terça-feira, 29 de abril de 2014

O espaço das futilidades na vida

Falar de futilidade é acenar para um mundo mágico que não consegue trazer felicidade.

Por Dom Paulo Mendes Peixoto*
As pessoas são envolvidas por tantas necessidades fúteis que elas dificultam uma vida feliz. Nas palavras do papa Francisco, "quem tem menos em que se apegar, tem mais facilidade para amar". Entendemos isso quando nos damos conta de que o amor verdadeiro depende de desapego, de sair da gente mesmo, indo ao encontro do outro, que deve ser um "outro eu".
As futilidades revelam a primazia da cultura consumista. Tudo passa, mas não podemos perder o sentido de viver. Nisto está a essência da Páscoa, da passagem da vida temporal para a eternidade e ao encontro definitivo com Deus. Todos nós vamos morrer para o que é passageiro, deixando para trás tudo, menos aquilo que conquistamos com a prática da honestidade e do amor sem limites.
Estou falando destas coisas por causa da sensibilidade do momento. Cristo ressuscitou a partir de um caminho de morte, a partir daquilo que vai acontecer com todos os mortais. A morte, aos nossos olhos, é sempre uma perda e todos nós fazemos essa experiência. Mas é triste morrer com as mãos vazias, sem a prática da caridade e do respeito pela vida do irmão.
Em Uberaba, sentimos a morte de Dom Aloísio Roque Oppermann, acontecida neste dia 27 de abril, nosso bispo emérito. Louvamos a Deus pelo bem que ele fez à Igreja; no mesmo dia senti a morte de Dom José Moreira Bastos Neto, 61 anos de idade, bispo de Três Lagoas e meu ex-colega de Seminário e de ordenação sacerdotal. Também prestou relevantes trabalhos para o bem do povo.
Falar de futilidade na vida é acenar para um mundo mágico, sensacionalista e insaciável. É o mundo da tecnologia, do avanço da modernidade, mas que não consegue trazer plena felicidade. No dizer popular, “faz a cabeça das pessoas” e ficamos vulneráveis, perdendo a riqueza trazida pelo Cristo ressuscitado.
O papa francisco fica admirado com uma ciência e tecnologia avançadas, mas que não conseguem diminuir a pobreza e a marginalização no mundo. Sinal de que o progresso não está a favor da amplitude da vida.
CNBB, 28-04-2014.
*Dom Paulo Mendes Peixoto é arcebispo de Uberaba (MG).

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