quarta-feira, 17 de maio de 2017

O empobrecimento da Teologia

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O controle de Roma sobre a Teologia desde Paulo VI é forte e gerou medo. E sabemos que o medo paralisa o pensamento e bloqueia a criatividade.
Momento de oração no II Congresso Continental de Teologia em 2005.
Momento de oração no II Congresso Continental de Teologia em 2005. (www.amerindiaenlared.org)
Por José María Castillo*

Por lei da vida, a grande geração de teólogos que fizeram possível a renovação teológica trazida pelo Concílio Vaticano II está prestes a se extinguir completamente. Nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu uma nova geração capaz de continuar o trabalho que os grandes teólogos do século XX começaram.

Os estudos bíblicos, alguns trabalhos históricos e alguns esforços com relação à espiritualidade foram áreas de labor teológico que permaneceram com dignidade. Mas mesmo os grandes movimentos, como acontece com a teologia da libertação, dão a impressão de estarem sucumbindo. Oxalá esteja errado.

O que aconteceu na Igreja? O que está acontecendo conosco? Em primeiro lugar, devemos considerar a gravidade do que estamos vivenciando nesta ordem das coisas. Outras áreas do conhecimento não param de crescer: ciência, estudos históricos e sociais, as mais diversas tecnologias, sobretudo, surpreendem-nos cada dia com novas descobertas.

Enquanto a teologia (falo especificamente da teologia católica) permanece firme, implacável e interessando cada dia a menos gente, incapaz de responder às perguntas que tantas pessoas se fazem. Acima de tudo, determinada a manter como intocáveis supostas "verdades", que eu sinceramente não sei como se podem continuar defendendo neste momento.

Para dar alguns exemplos: Como podemos continuar falando de Deus, confiantes de que dizemos o que ele pensa e o que ele quer, sabendo que Deus é o Transcendente, o que, portanto, não está ao nosso alcance? Como é possível falar de Deus sem saber exatamente o que dizemos? Como se pode assegurar que "por um só homem entrou o pecado ao mundo"? Será que vamos apresentar como verdades centrais da nossa fé aquelas coisas que são realmente mitos com mais de quatro mil anos de idade? Que argumentos podem garantir que o pecado de Adão e a redenção do pecado são verdades centrais da nossa fé?

Como é possível defender que a morte de Cristo foi um "sacrifício ritual" que Deus necessitou para nos perdoar dos nossos pecados e nos salvar para o céu? Como se pode dizer às pessoas que o sofrimento, a miséria, a dor e a morte são "bênçãos" que Deus nos manda? Por que continuamos mantendo rituais litúrgicos que têm mais de 1.500 anos de idade e que ninguém entende ou sabe por que eles continuam sendo impostos sobre as pessoas? Realmente acreditamos o que nos é dito em alguns sermões sobre a morte, o purgatório e o inferno?

Enfim, a lista de perguntas estranhas, incríveis e contraditórias seria interminável. Enquanto isso, as igrejas vazias ou com algumas pessoas idosas que frequentam a missa por inércia ou por costume. Ao passo que nossos bispos ficam escandalizados por questões de sexo, eles mesmos calam (ou fazem afirmações tão gerais que correspondem a silêncios cúmplices) a quantidade de abusos de crianças cometidos por clérigos, abusos de poder por parte de manipuladores humilhando alguns, roubando outros e oprimindo aqueles que têm à sua disposição.

Eu insisto que, a partir da minha modesta perspectiva, o problema está na pobre, na muito pobre, teologia que temos. Uma teologia que não leva a sério o mais importante da teologia cristã, que é a "encarnação" de Deus em Jesus. O chamado de Jesus para “segui-lo”. A vida exemplar e o projeto de vida de Jesus. E a grande questão que os crentes teriam que enfrentar: Como é que vamos apresentar o Evangelho de Jesus neste momento e nesta sociedade em que vivemos?

Acabo insistindo em que o controle de Roma sobre a teologia tem sido muito forte, a partir do final do pontificado de Paulo VI até a renúncia papal de Bento XVI. O resultado tem sido abissal: na Igreja, seminários, centros de estudos teológicos, há medo, muito medo. E sabemos que o medo paralisa o pensamento e bloqueia a criatividade.

A organização da Igreja, nesta ordem de coisas, não pode continuar como tem sido tantos anos. O Papa Francisco quer uma "Igreja em saída", aberta, tolerante e criativa. Contudo, seguiremos em frente com este projeto? Infelizmente, na Igreja há muitos homens com bastões de mando, que não estão dispostos a soltar o poder, do modo como eles o exercem. Então, se assim for, vamos em frente! Que em breve teremos acabado com o pouco que nos resta.

Religión Digital

Tradução - Ramón Lara

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