domingo, 21 de junho de 2015

Caminhos para a paz

É muito perigoso pensar que através das armas conseguiremos paz.

Por Dom Adelar Baruffi*
“Mostra-me, Senhor os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas.” (Sl 25,4). Neste Ano da Paz, proclamado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,queremos dizer ao mundo que “somos da paz.” Mas, que paz queremos? “É possível percorrer o caminho da paz?” (Papa Francisco). A paz é um caminho conscientemente escolhido, desejado e planejado. Ela não é espontânea. Ela é “artesanal” (EG 244). Ela também não consiste somente em atividades e momentos, mas num projeto de vida e de sociedade, construído com educação, paciência e perseverança. É preciso aprender os caminhos para a paz.
Caminhos que não são da paz trazem violência física, psicológica, sexual, entre grupos sociais e entre classes sociais. São caminhos que amedrontam as pessoas, que não possibilitam que as pessoas sejam livres e felizes. Tiram a alegria de viver. Causam insegurança e medo. É fruto de preconceitos, racismo, fundamentalismos e, sobretudo, da exclusão social produzida pela falta de condições econômicas e educação. Importa encontrar outros caminhos, com base ética no respeito e no diálogo, na complementaridade das diferenças, na compaixão e misericórdia, não no individualismo e no interesse próprio. O outro não é um rival que devo vencer, aniquilar! O outro é um dom de Deus, um mistério insondável que me visita.
Compreende-se que algumas pessoas, acuadas pelo medo e a insegurança, no desejo de resolver logo as mazelas sociais que foram sendo construídas por caminhos equivocados, queiram superar a violência com mais violência. Não, a violência não se vence com violência! É muito perigoso pensar que através das armas conseguiremos paz. Trata-se de uma falsa segurança. O outro será um potencial inimigo do qual devo me defender ou combater. Outro caminho equivocado para a paz é a redução da maioridade penal. Temos uma superlotação do sistema carcerário, o quarto maior do mundo, que não consegue educar os apenados para reintegrarem-se à sociedade. Além disso, a lei prevê medidas socioeducativas para os menores infratores. Estas medidas, sim, devem ser postas em prática.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou” (Jo, 14,27), disse Jesus. Somos da paz porque seguimos Jesus Cristo, que “é a nossa paz” (Ef 2,14). O cristão sabe que, em Cristo foi agraciado pela paz e, por isso, será um construtor da paz. Para nós, a pazé dom e compromisso. Dom de Deus, em Cristo, para a humanidade. Ele é o “Príncipe da paz” (Is 9,5), anunciado pelo profeta Isaías, como o mensageiro que anuncia a paz (cf. Is 52,7). O cristão é um reconciliado, pacificado, pelo seu vínculo batismal com Cristo Redentor. Deverá ser no mundo sinal de comunhão e fraternidade.
O caminho da paz é possível. É preciso acreditar. Sendo “a paz fruto da justiça” (cf. Is 32,7), quanto mais igualitária for a sociedade, menos violência teremos. Além disso, como cristãos que caminhamos na estrada de Jesus, aprendemos a lógica do serviço ao invés do domínio (cf. Lc 22, 24-27), a perdoar e a ter misericórdia (Mt 18, 21-35; Lc 15,11-31) e a responder à violência com o amor (cf. Mt 5,39). Diz nosso Papa: “É hora de saber como projetar, em uma cultura que privilegie o diálogo como forma de encontro, a busca de consensos e de acordos, mas sem a separar da preocupação por uma sociedade justa, capaz de memória e sem exclusões” (EG 239). Saber dialogar respeitosamente é condição para a construção da paz. Este caminho passa também pelas relações familiares.
CNBB 18-06-2015.
*Dom Adelar Baruffi é bispo de Cruz Alta (RS).

Nenhum comentário:

Postar um comentário