sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Americanos diferem de posturas do Vaticano

O discurso compassivo e tolerante do papa Francisco encontrou uma enorme caixa de ressonância entre os católicos americanos, aqueles que no entanto diferem frequentemente da linha oficial do Vaticano em temas delicados como homossexualidade e aborto.
"Parece muito mais um carpinteiro de Nazaré do que um imperador romano. Claramente merece o tipo de notoriedade, aceitação e a condição de astro que alcançou", disse Thomas Groome, professor de teologia em Boston College.
Contudo, a expectativa com a chegada de Francisco não esconde a disparidade de opiniões em um país predominantemente protestante que teve em toda sua história apenas um presidente católico: John Kennedy.
Inclusive, durante a campanha que o levou à presidência em 1960, Kennedy deixou claro: "Não falo por minha Igreja em assuntos públicos, e minha Igreja não fala por mim".
"Quem sou eu para julgar?"
Durante sua visita aos Estados Unidos, Francisco participará na Filadélfia do Encontro Mundial das Famílias, um espaço de debates sobre temas nos quais o pontífice recentemente adiantou posições que geraram intensa discussão nos círculos religiosos.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Pew mostrou que para 39% dos católicos americanos a homossexualidade não é um comportamento reprovável e 66% consideram aceitável que casais gays tenham filhos.
Embora a ortodoxia vaticana condene a homossexualidade, Francisco afirmou recentemente que "se uma pessoa é gay, busca ao Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?".
Na visão de Francisco, o catecismo católico "explica e diz que não se deve marginalizar essas pessoas e que devem ser integradas na sociedade".
Da mesma forma, segundo a mesma pesquisa um terço dos católicos americanos consideram que as mulheres deveriam poder submeter-se a um aborto, algo que a Igreja condena energicamente de todas as suas formas e que considera um pecado grave que leva a excomunhão.
Perdão
No entanto, Francisco entreabriu uma porta a uma nova abordagem deste tema, ao pedir a sacerdotes que estejam preparados para perdoar.
Em uma carta a Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Francisco sugeriu aos sacerdotes que absolvam "o pecado do aborto aquelas que tenham o praticado e que estejam arrependidos de coração".
"O perdão de Deus não pode ser negado a quem tenha se arrependido", declarou o papa nesta carta.
A pesquisa do Pew apontou também que 75% dos católicos americanos defendem o uso de controles artificiais de natalidade, condenados pela Igreja católica romana.
Contudo, 62% opinam que os sacerdotes deveriam poder se casar, e para 59% a igreja deveria aceitar mulheres sacerdotisas.
Francisco aterrizará nos Estados Unidos depois de anunciar importantes reformas para simplificar o complicado processo de anulação de um matrimônio religioso.
Recentemente, o papa inclusive considerou que em determinadas circunstâncias o divórcio era necessário para proteger as crianças de ambientes potencialmente violentos, em outra tomada de posição que surpreendeu a todos.
Para Groome, contudo, os liberais americanos parecem considerar que o papa tem um discurso avançado, mas que na realidade não há uma mudança profunda na postura da Igreja nestes temas.
AFP

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