporação.

Entenda mais

A suspeita da ingerência de Bolsonaro sobre a PF acende suspeitas de que o presidente queira interferir em investigações na região da Barra da Tijuca. A situação gerou indisposição tanto para o corporação e para o ex-juiz Moro.

Na quinta-feira passada (22), Bolsonaro chegou  a dizer que, "se quiser", ele troca o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. E fez questão de deixar claro que esse profissional é subordinado a ele, não ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que o escolheu para o cargo ainda na transição

Após ter seu poder contestado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), o ministro da Justiça, Sergio Moro, defendeu na  terça-feira (27) o trabalho do diretor-geral da Polícia Federal, disse que o presidente tem "compromisso" com o combate à corrupção, mas admitiu "reveses", sem detalhar ao que se referia.

Bolsonaro não gostou nada das declarações de Moro e avisou ao subordinado que "não gosta de receber recado via imprensa". Por fim, prevaleceu a vontade de Bolsonaro e o delegado foi afastado.

Reveses
Desde que assumiu o cargo, Moro sofreu alguns reveses, como a transferência do Conselho de Controle de Administração Financeira (Coaf) para o Ministério da Economia, e o seu pacote anticrime, que reúne iniciativas para endurecer a legislação penal do país, mas não recebeu o respaldo do governo para ver votada com celeridade no Congresso.
O ministro e equipe, contudo, entendem que é preciso seguir o trabalho e que bons resultados podem ser alcançados no combate à criminalidade. Um dos principais auxiliares diz que Moro tem serenidade, equilíbrio e a pasta está unida com ele.
Agência Brasil e DomTotal

Dilma: "A história será implacável com os golpistas"

A ex-presidente Dilma Rousseff usou sua página oficial na internet para relembrar que há exatos três anos, quando o golpe já havia sido consumado, realizou seu último pronunciamento. “O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social”, disse

Dilma impeachment pronunciamento
Dilma impeachment pronunciamento (Foto: Roberto Stuckert Filho)

Da página de Dilma Rousseff na internet   - No dia 31 de agosto de 2016, consumado o afastamento do exercício da Presidência da República, Dilma Rousseff se dirigiu ao povo brasileiro na sala dourada do Palácio da Alvorada, residência oficial onde viveu por seis anos. Foi seu último pronunciamento, em que antevê os retrocessos impostos ao povo brasileiro e denuncia os riscos econômicos e sociais para o país.

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“O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social”, profetizou.

Enquanto no Congresso um tapete vermelho estendido para Michel Temer tomar posse, Dilma se dirigia ao púlpito no Alvorada. Altiva e  confiante, disse que era vítima de um golpe cujo único propósito era implantar uma agenda liberal para a vontade daqueles que foram derrotados nas últimas quatro eleições presidenciais pelo PT.

“Não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores”, disse a presidenta, citando Darcy Ribeiro. “A história será implacável com eles”. Com a voz embargada, despediu-se do povo, mas sem dizer adeus. “Até daqui a pouco”, declarou.

Antes de encerrar o pronunciamento, Dilma alertou para as verdadeiras razões que estavam por trás do impeachment fraudulento, aprovado por 60 votos a 20 pelo Senado. “O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”, disse. Abria-se naquele momento a oportunidade para a ascensão do governo de Jair Bolsonaro.

Naquele dia 31 de agosto, Dilma teve clareza do que estava por vir e vaticinou: “O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido”.


Desde a saída de Dilma do poder, os retrocessos sociais foram se impondo aos brasileiros. Primeiro, com Michel Temer. No governo do MDB, o Congresso aprovou uma Lei de Teto de Gastos, congelando investimentos por 20 anos nas áreas de educação e saúde. Em seguida, os golpistas atentaram contra os direitos dos trabalhadores ao impor uma reforma para desmanchar a proteção social garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O Golpe de 2016 foi o que permitiu a ascensão de Jair Bolsonaro. O candidato foi eleito com o apoio descarado da Lava Jato, encabeçada por Sérgio Moro, atual ministro da Justiça do governo de extrema direita, que não apenas condenou Luiz Inácio Lula da Silva de maneira ilegal e afrontando a Constituição – já que não há provas de corrupção contra o presidente –, como o retirou da disputa presidencial de 2018 para beneficiar Bolsonaro.

A imprensa, que sabia dos riscos da eleição do ex-capitão, expulso do Exército ainda nos anos 80, foi omissa e apoiou indiretamente a chegada de Bolsonaro ao Planalto. Agora, o país assiste à mais nefasta política social adotada em meio século.

O governo ameaça a soberania nacional, ao promover a venda de estatais e entregar a base militar de Alcântara para ser administrada pelos Estados Unidos. Além disso, amplia os cortes de recursos para a saúde e educação, e persegue os movimentos sociais, incluindo sindicatos e ONGs, abrindo espaço para toda sorte de práticas de empresas e interesses estrangeiros.

Eis a íntegra do último pronunciamento de Dilma Rousseff antes de deixar o poder em definitivo. o sonho da justiça”.

“Ao cumprimentar o ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados, presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens de meu País.

Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar.

Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado.

É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo.

É uma inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos. É uma fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis.

Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados.

O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social.

Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment.

Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática.

O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido.

O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência.

Peço às brasileiras e aos brasileiros que me ouçam. Falo aos mais de 54 milhões que votaram em mim em 2014. Falo aos 110 milhões que avalizaram a eleição direta como forma de escolha dos presidentes.

Falo principalmente aos brasileiros que, durante meu governo, superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram a receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da Nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram negados.

A descrença e a mágoa que nos atingem em momentos como esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta.

Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.

Quando o Presidente Lula foi eleito pela primeira vez, em 2003, chegamos ao governo cantando juntos que ninguém devia ter medo de ser feliz. Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso País.

Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.

Espero que saibamos nos unir em defesa de causas comuns a todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou posição política. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia.

Saio da Presidência como entrei: sem ter incorrido em qualquer ato ilícito; sem ter traído qualquer de meus compromissos; com dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo Brasil.

Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me emocionei com o sofrimento humano, me comovi na luta contra a miséria e a fome, combati a desigualdade.

Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles.

Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, o machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar.

Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer ‘até daqui a pouco’.

Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do poeta russo Maiakovski:

Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.

Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça”.

PODCAST: A prática da humildade e simplicidade



Por Pe. Geovane Saraiva

Estadão prevê “apagão” no governo de Bolsonaro e Guedes


Paulo Guedes
Paulo GuedesO jornal O Estado de São Paulo, tradicional veículo da direita paulista, afirma que a proposta de orçamento da União apresentada por Bolsonaro levará as despesas com custeio e investimento ao menor patamar da história.

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Segundo o jornal, diversos ministros já estão reclamando que os recursos previstos para 2020 são insuficientes. O arrocho deve comprometer compra de livros escolares, pagamentos de bolsas de estudos e entrega gratuita de medicamentos, entre outros serviços.

A previsão de investimentos é quase 30% menor que o valor do orçamento atual. O estrangulamento é fruto do teto de gastos e da recessão econômica. É o efeito Bolsonaro, com um pouco da herança maldita de Temer e do golpe de 2016.


Se até o Estadão está prevendo o caos e o desgoverno, imaginem pelo que vão passar os trabalhadores. Na verdade, o tal “apagão” já está acontecendo. Só não se apaga é o fogo das queimadas na Amazônia.

Com informação do Estadão https://www.esmaelmorais.com.br/

Bernie Sanders assume o compromisso de lutar por Lula Livre

Político mais popular dos Estados Unidos, o senador democrata Bernie Sanders reaformou seu compromisso em defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil e disse que isso passa pela liberdade do ex-presidente Lula, que vem sendo mantido como preso político há mais de 500 dias. Sanders também afirmou que Donald Trump apoia o governo autoritário de Jair Bolsonaro

247 – Ao ser questionado durante um ato de campanha pela indicação democrata à presidência dos Estados Unidos, o senador Bernie Sanders, que é hoje o político mais popular em seu país, reafirmou seu compromisso com a luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil e disse que isso passa pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem sendo mantido como preso político há mais de 500 dias no Brasil a partir de uma condenação sem provas articulada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Confira, abaixo, o momento em que Sanders defende Lula Livre:

Senator Bernie Sanders responds to a question regarding the imprisonment of Lula da Silva. @_michaelbrooks @SenSanders

O que são parábolas e por que Jesus falava através delas?

Jesus utilizava esse recurso para expressar verdades espirituais profundas

Nos Evangelhos, Jesus usa parábolas para ensinar seus discípulos. Mas o que são parábolas e por que Jesus as utilizava com tanta frequência?
A Enciclopédia Católica explica: “A palavra parábola (…) significa, em geral, uma comparação ou um paralelo, pelo qual uma coisa é usada para ilustrar outra. É uma semelhança tirada da esfera de incidentes reais, sensíveis ou terrestres, a fim de transmitir um significado ideal, espiritual ou celestial”.
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Por sua natureza, as parábolas têm muitos significado. Muitas vezes, elas não têm uma interpretação específica e estão abertas a ponderações espirituais, mostrando como uma história pode revelar alguma verdade em nossas vidas.
Além disso, Jesus usou parábolas para nos ajudar a penetrar mistérios que eram profundos demais, a fim de que pudéssemos entendê-los completamente. O Reino de Deus foi um dos assuntos mais comuns das parábolas de Jesus, revelando a sua natureza impenetrável e nossa incapacidade de compreendê-lo completamente nesta terra.
As parábolas também são exemplos perfeitos de como os vários sentidos das escrituras são revelados. Cada parábola tem um sentido literal (transmitido pelas palavras das Escrituras e descoberto pela exegese), bem como um sentido espiritual. O sentido espiritual das parábolas pode ainda ser separado em seu sentido alegórico (uma compreensão mais profunda dos eventos, reconhecendo sua importância em Cristo),seu senso moral (como eles devem nos levar a agir com justiça) e seu sentido anagógico (em termos de seu significado eterno, levando-nos a nossa verdadeira pátria).
O Catecismo da Igreja Católica ainda explica que: “parábolas são como espelhos para o homem: ele será solo duro ou boa terra para a palavra? Que utilidade ele fez dos talentos que recebeu? ”(CIC 546)
Se Jesus usasse definições diretas ao descrever o Reino de Deus, pareceria que uma pessoa poderia “controlá-lo” e “compreendê-lo”. Em vez disso, o Reino de Deus deve ser ponderado dentro do coração de alguém, como Maria fez com tudo o que aconteceu em sua vida. Deve ser internalizado e assumir um significado pessoal único, levando ainda mais esse indivíduo a um relacionamento mais profundo com Cristo.
Embora sejamos tentados a querer “os fatos corretos”, Jesus nos convida, através de parábolas, a abraçar o mistério de Deus e a reconhecer nossa incapacidade de compreender completamente quem é Deus e qual é o seu plano para nós.

Carlos Latuff - Quem financia Queiroz?

Dom Helder Câmara: o santo rebelde sempre presente

Arauto da paz, dom Helder pregou a proteção dos pobres e a libertação dos oprimidos, vítimas dos poderes injustos.


Rememorar a vida e a missão de um bispo tão profético é inspirador, para estes nossos tempos em que a profecia se apaga.
Rememorar a vida e a missão de um bispo tão profético é inspirador, para estes nossos tempos em que a profecia se apaga. (Arquivo)
Por Felipe Magalhães Francisco*

No último dia 27 celebramos a memória deste homem verdadeiramente de Deus: dom Helder Câmara. Tão de Deus, que dedicou sua vida ao cuidado e à proteção dos pequenos e humildes. É santo por ter conformado sua vida à vida d’Aquele que tanto amou: Cristo Jesus. Viveu a fé com lucidez e encarnou o Evangelho com criatividade e ousadia. Arauto da paz, pregou a libertação dos encarceramentos que oprimem a pessoa humana, causados pelos poderes injustos. Por seu comprometimento com o Reino de Paz, foi perseguido, fora e dentro da Igreja.

Fazer memória é elemento importante para o cristianismo, que vive da memória de Jesus Cristo, o Ressuscitado. Fazer memória: ressaborear. Na memória que fazemos de dom Helder Câmara, podemos ressaborear o próprio mistério da vida de Jesus. Esse ressaborear abarca uma atualização da experiência. Não apenas relembramos, mas atualizamos a experiência. Celebrar, pois, a vida bendita de Hélder Câmara, nos seus 20 anos de entronização na eternidade de Deus, é ressaborear todos os frutos de sua atuação, que extrapola a Igreja do Brasil, alcançando toda a universalidade do cristianismo.
Além disso, o aspecto memorial nos reporta, também, ao comprometimento evangélico que nós próprios devemos viver. Rememorar a vida e a missão de um bispo tão profético é inspirador, para estes nossos tempos em que a profecia se apaga. É urgente que vivamos com radicalidade o Evangelho de Jesus, para iluminar os momentos sombrios pelos quais estamos passando. A profecia, nascida do Evangelho, revela-se como verdadeira conduta espiritual de homens e mulheres que buscam viver suas vidas, tal como Jesus de Nazaré, o Profeta de Deus. Olhando para a vida de Helder Câmara, encontramos muitos sinais de que sua profecia estava intrinsecamente atrelada à vivência espiritual.
Sem muitas delongas, queremos logo apresentar os três artigos que compõem nosso Dom Especial desta semana, celebrando o legado espiritual que nos deixou dom Helder Câmara, o nosso santo rebelde, que partiu, há vinte anos, para o encontro terno e amoroso com Aquele que sempre o inspirou a viver.
Dom Helder: suas cartas e um habitus de vida é o artigo proposto por Alan Cavalcante, no qual retoma as famosas cartas escritas por dom Helder, como um hábito espiritual que manifesta profunda comunhão com os irmãos e irmãs. No artigo, Alan Cavalcante reflete sobre três pontos importantes, nos escritos de Hélder Câmara, como sinais de Deus: a verdade, a beleza e a bondade.
Paulo Veríssimo, SJ contribui com nossa reflexão, com o artigo O segredo de dom Helder para combater a perseguição política. No texto, Paulo nos ajuda a perceber como a intimidade com Deus, tal como vivida por Hélder Câmara, faz-se necessária para inspirar uma atitude evangélica no cotidiano da vida, na luta contra as injustiças e os outros sinais do anti-Reino.
Ajudando-nos a perceber a atualidade do ministério de dom Helder Câmara, temos o artigo Dom Helder Câmara e o Papa Francisco, de dom Antonio Carlos Cruz Santos, MSC que reflete a respeito da proximidade pastoral – porque eminentemente evangélica – entre os ministérios exercidos pelo então Arcebispo de Olinda-Recife e nosso atual Pontífice, o Bispo de Roma.
Boa leitura e feliz inspiração, na santidade rebelde!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

Sem excluir


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 14,1.7-14, que corresponde ao 22° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.


Aparentemente, Jesus não se sente cômodo. Sente a falta dos seus amigos, os pobres.
Aparentemente, Jesus não se sente cômodo. Sente a falta dos seus amigos, os pobres. (Patrícia Almada/DomTotal)
Por José Antonio Pagola*
Jesus participa de um banquete convidado por um dos principais fariseus da região. É uma refeição especial de sábado, preparada desde a véspera com todo cuidado. Como habitual, os convidados são amigos do anfitrião, fariseus de grande prestígio, doutores da lei, modelo de vida religiosa para todo o povo.
Aparentemente, Jesus não se sente cômodo. Sente a falta dos seus amigos, os pobres. Aquelas pessoas que encontra mendigando nas estradas. Os que nunca são convidados por ninguém. Os que não contam: excluídos da convivência, esquecidos pela religião, desprezados por quase todos.
Antes de se despedir, Jesus dirige-se ao que o convidou. Não para agradecer o banquete, mas para sacudir a sua consciência e convidá-lo a viver com um estilo de vida menos convencional e mais humano: "não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos, porque eles corresponderão convidando-te... Convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; feliz tu porque não te podem pagar; pagarão quando ressuscitem os justos".
Mais uma vez, Jesus esforça-se por humanizar a vida, quebrando, se necessário, esquemas e critérios de atuação que nos podem parecer muito respeitáveis, mas que, no fundo, mostram a nossa resistência em construir esse mundo mais humano e fraterno, querido por Deus.
Normalmente, vivemos instalados num círculo de relações familiares, sociais, políticas ou religiosas com as quais nos ajudamos mutuamente a cuidar dos nossos interesses, deixando de fora aqueles que não nos podem dar nada. Convidamos aqueles que, por sua vez, nos podem convidar.
Escravos de relações interesseiras, não somos conscientes de que o nosso bem-estar só é sustentado pela exclusão daqueles que mais precisam da nossa solidariedade gratuita para poder viver. Temos de escutar os gritos evangélicos do papa Francisco na pequena ilha de Lampedusa: "A cultura do bem-estar torna-nos insensíveis aos gritos dos outros". "Caímos na globalização da indiferença". "Perdemos o sentido de responsabilidade".
Os seguidores de Jesus têm de recordar-se que abrir caminhos para o reino de Deus não consiste em construir uma sociedade mais religiosa ou promover um sistema político alternativo a outros, mas acima de tudo, em gerar e desenvolver relações mais humanas que tornem possível condições de vida que sejam dignas para todos, começando pelos últimos.
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.