terça-feira, 22 de abril de 2014

Papa tem oposição na Cúria Romana


Segundo cardeal, Francisco enfrenta oposição daqueles que lamentam perder privilégios.
Por Joshua J. McElwee
Cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga

O papa Francisco está tentando construir uma "nova forma de ser Igreja" para os católicos romanos de maneira semelhante àquela que São Francisco de Assis disse ter ouvido de Deus para reconstruí-la durante o século XIII, declarou Oscar Rodríguez Maradiaga, cardeal que é um dos assessores mais próximos do pontífice. 

“Há um novo conceito de Igreja aqui”, que envolve a forma como o papa está governando o Vaticano, afirmou o cardeal hondurenho no último dia 8 em St. Petersburg, na Flórida. “Há uma nova forma de pensar, incluindo um novo jeito de governança dentro da Igreja”.

No entanto, disse Rodríguez, enquanto de um lado Francisco é querido pelas pessoas de todo o mundo, por outro ele enfrenta oposição na Cúria Romana. 

"Precisamos estar preparados, já que esta bela porém estranha popularidade está começando a consolidar adesões, mas também despertando oposição não na velha Cúria, e sim em alguns que lamentam perder privilégios no tratamento e conforto que tinham", declarou o religioso. 

"Expressões como ´O que poderá estar fingindo este argentino?´, ou a expressão de um cardeal bem-conhecido que deixou escapar a frase: ´Cometemos um erro’, podem ser ouvidas”, disse Rodríguez, fazendo aparentemente referência a um cardeal arrependido de escolher Jorge Bergoglio como papa.

Rodríguez, arcebispo da capital hondurenha Tegucigalpa, também é o coordenador do Conselho dos Cardeais, que Francisco nomeou no ano passado para “estudar um projeto de revisão” da burocracia vaticana. 

O cardeal estava falando durante um encontro dos provinciais da Ordem dos Frades Menores, uma das muitas ordens religiosas que têm origem em São Francisco. O encontro foi organizado pela Conferência dos Países de Língua Inglesa da Ordem dos Frades Menores, que representa frades dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Irlanda, Lituânia e Malta. 

O padre franciscano Thomas Washburn, secretário executivo da Conferência, forneceu ao National Catholic Reporter um texto com o discurso de Rodríguez. Via email Washburn disse que os franciscanos convidaram Rodríguez para falar no encontro semestral pelo fato de ele ser membro de uma das ordens com províncias sediadas em Nova York. 

Embora o cardeal seja membro de uma outra ordem religiosa, os Salesianos de Dom Bosco, referia-se a si mesmo durante o discurso como sendo franciscano e até vestiu o hábito marrom tradicional deles. 

Rodríguez deu início à sua fala mencionando que São Francisco teria tido uma aparição de Cristo em que este dizia a ele para “reconstruir minha Igreja”. Rodríguez falou que o santo do século XIII “causou grande escândalo” entre os líderes da Igreja que queriam “manter seus privilégios”. 

Ao afirmar que o papa está criando uma “nova forma de ser Igreja”, Rodríguez disse que Francisco “se sente chamado a construir” uma Igreja que, entre outras coisas, esteja: 

• “a serviço deste mundo ao ser fiel a Cristo e a seu Evangelho”;

• “liberta de toda a espiritualidade mundana”;

• “liberta do risco de se preocupar consigo mesma, de se tornar [uma instituição] da classe média, de se fechar em si mesma, de ser uma igreja clerical”;

• que seja capaz de “oferecer-se como um espaço aberto no qual todos nós possamos nos encontrar e reconhecer uns aos outros porque há lugar para o diálogo, a diversidade e acolhida nela”;

• e uma Igreja que dê “justa atenção e importância às mulheres tanto na sociedade quanto em suas próprias instituições”. 

Rodríguez terminou sua fala relacionando diretamente a mensagem de Deus dada a São Francisco com o atual pontífice. “Hoje, assim como no passado, o Senhor chamou o papa Francisco e pediu-lhe exatamente a mesma coisa que pediu a Assis”, declarou Rodríguez. 

Quando perguntado sobre o que mesmo Rodríguez quis dizer quanto falava que o papa Francisco está reconstruindo a Igreja, Washburn disse ser através de gestos como o lavar os pés de prisioneiros e abraçar as pessoas deficientes após suas audiências na Praça de São Pedro. 

“Estes momentos não são apenas para se mostrar ou algo assim; eles são gestos reais com a força, poder e autoridade de encíclicas, talvez com ainda mais poder do que estas”, disse Washburn. 

Em seu discurso, Rodríguez também falou aos franciscanos para assumirem certas prioridades em seus ministérios, incluindo:

• ser missionários junto daqueles que não estão familiarizados com a Igreja ou com os ensinamentos cristãos;

• trabalhar para os pobres;

• manifestar-se contra a violência e destruição do meio ambiente;

• e dialogar com as outras religiões, especialmente com o Islã.
National Catholic Reporter, 21-04-2014.

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