terça-feira, 21 de março de 2017

A tumba de Jesus Cristo ressuscita

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Terminam as obras de restauração do memorial da Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém.
Visitantes, ante a tumba de Jesucristo, hoje em Jerusalém.
Visitantes, ante a tumba de Jesucristo, hoje em Jerusalém. (Ronen Zvulun/ Reuters)
Por Lourdes Baeza*

A tumba de Jesus Cristo na basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, já reluz em todo o seu esplendor. É a primeira vez em séculos que se pode ver esse memorial – uma pequena estrutura, semelhante a um templo em miniatura – erguido em 1810 para proteger o local do sepultamento. Ficaram no passado a pedra enegrecida pelas velas dos peregrinos e a estrutura de ferro colocada pelos britânicos na década de 1930 para evitar que o local desmoronasse, depois de ficar seriamente prejudicado por um terremoto.

A equipe multidisciplinar de mais de 50 pessoas, dirigida por Antonia Moropoulou, professora da Universidade Politécnica de Atenas, concluiu o trabalho de limpeza e consolidação da edícula. Depois do seu trabalho, afloraram os tons rosa e bege da pedra, assim como as inscrições e decorações originais, até agora praticamente ocultas. “O maior desafio era fazer com que a intervenção realmente contribuísse para a estabilidade do monumento. Já podemos dizer que a estrutura está firmemente consolidada”, disse nesta segunda-feira a professora Moropoulou junto à obra restaurada.

Ao lado de vários dos seus colaboradores, ela mostrava orgulhosa o trabalho que durante quase nove meses a levou a praticamente morar dentro do recinto do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém. Nesse período, os especialistas retiraram grande parte das lajes que recobriam o monumento, injetaram material de reforço nas paredes, limparam-no e então recolocaram as lajes com um sistema de pinos de titânio para impedir o risco de desmoronamento ou de deformação da estrutura. “Trabalhamos dia e noite para cumprir os prazos. O projeto está completo, mas a pesquisa continua”, disse Moropoulou.

Durante os trabalhos de restauração – a intervenção mais importante já realizada na tumba, segundo os especialistas –, eles descobriram que a umidade do subsolo é o outro grande inimigo a vencer. “Será necessário intervir, porque o sistema de túneis sob a edícula não tem uma boa drenagem e pode causar problemas futuros. Por enquanto, uma parte da equipe vai continuar observando o subsolo, e em função de sua evolução decidiremos o que será necessário”, acrescentou a professora.

Inicialmente ela contava com um orçamento equivalente a 10 milhões de reais, mas a equipe já gastou 15% a mais do que o previsto. A cifra final, contando o monitoramento e as pesquisas que ainda serão feitas, se aproximará de 20 milhões. Parte dos recursos foi cedida pelas congregações religiosas que custodiam o Santo Sepulcro – a Igreja Greco-Ortodoxa, a Católica Romana e a Armênia –, e também pela Jordânia, a Autoridade Palestina e dezenas de empresas e doadores anônimos.

Todos concordam sem hesitação que o momento mais emotivo destes meses de trabalho foi, em outubro, a retirada da lápide do sepulcro onde a tradição cristã diz que Jesus foi sepultado, para examinar o estado da pedra. “Pudemos constatar que há elementos que datam da época do imperador Constantino, mas também que as várias intervenções e restaurações das que falam os diários de peregrinos e os textos históricos dos séculos XIV e XVI realmente ocorreram. É história viva”, disse Moropoulou, visivelmente emocionada.

Uma história que a equipe quis preservar para inaugurar o que chamou de “uma nova era” para este local sagrado do cristianismo. “Estamos orgulhosos de que as três principais congregações religiosas tenham sido capazes de se colocar de acordo para tornar isto realidade. Elas demonstraram que realmente são guardiãs da tumba e mandaram uma mensagem muito forte de unidade, que deveria ser um exemplo global”, afirmou a professora. Na opinião dela, respeito imperou.

Agora, diz, só falta que esse bom clima permaneça e que se fomente uma nova cultura na qual sejam abolidas práticas como a queima de velas ao redor da edícula, pois elas foram nocivas para a pedra. “Precisamos de uma nova cultura de peregrinos, mas isso não se pode impor, deve surgir do respeito”, disse.

O padre católico franciscano Eugenio Alliata, especialista em arqueologia cristã, também presente na apresentação da edícula restaurada, confirma que foram retiradas as estruturas ao redor das quais os peregrinos colocavam velas. “Esperemos que isso impeça que voltem a colocar círios perto da pedra e que possamos preservá-la, embora naturalmente continuarão existindo outros lugares onde os fiéis poderão acendê-las”, afirmou Alliata.

Os grandes tapumes que durante meses mantiveram a edícula oculta já estão sendo retirados. Os operários se apressam para que tudo esteja desocupado e limpo antes da cerimônia de quarta-feira, quando será oficialmente inaugurada esta nova era na história do Santo Sepulcro.

El País

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