segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Aroeira - Rock in Lula!

Janot : esforço de Dallagnol para enganar STF e perseguir Lula

Em livro, Janot revela esforço de Dallagnol para enganar STF e perseguir Lula
No livro sobre os bastidores de sua passagem à frente da PGR, Rodrigo Janot revela reunião tensa com procuradores da Lava Jato, que o pressionavam para denunciar Lula a todo custo. “Eles queriam que eu denunciasse imediatamente o ex-presidente Lula por organização criminosa, nem que para isso tivesse que deixar em segundo plano outras denúncias”
30 de setembro de 2019, 17:39 h
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Do PT no Senado - O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot confessou no livro “Nada menos que tudo”, onde relata histórias de sua passagem pela chefia do Ministério Público Federal, que em setembro de 2016 foi procurado pelo chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e outros integrantes da República de Curitiba com o objetivo de pressioná-lo a dar prioridade nas denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele conta que se negou a atender ao pedido porque não poderia desobedecer a uma decisão anterior do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato, que morreria depois, num acidente trágico de avião em 19 de janeiro de 2017.

Segundo Janot, Dallagnol e outros integrantes da Lava Jato – os procuradores Januário Paludo, Roberson Pozzobon, Antônio Carlos Welter e Júlio Carlos Motta Noronha – o pressionaram a oferecer denúncia contra Lula por organização criminosa pouco depois deles terem acusado formalmente o ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Antes, durante a fase inicial do caso do tríplex, Teori havia autorizado o uso de documentos obtidos no inquérito sobre organização criminosa relacionada ao PT com a força-tarefa.

“Eles haviam me pedido para ter acesso ao material e eu prontamente atendera. Na decisão, o ministro deixara bem claro que eles poderiam usar os documentos, mas não poderiam tratar de organização criminosa, porque o caso já era alvo de um inquérito no STF, o qual tinha como relator o próprio Teori Zavascki e cujas investigações eram conduzidas por mim”, conta Janot. Os procuradores ignoraram a decisão do ministro do STF e, no famoso power point apresentado à imprensa com alarde colocaram Lula no centro da organização criminosa, conforme o desejo de Deltan Dallagnol, mesmo diante de frágeis evidências.

A revelação de Janot reforça as denúncias da Vaza Jato, trazidas à tona pelo site The Intercept Brasil e outros veículos da grande imprensa, de que os procuradores montaram um conluio junto com ex-juiz Sérgio Moro para condenar Lula no caso do tríplex do Guarujá. Nos autos do processo, não havia provas e nem evidências apontando que o imóvel pertencia a Lula e teria sido entregue pela OAS como parte de uma propina oferecida pela empreiteira. A delação do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro foi sendo moldada à medida que os procuradores o pressionavam a confessar para obter o benefício da redução da pena. Com idas e vindas, até que o delator incluísse Lula, mesmo sem nada que mostrasse em que o ex-presidente teria beneficiado a empreiteira para receber em troca o apartamento como favorecimento da construtora. Lula acabou condenado por Sérgio Moro por “fato indeterminado”.

“Eles queriam que eu denunciasse imediatamente o ex-presidente Lula por organização criminosa, nem que para isso tivesse que deixar em segundo plano outras denúncias em estágio mais avançado”, relata Janot no capítulo 15 do seu livro. “‘Precisamos que você inverta a ordem das denúncias e coloque a do PT primeiro’, disse Dallagnol, logo no início da reunião”. No livro, o ex-procurador rechaçou o pedido: “‘Não, eu não vou inverter. Vou seguir o meu critério. A que estiver mais evoluída vai na frente. Não tem razão para eu mudar essa ordem. Por que eu deveria fazer isso?’, respondi”.

Paludo disse, então, que Janot teria que denunciar o PT e Lula logo. Isso porque, se não tomasse tal decisão, a denúncia apresentada pela força-tarefa contra o ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro ficaria descoberta. “Pela lei, a acusação por lavagem depende de um crime antecedente, no caso, organização criminosa”, conta o ex-procurador-geral. “Ou seja, eu teria que acusar o ex-presidente e outros políticos do PT com foro no Supremo Tribunal Federal em Brasília para dar lastro à denúncia apresentada por eles ao juiz Sergio Moro em Curitiba. Isso era o que daria a base jurídica para o crime de lavagem imputado a Lula”.

Rodrigo Janot relata: “Ora, e o que Dallagnol fez? Sem qualquer consulta prévia a mim ou à minha equipe, acusou Lula de lavar dinheiro desviado de uma organização criminosa por ele chefiada. Lula era o ‘grande general’, o ‘comandante máximo da organização criminosa’, como o procurador dizia na entrevista coletiva convocada para explicar, diante de um PowerPoint, a denúncia contra o ex-presidente. No PowerPoint, tudo convergia para Lula, que seria chefe de uma organização criminosa formada por deputados, senadores e outros políticos com foro no STF”.

Em 15 de setembro, Dallagnol deu a famosa coletiva em que não aponta provas, mas externa suas convicções. “Provas são pedaços da realidade, que geram convicção sobre um determinado fato ou hipótese. Todas essas informações e todas essas provas analisadas como num quebra-cabeça permitem formar seguramente, formar seguramente a figura de Lula no comando do esquema criminoso identificado na Lava Jato”, disse o chefe da força-tarefa da Lava Jato. Na mesma entrevista, Pozzebon confirmou: “Precisamos dizer desde já que, em se tratando da lavagem de dinheiro, ou seja, em se tratando de uma tentativa de manter as aparências de licitude, não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário no papel do apartamento”.

A tensa reunião é descrita pelo ex-procurador-geral com diálogos duros trocados entre os colegas de Ministério Público. “‘Se você não fizer a denúncia, a gente perde a lavagem’, reforçou Dallagnol, logo depois da fala de Paludo. ‘Eu não vou fazer isso!’, repeti. ‘Você está querendo interferir no nosso trabalho!’, exclamou Dallagnol, aparentemente irritado. ‘Eu não quero interferir no trabalho de vocês. Ao que parece, vocês é que querem interferir no meu. Quando houve o compartilhamento da prova, o ministro Teori excluiu expressamente a possibilidade de vocês investigarem e denunciarem o Lula por crime de organização criminosa, que seguia no Supremo. E vocês fizeram isso. Vocês desobedeceram à ordem do ministro e colocaram como crime precedente organização criminosa. Eu não tenho o que fazer com isso’, eu disse”.

https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/em-livro-janot-revela-esforco-de-dallagnol-para-enganar-stf-e-perseguir-lula

Lula: "Não aceito barganhar minha liberdade"

Em carta escrita nesta segunda-feira (30), o ex-presidente Lula voltou a rechaçar o regime semiaberto. "Quero que saibam que não aceito barganhar meus direitos e minha liberdade. Já demonstrei que são flasas as acusações que me fizeram. São eles e não eu que estão presos às mentiras que contaram ao Brasil e ao mundo", disse ele
30 de setembro de 2019, 16:31 h
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247 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou nesta segunda-feira (30) sobre o pedido da Lava Jato para que ele progrida para o regime semiaberto. 

Em carta divulgada pelo Twitter, Lula diz que os procuradores da Lava Jato deveriam pedir desculpas ao povo brasileiro e aos milhões de desempregados, pelos prejuízos causados. 

Lula voltou a rechaçar o regime semiaberto. "Quero que saibam que não aceito barganhar meus direitos e minha liberdade. Já demonstrei que são flasas as acusações que me fizeram. São eles e não eu que estão presos às mentiras que contaram ao Brasil e ao mundo", disse Lula. 

O ex-presidente defendeu também que agora cabe ao Supremo Tribunal Federal julgar a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, para que "haja Justiça independente e imparcial". 

Leia, abaixo, a carta de Lula:

Gilmar Mendes ao vivo no programa Roda Viva



O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), será o entrevistado no programa Roda Viva do próximo dia 07 de outubro (segunda-feira que vem).


O magistrado da corte suprema deverá relatar sua experiência de “quase morte” envolvendo o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, bem como as decisões do tribunal acerca da Lava Jato.

O Blog do Esmael vai transmitir ao vivo a entrevista para o Brasil e o mundo.

O Roda Viva completou 33 anos no ar na TV Cultura, no último domingo (29/9), e se consolida como um dos principais programas de entrevistas da televisão brasileira.

Comandado pela jornalista Daniela Lima, colunista da Folha, o Roda Viva desta segunda-feira (30) irá entrevistar o chef Jefferson Rueda, ganhador de uma estrela do cobiçado Guia Michelin e proprietário de um dos 50 melhores restaurantes do mundo.

Povos do Ártico e do Pacífico são vítimas da mudança climática

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Relatório ressalta que a mudança climática representa um golpe 'na identidade cultural dos habitantes do Ártico', especialmente os povos indígenas.


Ártico começa a mostrar sinais de sofrimento com mudanças climáticas.
Ártico começa a mostrar sinais de sofrimento com mudanças climáticas. (Flickr)
"É uma parte de nós que vamos perder", afirma Kabay Tamu. Quando o mar inundar sua pequena ilha de corais, sua terra e cultura correm o risco de desaparecer, assim como outras em todo planeta.
Kabay Tamu, de 28 anos, é um morador de Warraber, pequena ilha de quase 40 hectares e de menos de 300 habitantes entre a Austrália e Papua Nova Guiné.
"Vemos claramente os efeitos da mudança climática, o aumento do nível do mar, a erosão que leva nossa terra, com a qual temos uma profunda conexão cultural e espiritual", relata Tamu por telefone à reportagem.
O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado na quarta-feira (25), destaca a possibilidade de que algumas ilhas se tornem inabitáveis. Não necessariamente porque ficarão debaixo d'água, e sim porque as repetidas inundações contaminarão a água doce.
"Diante desta perspectiva sombria, cada um tem uma escolha pessoal", destaca Kabay Tamu.
Para ele e sua família, partir não é uma opção. "Perderíamos nossa cultura", justifica, ao mencionar as terras sagradas onde seu povo, que vive na ilha há milhares de anos, pratica diversas cerimônias e rituais.
A questão dos deslocamentos de moradores relacionada com a mudança climática é abordada nos aspectos prático, político, econômico e logístico. "Mas no que diz respeito ao aumento do nível do mar, devemos reconhecer que é uma questão totalmente diferente", destaca Bina Desai, do Observatório de Situações de Deslocamento Interno (IDMC).
"Não há retorno. É uma realocação, não apenas física, mas também cultural e espiritual", prossegue, ao citar a resistência de alguns à ideia de "partir sem seus antepassados" enterrados no local. O desafio é antecipar o possível deslocamento de populações inteiras "sem perturbar a identidade de sua cultura", afirma.
É mais fácil falar do que fazer, porém, quando esta identidade está profundamente arraigada na relação com o meio ambiente imediato, como alegam muitos povos indígenas, tanto nas pequenas ilhas do Pacífico como nas zonas geladas do Ártico.
Povo forte
"O povo sami pertence ao Sapmi (Lapônia) tanto como o Sapmi pertence ao povo sami", explica Jannie Staffansson, do Sami Council, que representa este povo do norte da Escandinávia.
Os sami já observam os danos do aquecimento global em seu território, onde a neve desaparece, e as renas têm dificuldades para encontrar comida. "Parte o coração observar os animais lutando", desabafa Staffansson.
"Se perdermos as renas, perderemos grande parte da nossa cultura", completa.
O mesmo acontece do outro lado do Oceano Ártico, com os inuit do Alasca e do Canadá. "As comunidades inuit querem manter seu estilo de vida e a vitalidade de uma cultura baseada na caça", insiste Dalee Sambo Dorough, membro do Inuit Circumpolar Council, que representa os 160 mil inuit.
Quando são perguntados sobre a possibilidade de partir, para ela a resposta é óbvia. "De maneira alguma. O Ártico é nossa pátria", afirma.
Ela admite que será necessário transferir parte dos habitantes, já que o gelo provavelmente cederá, mas aposta na adaptação dos inuit à adversidade. "Nosso povo é muito forte, conseguimos sobreviver no Ártico", aponta.
O mais recente relatório do IPCC ressalta que a mudança climática representa um golpe "na identidade cultural dos habitantes do Ártico", especialmente os povos indígenas. O documento vai além e também menciona o perigo iminente para os valores culturais e para a beleza das paisagens, vítimas do degelo em zonas de montanhas.
A cultura não está necessariamente ligada à terra e à natureza. Anders Levermann, do Instituto do Clima de Potsdam, questiona o futuro das megalópoles costeiras ameaçadas a longo prazo pelo aumento do nível do mar.
"Hong Kong é hoje um farol da democracia na China; Nova Orleans, um verdadeiro bastião cultural; Nova York, um lugar importante para os negócios. Hamburgo, Calcutá, Xangai... Perderemos todas estas cidades se não reduzirmos as emissões de CO2", alerta.
AFP

Luta de Lula tem muito de Mandela, de Gandhi e dos grandes líderes da história

Aloizio Mercadante
Aloizio Mercadante é economista, professor licenciado da PUC-SP e Unicamp, foi Deputado Federal e Senador pelo PT (SP), Ministro Chefe da Casa Civil, Ministro da Educação e Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação

"Qualquer decisão dele, tem que ser firme e serena. Esse é só mais um capítulo da incrível presença dele na história. Não deve passar ódio, revanchismo ou raiva. É preciso superar tudo isso e olhar para história, para os jovens que virão", diz Aloizio Mercadante, que lembra o exemplo de outros grandes líderes que foram presos, como Nelson Mandela e Mahatma Gandhi
30 de setembro de 2019, 12:58 h
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(Foto: Paulo Pinto | Divulgação)

Em fevereiro de 1985, quando propuseram a Nelson Mandela, depois de mais de 20 anos preso, uma libertação da prisão, desde que ele abdicasse de seu projeto político, Mandela com serenidade disse que já tinha chegado até ali e que não iria abandonar o compromisso com o povo dele e com o Congresso Nacional Africano.  

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Em declaração, por meio de sua filha Zindzi, afirmou: “"que liberdade a mim está sendo oferecida enquanto a organização do povo [o CNA] permanece proibida? Somente homens livres podem negociar. Um prisioneiro não pode entrar em contratos".

Como regista a história, Mandela ficou mais 5 anos preso, depois, saiu da cadeia para ser eleito presidente da República e acabar com o apartheid racial na África do Sul.  

Nunca é a mesma história, mas a luta de Lula tem muito de Mandela, de Gandhi e das grandes lideranças da história. Qualquer decisão dele, que também será a minha, tem que ser firme e serena. Esse é só mais um capítulo da incrível presença dele na história. Não deve passar ódio, revanchismo ou raiva. É preciso superar tudo isso e olhar para história, para os jovens que virão.  

O fundamental é que nada vai modificar o compromisso dele de provar sua inocência e de reconquistar sua liberdade plena, essa é minha sugestão. E que o exemplo dele sirva para este país respeitar os direitos individuais e coletivos e reconstruir a Justiça, o diálogo e a convivência pacífica, em um país dilacerado.  

Mas, como dizia sua mãe: filho teime! Em casa ou na prisão, o Lula Livre seguirá e as multidões deste padecido país querem ele de volta. Jamais vamos deixar de lutar juntos por essa bandeira, que já é uma página sofrida, mas digna da luta por democracia e por justiça. Lula é a síntese desse povo e já está na história como um dos gigantes da luta pela democracia, pela justiça social e pela soberania.

Delegado da PF denuncia: Lava Jato destruiu provas em inquérito


Delegado da Polícia Federal apresentou à Justiça um documento com mensagens que mostram tentativa de destruição de provas da Lava Jato por colegas que atuaram na operação
30 de setembro de 2019, 09:10 h Atualizado em 30 de setembro de 2019, 09:31
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Policial federal carrega uma bolsa ao chegar à sede da Polícia Federal em São Paulo
Policial federal carrega uma bolsa ao chegar à sede da Polícia Federal em São Paulo (Foto: REUTERS/Nacho Doce)

247 - A defesa de Mario Renato Castanheira Fanton, delegado da Polícia Federal denunciado sob acusação de vazar informações sigilosas, apresentou à Justiça um documento com mensagens que indicam claramente tentativa de destruição de provas da Lava Jato por colegas que atuaram na operação. A reportagem é do jornal Folha de S.Paulo. 

São anexadas capturas de tela de WhatsApp que a defesa diz ser de um conflito a respeito do assunto que ocorreu em 2015 entre Fanton e outro delegado, Maurício Moscardi Grillo.  

Nas mensagens atribuídas a Moscardi, ele pede a Fanton que um depoimento da doleira Nelma Kodama não seja anexado em um inquérito que investigava policiais desafetos da operação. ​Moscardi também teria solicitado que esse depoimento fosse refeito com “pitacos” dele. As mensagens, diz a defesa, foram submetidas à perícia.

A reportagem ainda informa que o documento apresentado pelos advogados é uma manifestação preliminar, protocolada na 14ª Vara Federal de Curitiba em setembro deste ano, em resposta à acusação de desvio de função por vazamento de dados. A denúncia ainda não foi analisada pela Justiça e é sigilosa.

Os advogados de Fanton afirmam que seu cliente não cometeu nenhum desvio funcional e que tentou alertar o procurador Januário Paludo, da força-tarefa do Ministério Público Federal, sobre suspeitas de irregularidades que teriam sido cometidas pelos delegados da Lava Jato. Também é anexada uma captura de tela de conversa com Paludo em que é feito esse alerta.

Representante da defesa de Fanton, o advogado José Augusto Marcondes de Moura Jr. afirma que irá oficiar à OAB para que acompanhe os casos relativos ao seu cliente, informa a reportagem de José Marques. 

Em 2015, quando as conversas teriam ocorrido, Fanton conduzia um inquérito que tinha como objetivo apurar se havia um conluio entre delegados da Polícia Federal do Paraná e advogados para produzir um dossiê contrário à Lava Jato. 

Elza Soares no Rock in Rio: “Chega de perseguir negros e pobres”

A cantora Elza Soares protestou neste domingo (29) durante seu show no Rock in Rio contra o genocídio de negros e pobres no País.


A cantora falou durante sua apresentação das mortes de Ágatha Félix, Marielle Franco e Evaldo Rosa e pediu chega.

“Ágatha Félix tinha 8 anos, o músico Evaldo Rosa levou 80 tiros. Marielle lutava pelos pobres, pelos negros, pelos pretos, por nosso povo. Chega!. Chega de perseguir os negros, chega de perseguir os pobres”, protestou.

domingo, 29 de setembro de 2019

Colunista do Estadão vê “mocinhos” da Lava Jato virarem bandidos


Sabe a reviravolta naquele filme que, no final, o mocinho era o bandido e o bandido era o mocinho? Pois bem, é assim que a colunista do Estadão, Eliane Cantanhêde, vê a Lava Jato.

Ela avalia que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, depois das “flechadas” mal disparadas contra Michel Temer fez M… e sentou em cima com a confissão de que cogitou assassinar a tiros o ministro Gilmar Mendes, do STF.

Cantanhêde enumera os últimos revezes da Lava Jato no Supremo:

1- Proibição do uso de dados do antigo Coaf sem autorização judicial;

2- Anulação da condenação de Aldemir Bendine, por erro processual do ex-juiz Sérgio Moro.

3- Entendimento que o delatado deve ser ouvido sempre após o delator, haja vista os princípios do contraditório e da ampla defesa.


Mas a colunista do Estadão ao prevê mais sabugadas nos mocinhos que estão virando bandidos:

a) Proibição de prisão com condenação em segunda instância;

b) Suspeição do então juiz Sérgio Moro;

c) Revisão ou anulação de sentenças e ações contra Lula; e

d) Aprovação da lei de abuso de autoridade.

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“Os mocinhos da Lava Jato vão sendo transformados em bandidos, os réus viram vítimas”, lamenta a jornalista. E, acrescenta, “os réus viram vítimas.”

Sim, exatamente. A força-tarefa Lava Jato não respeitou a Constituição Federal. Era um tribunal de exceção, fora da lei, que cometia e ainda comete crimes em nome de suposto combate à corrupção.

Segundo reportagens da #VazaJato, lideradas pelo site The Intercept Brasil, procuradores da força-tarefa e o ex-juiz Sérgio Moro cometiam toda sorte de corrupção para perseguir e encarcerar seus adversários políticos e ideológicos.

A Lava Jato também tinha um braço S/A, voltado aos negócios, segundo os arquivos. Movimentou-se milhões em palestras com a chancela do Ministério Público Federal, uma espécie de corrupção, denunciou o ministro Gilmar Mendes.

Já nostálgica, Cantanhêde afirma que “Gilmar Mendes passou esses anos todos como Judas nacional, por enfrentar Janot, Dallagnol, Moro e o ‘lavajatismo’. Hoje, os Judas passam a ser Janot e Dallagnol. Gilmar está na posição de ‘quem ri por último ri melhor'”.

Por fim, a moça do Estadão se despede do Titanic: “A Lava Jato afunda, mas a história saberá calibrar erros e acertos, reconhecendo o enorme bem que fez ao País.”

PS: a Lava Jato deixa como legado 38,6 milhões de trabalhadores jogados na informalidade; 13 milhões de desempregados; ódio e divisão dos brasileiros; e, de lambuja, Jair Bolsonaro.

Greta Thunberg, anjo ou demônio das mudanças climáticas


Os jovens a escolheram como porta-voz das preocupações com as mudanças climáticas.


Greta Thunberg durante a Cúpula de Ação Climática da ONU, na sede das Nações Unidas em Nova York.
Greta Thunberg durante a Cúpula de Ação Climática da ONU, na sede das Nações Unidas em Nova York. (AFP)
A sueca Greta Thunberg carrega a paixão de uma geração que decidiu enfrentar o monstro das mudanças climáticas, mas também sofre com o desprezo daqueles que a veem como uma marionete messiânica da consciência ecológica.
Aos 16 anos, a adolescente é o rosto e a voz de uma juventude preocupada, que recicla lixo, limpa as praias, evita carne e aviões e vota em partidos ambientais nas eleições.
Há pouco mais de um ano, no início do ano letivo de 2018, Greta deixou sua mochila em casa e passou a se manifestar toda sexta-feira em frente ao parlamento sueco em Estocolmo com uma placa feita a mão para tentar sensibilizar os deputados sobre a emergência climática.
Sua "greve escolar", transmitida pelas redes sociais, atravessou fronteiras e promoveu o movimento global "Sexta-feiras para o futuro". O fenômeno "Greta" se tornou planetário.
Suas contas no Twitter e no Instagram têm mais de seis milhões de assinantes.
Os jovens a escolheram como porta-voz das preocupações com as mudanças climáticas, e seu tom é claramente acusatório.
"Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias", disse ela, com lágrimas nos olhos, aos líderes mundiais reunidos para a cúpula climática em Nova York, na segunda-feira, evento do qual participou após atravessar o Atlântico em um veleiro "zero carbono".
A adolescente e sua causa mobilizam milhões de jovens nas ruas, fascinados por sua determinação.
Para seus críticos, Greta é um oráculo vergonhoso, cujas "utopias mortíferas" expõem as neuroses de uma adolescente autista (ela foi diagnosticada com Síndrome de Asperger), manipulada pelos agentes do "capitalismo verde" e por seus pais.
Essas reações são porque ela "é poderosa", diz Severn Cullis-Suzuki, uma bióloga canadense que tinha 12 anos quando desempenhou um papel semelhante durante a Cúpula da Terra, organizada no Rio de Janeiro em 1992.
"Ela pede uma revolução. É por isso que eles tentam silenciá-la", afirma Cullis-Suzuki.
Milagre, ou ciborgue
Quando se trata de Greta, nascida em 3 de janeiro de 2003 no país menos "religioso ou espiritual" do planeta, referências místicas, mágicas ou clínicas são recorrentes.
O fotógrafo Yann Arthus-Bertrand a vê como "um milagre", e o ex-presidente americano Barack Obama, como a personificação de uma juventude que "muda o mundo".
Outros a veem como "um ciborgue", nas palavras do filósofo francês Michel Onfray, ou "uma doente mental" que cedeu à "histeria climática", segundo o comentarista conservador Michael Knowles, da Fox News.
Em abril, o papa Francisco recebeu a jovem em Roma por ocasião do segundo aniversário da Laudato si (Louvado seja), a segunda encíclica do pontífice. A legenda "Aos cuidados da casa de todos" ecoa as palavras de Greta: "a casa está pegando fogo".
Segundo alguns críticos, ela utiliza uma semântica mágica que desfoca a mensagem científica, prejudica a inovação tecnológica e oculta alguns desafios ecológicos.
"A questão climática ofuscou todos os outros problemas ambientais, como abuso de animais, indústria de carne, ou pesticidas", diz a cientista política Katarina Barrling, da Universidade de Uppsala.
Nesse contexto, as vozes que questionam as posições de Greta são imediatamente suspeitas de "ceticismo climático", acrescenta a especialista.
Ela também é acusada de gerar ansiedade em vez de produzir um discurso racional.
No Fórum Econômico de Davos, ela disse: "Quero que entrem em pânico, que sintam o medo que sinto todos os dias". Na semana passada, falando ao congresso dos EUA, a adolescente moderou o discurso: "Quero que vocês ouçam os cientistas".
Pensamento crítico
O dedo que acusa os adultos incomoda no exterior, mas não tanto na Suécia.
Tudo nela - a irreverência, o espírito de desobediência e as tranças - lembra o personagem de Pippi Meialonga, criado pela autora sueca Astrid Lindgren, um paradigma da criança liberta da tutela dos adultos e que aprende por si mesma como é o mundo.
"Não é por acaso que Greta é sueca. Acho que ela não existiria sem Pippi, ou Lisbeth Salander", diz a ensaísta sueca Elisabeth Asbrink, referindo-se à especialista em computadores com um dragão tatuado nas costas, personagem dos romances da saga Millennium.
"Durante décadas, o currículo escolar sueco priorizou a formação do pensamento crítico dos alunos, e não o acúmulo de conhecimento", destaca Barrling.
Mas a pergunta que muitos se fazem é: para que serve Greta?
Para defender os direitos humanos, disse a ONG Anistia Internacional, que concedeu a ela o prêmio de "embaixadora da consciência". Seu nome também é mencionado como um possível candidato ao Prêmio Nobel da Paz de 2019.
O Comitê Nobel da Paz já concedeu prêmios com cores ambientais no passado - como Al Gore, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), ou o ativista queniano Wangari Maathai -, vinculando-os a questões democráticas.
A contribuição de Greta ainda deve ser demonstrada, afirma o diretor do Oslo Peace Research Institute (Prio), Henrik Urdal.
"O vínculo entre paz e aquecimento global é baseado em alegações que a pesquisa não apoia. Ela deu um impulso impressionante às questões da mudança climática, mas a pergunta permanece: é relevante para o Prêmio? O Prêmio Nobel da Paz?", questiona.
AFP

Papa: não podemos não chorar, não podemos não reagir diante destes pecados

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"Como cristãos não podemos permanecer indiferentes diante do drama das velhas e novas pobrezas, das solidões mais sombrias, do desprezo e da discriminação de quem não pertence ao “nosso” grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o coração anestesiado, diante da miséria de tantos inocentes. Não podemos não chorar. Não podemos não reagir. Não podemos não chorar, não podemos não reagir. Peçamos ao Senhor a graça de chorar, aquele choro que converte o coração diante destes pecados", disse o Santo Padre em sua homilia.
Cidade do Vaticano

Na manhã deste domingo, 29, o Papa Francisco presidiu a Celebração Eucarística na Praça São Pedro, por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Eis a sua homilia:

"O Salmo Responsorial recordou-nos que o Senhor defende os estrangeiros, juntamente com as viúvas e os órfãos do povo. O salmista faz explícita menção daquelas categorias que são particularmente vulneráveis, frequentemente esquecidas e expostas a abusos. Os estrangeiros, as viúvas e os órfãos são os que não têm direitos, os excluídos, os marginalizados, pelos quais o Senhor tem uma especial solicitude. Por isso, Deus pede aos Israelitas que tenham para com eles uma atenção especial.

No livro do Êxodo, o Senhor adverte o povo que não maltrate de nenhuma forma as viúvas e os órfãos, porque Ele escuta o seu clamor (cf. 22,23). A mesma advertência é retomada duas vezes no Deuteronómio (cf. 24,10; 27,19), com o acrescento dos estrangeiros entre as categorias protegidas. E a razão de tal advertência é claramente explicada no mesmo livro: o Deus de Israel é Aquele que «faz justiça ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário» (10,18). Esta preocupação amorosa para com os menos privilegiados é apresentada como um traço distintivo do Deus de Israel, e é também exigida, como um dever moral, a todos quantos querem pertencer ao seu povo.

Eis a razão pela qual devemos ter uma atenção especial para com os estrangeiros, como também pelas viúvas, os órfãos e todos os descartados dos nossos dias. Na Mensagem para este 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado repete-se como um refrão o tema: “Não se trata apenas de migrantes”. E é verdade: não se trata apenas de estrangeiros, trata-se de todos os habitantes das periferias existenciais que, juntamente com os migrantes e os refugiados, são vítimas da cultura do descarte. O Senhor pede-nos que ponhamos em prática a caridade para com eles; pede-nos que restauremos a sua humanidade, juntamente com a nossa, sem excluir ninguém, sem deixar ninguém de fora.

Mas, simultaneamente ao exercício da caridade, o Senhor pede-nos que reflitamos sobre as injustiças que geram exclusão, em particular sobre os privilégios de uns poucos que, para se manterem, resultam em detrimento de muitos. «O mundo atual vai-se tornando, dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos. Os países em vias de desenvolvimento continuam a ser depauperados dos seus melhores recursos naturais e humanos em benefício de poucos mercados privilegiados. As guerras abatem-se apenas sobre algumas regiões do mundo, enquanto as armas para as fazer são produzidas e vendidas noutras regiões, que depois não querem ocupar-se dos refugiados causados por tais conflitos. Quem sofre as consequências são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, a quem se impede de sentar-se à mesa deixando-lhe as “migalhas” do banquete» (Mensagem para o 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado).

É neste sentido que se compreendem as duras palavras do profeta Amós proclamadas na primeira Leitura (6,1.4-7). Ai dos despreocupados e dos que vivem comodamente em Sião, que não se preocupam com a ruína do povo de Deus, visível aos olhos de todos. Eles não se apercebem do colapso de Israel, pois estão demasiado ocupados a garantir uma boa vida, comidas deliciosas e bebidas refinadas. É impressionante como, à distância de 28 séculos, estas advertências conservam intacta a sua atualidade. Também hoje, na verdade, «a cultura do bem-estar […] nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, […] leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença» (Homilia em Lampedusa, 8 de julho de 2013).

No final, corremos o risco de nos tornarmos, também nós, como aquele homem rico de que nos fala o Evangelho, o qual não se importa com o pobre Lázaro «coberto de chagas [e que] bem desejava […] saciar-se com o que caía da mesa» (Lc 16,20-21). Demasiado absorvido a comprar vestidos elegantes e a organizar esplêndidos banquetes, o rico da parábola não vê os sofrimentos de Lázaro. E também nós, demasiado ocupados a preservar o nosso bem-estar, corremos o risco de não nos darmos conta do irmão e da irmã em dificuldade.

Contudo, como cristãos não podemos permanecer indiferentes diante do drama das velhas e novas pobrezas, das solidões mais sombrias, do desprezo e da discriminação de quem não pertence ao “nosso” grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o coração anestesiado, diante da miséria de tantos inocentes. Não podemos não chorar. Não podemos não reagir.

Se queremos ser homens e mulheres de Deus, como pede São Paulo a Timóteo, devemos «guardar o mandamento […] sem mancha e acima de toda a censura» (1Tm 6,14); e o mandamento é amar a Deus e amar o próximo. Não se podem separar! E amar o próximo como a nós mesmos quer dizer também comprometer-se seriamente pela construção de um mundo mais justo, onde todos tenham acesso aos bens da terra, onde todos tenham a possibilidade de se realizar como pessoas e como famílias, onde a todos sejam garantidos os direitos fundamentais e a dignidade.

Amar o próximo significa sentir compaixão pelo sofrimento dos irmãos e irmãs, aproximar-se, tocar as suas feridas, partilhar as suas histórias, para manifestar concretamente a ternura de Deus para com eles. Significa fazer-se próximo de todos os viajantes maltratados e abandonados pelas estradas do mundo, para aliviar os seus ferimentos e os conduzir ao local de hospedagem mais próximo, onde se possa dar resposta às suas necessidades.

Este santo mandamento foi dado por Deus ao seu povo, e foi selado com o sangue do seu Filho Jesus, para que seja fonte de bênção para toda a humanidade. Para que juntos possamos empenhar-nos na construção da família humana segundo o projeto originário, revelado em Jesus Cristo: todos irmãos, filhos do único Pai.

Confiamos hoje ao amor materno de Maria, Nossa Senhora da Estrada, os migrantes e os refugiados, juntamente com os habitantes das periferias do mundo e quantos se fazem seus companheiros de viagem."

Quebrar a indiferença

domtotal.com
Reflexão sobre o Evangelho do 16º domingo do Tempo Comum - Lc 16,19-31
A nossa primeira tarefa é quebrar a indiferença. Resistirmos a continuar desfrutando de um bem-estar vazio de compaixão.
A nossa primeira tarefa é quebrar a indiferença. Resistirmos a continuar desfrutando de um bem-estar vazio de compaixão. (Clem Onojeghuo/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*
Religión Digital

Segundo Lucas, quando Jesus gritou: “não se pode servir a Deus e ao dinheiro”, alguns fariseus que o ouviam e eram amigos do dinheiro “riram-se dele”. Jesus não recua. De imediato, conta uma parábola comovente para que aqueles que vivem escravos da riqueza possam abrir os olhos.

Jesus descreve em poucas palavras uma situação dramática. Um homem rico e um pobre mendigo que vivem perto um do outro estão separados pelo abismo que há entre a vida de opulência insultante do rico e a miséria extrema do pobre.

A história descreve os dois personagens, enfatizando fortemente o contraste entre os dois. O homem rico está vestido de púrpura e linho fino, o corpo do pobre está coberto de feridas. O rico banqueteia-se esplendidamente não apenas nos dias de festa, mas diariamente; o pobre está deitado à porta do rico, incapaz de levar à boca o que cai da mesa do homem rico. Apenas os cachorros que procuram algo no lixo vêm lamber suas feridas.

Não se fala em nenhum momento que o homem rico tenha explorado o pobre ou que o tenha maltratado ou desprezado. Pode-se dizer que não fez nada de mal. No entanto, toda a sua vida é desumana, pois só vive para seu próprio bem-estar. O seu coração é de pedra. Ignora totalmente o pobre. Tem-no à sua frente, mas não o vê. Está ali mesmo, doente, faminto e abandonado, mas não consegue atravessar a porta para tomar conta dele.

Não nos enganemos. Jesus não está denunciando apenas a situação da Galileia dos anos trinta. Está tentando sacudir a consciência daqueles que se acostumaram a viver na abundância, enquanto morando próximo à nossa porta, apenas a algumas horas de distância, há povos inteiros vivendo e morrendo na mais absoluta miséria.

É desumano nos fecharmos na nossa “sociedade do bem-estar”, ignorando totalmente essa outra “sociedade do mal-estar”. É cruel continuar a alimentar essa “secreta ilusão de inocência” que nos permite viver com a consciência tranquila, pensando que a culpa é de todos e de ninguém.

A nossa primeira tarefa é quebrar a indiferença. Resistirmos a continuar desfrutando de um bem-estar vazio de compaixão. Não continuar a nos isolarmos mentalmente para deslocar a miséria e a fome que há no mundo em direção a um afastamento abstrato, para poder assim viver sem ouvir nenhum clamor, gemido ou choro.

O Evangelho pode ajudar-nos a viver vigilantes, sem nos tornarmos cada vez mais insensíveis aos sofrimentos dos abandonados, sem perder o sentido da responsabilidade fraterna e sem permanecer passivos quando podemos agir.


Publicado originalmente em Religión Digital e traduzido pelo IHU.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

Família e namorada aguardam decisão de Lula sobre regime semiaberto


A família e a namorada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguardam com ansiedade a decisão do líder petista sobre o pedido de progressão para o regime semiaberto. Lula resiste e se manifestou nas redes sociais que só sai com o reconhecimento pleno de sua inocência.

Nesta sexta-feira (27) procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato assinaram documento que pede progressão de regime para que o ex-presidente passe para o semiaberto. Os procuradores alegaram que Lula cumpre o requisito de bom comportamento. Para a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, trata-se de uma manobra dos procuradores da Lava Jato.

Lula anunciou que conversará sobre o assunto com seus advogados na segunda-feira (30).

A namorada de Lula, Rosangela da Silva, a “Janja”, disse, por meio da assessoria do ex-presidente, que “não está pressionando para que ele aceite a domiciliar e apoia a decisão que ele tomar”.

*Com informações da coluna Painel da Folha e do Site do PT Nacional

Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael


REDAÇÃO CENTRAL, 29 Set. 19 / 05:00 am (ACI).- A Igreja celebra neste dia 29 de setembro a festa dos santos arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, que aparecem na Bíblia com missões importantes dadas por Deus.

São Miguel em hebreu significa “Quem como Deus” e é um dos principais anjos. Seu nome era o grito de guerra dos anjos bons na batalha combatida no céu contra o inimigo e seus seguidores.

Segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus.  É chamado pelo profeta Daniel, no Antigo Testamento, de príncipe protetor dos judeus. No Novo Testamento, é citado na carta de São Judas e no Livro do Apocalipse. Aparece como protetor dos filhos de Deus e de Sua Igreja.

São Gabriel significa “Fortaleza de Deus”. Teve a missão muito importante de anunciar a Nossa Senhora que ela seria a Mãe do Salvador.

Segundo o profeta Daniel (IX, 21), foi Gabriel quem anunciou o tempo da vinda do Messias; quem apareceu a Zacarias “estando de pé à direita do altar do incenso” (Lc 1, 10-19), para lhe dar a conhecer o futuro nascimento do Precursor; e, finalmente, o arcanjo como embaixador de Deus, foi enviado a Maria, em Nazaré para proclamar o mistério da Encarnação. É ele o portador de uma das orações mais populares e queridas do cristianismo, a Ave Maria.

São Rafael quer dizer “Medicina de Deus” ou “Deus obrou a saúde”. É o arcanjo amigo dos caminhantes, médico dos doentes, auxílio dos perseguidos.


No Livro de Tobias é narrado o momento que quando Tobit, pai de Tobias e homem de grande caridade, passou pela provação da cegueira e todos lhe questionavam a fé, juntamente quando Sara era atormentada por um demônio que matava seus maridos nas núpcias. Então, ambos rezaram a Deus e foram ouvidos; e foi Rafael que foi enviado para lhes prestar socorro.

São Rafael tomou a forma humana, fez-se chamar Azarías e acompanhou Tobias em sua viagem, ajudando-o em suas dificuldades, guiando-o por todo o caminho e auxiliando-o a encontrar uma esposa da mesma linhagem. Então, o Arcanjo explicou ao jovem Tobias que poderia se casar com Sara sem perigo algum. E, por fim, ao retornarem esclareceu como ele poderia curar o pai da cegueira. No livro de Tobias o próprio arcanjo se descreve como “um dos sete que estão na presença do Senhor”.

Para celebrar esta data, recordamos a oração aos Santos Arcanjos:

Ajudai-nos, ó grandes santos, irmãos nossos, que sois servos como nós diante de Deus. Defendei-nos de nós mesmos, de nossa covardia e tibieza, de nosso egoísmo e de nossa ambição, de nossa inveja e desconfiança, de nossa avidez em procurar a saciedade, a boa vida e a estima.

Desatai as algemas do pecado e do apego a tudo o que passa. Desvendai os nossos olhos que nós mesmos fechamos para não precisar ver as necessidades de nosso próximos e poder, assim, ocupar-nos de nós mesmos numa tranquila autocomplacência. Colocai em nosso coração o espinho da santa ansiedade de Deus para que não deixemos de procurá-lo com ardor, contrição e amor.

Contemplai em nós o Sangue do Senhor, que Ele derramou por nossa causa.  Contemplai em nós as lágrimas de vossa Rainha, que ela derramou sobre nós.

Contemplai em nós a pobre, desbotada, arruinada imagem de Deus, comparando-a com a imagem íntegra que deveríamos ser Sua vontade e Seu amor.

Ajudai-nos a conhecer Deus, a adorá-Lo, a amá-Lo e a servir-Lhe. Ajudai-nos no combate contra os poderes das trevas que, traiçoeiramente, nos envolvem e nos afligem.

Ajudai-nos para que nenhum de nós se perca e para que, um dia, estejamos todos jubilosamente reunidos na eterna bem-aventurança. Amém.

São Miguel, assisti-nos com vossos santos anjos;
Ajudai-nos e rogai por nós.

São Rafael, assisti-nos com vossos santos anjos;
Ajudai-nos e rogai por nós.

São Gabriel, assisti-nos com vossos santos anjos;
Ajudai-nos e rogai por nós.

sábado, 28 de setembro de 2019

PODCAST: São Francisco de Assis missionário



Por Pe. Geovane Saraiva

Papa abre Mês Missionário Extraordinário com a oração das Vésperas

Vésperas e Te Deum na Basílica de São Pedro
Vésperas e Te Deum na Basílica de São Pedro  (Vatican Media)
O Mês Missionário Extraordinário foi convocado pelo Papa Francisco em 22 de outubro de 2017, após a Oração do Angelus, com o objetivo de “nutrir o ardor da atividade evangelizadora da Igreja ad gentes”. A celebração também servirá para festejar o centenário da Carta Apostólica do Papa Bento XV "Maximum Illud", sobre o trabalho desenvolvido pelos missionários no mundo.
Padre Arnaldo Rodrigues - Cidade do Vaticano
Terça-feira, 1º de outubro de 2019, memória de Santa Teresa do Menino Jesus, na Basílica Vaticana, às 18 horas, o Santo Padre o Papa Francisco, presidirá a oração litúrgica das Vésperas por ocasião do início do Mês Missionário.

O Mês Missionário Extraordinário foi convocado pelo Papa Francisco em 22 de outubro de 2017 após a Oração do Angelus, com o objetivo de “nutrir o ardor da atividade evangelizadora da Igreja ad gentes”. Disse o Santo Padre na ocasião:

Ouça e compartilhe!
“Hoje celebra-se o Dia Missionário Mundial, sobre o tema “A missão no coração da Igreja”. Exorto todos a viver o júbilo da missão dando testemunho do Evangelho nos ambientes onde cada qual vive e trabalha. Ao mesmo tempo, somos chamados a ajudar afetuosamente, com a assistência concreta e a oração, os missionários que partem para anunciar Cristo a quantos ainda não o conhecem. Recordo também a minha intenção de promover um Mês Missionário Extraordinário em outubro de 2019, com a finalidade de nutrir o ardor da atividade evangelizadora da Igreja ad gentes. No dia em que se comemora a memória litúrgica de São João Paulo II, Papa missionário, confiemos à sua intercessão a missão da Igreja no mundo.”

A celebração também servirá para festejar o centenário da Carta Apostólica do Papa Bento XV Maximum Illud, sobre o trabalho desenvolvido pelos missionários no mundo.

O mês de outubro é caracterizado pela Igreja Católica por propor o impulso nas atividades missionárias. Começa com a memória litúrgica de Santa Teresinha do Menino Jesus, 01/10, Padroeira das Missões.

Incialmente o mês de outubro foi escolhido também como mês das missões para recordar o descobrimento do continente americano, segundo as POM (Pontifícias Obras Missionarias). 

Todo cristão deve ter consciência da necessidade de evangelizar e anunciar o nome de Cristo.

“ Hoje em dia há muita gente que não conhece a Jesus Cristo. Por isso é tão urgente a missão ad gentes, na qual todos os membros da Igreja estão chamados a participar, já que a Igreja é missionária por natureza: a Igreja nasceu 'em saída. (Papa Francisco) ”

O mês de outubro também é dedicado ao Rosário, pelo dia de Nossa Senhora do Rosário (07/10). Nos recorda que todo missionário, bem como toda a Igreja, tem Maria a Mãe de Deus, como auxiliadora e companheira na missão.

Para as Vésperas do dia 1/10, Monsenhor Guido Marini, Mestre de Cerimônia Litúrgicas do Summo Pontificie, enviou uma notificação, por mandado do próprio Santo Padre:

Aos Patriarcas, Cardeais, Arcebispos, Bispos e todos aqueles que, de acordo com o Motu Proprio "Pontificalis Domus", compõem a Capela Pontifícia e desejam participar na celebração litúrgica, usando o seu próprio hábito coral, é pedido que estejam às 17h30 no Altar de Confissão, para ocuparem o lugar que lhes foi indicado pelas Cerimônias Pontifícias.

Os que desejarem participar da orações das Vésperas devem enviar o pedido de bilhetes para a Prefeitura da Casa Pontifícia, pelo seguinte e-mail: spagnolo@pontificalisdomus.va

Flávio Dino: esdrúxula época, o fim do ‘vale-tudo

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ACABOU DELTAN: FLÁVIO DINO DECRETA O FIM DO APOGEU DO LAVAJATISMO

Escrito por Portal Click Política 27 de setembro de 2019

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), usou as redes para comentar sobre a solicitação enviada pelos procuradores da Lava Jato ao ministro Edson Fachin de relaxamento da prisão do ex-presidente Lula, para que ele ingresse no regime semi-aberto. Segundo Dino, isso demonstra uma derrota da Lava Jato e é um imperativo legal.

“Período do ‘vale-tudo’ jurídico, iniciado com o impeachment inconstitucional, parece estar no fim, após espantosa confissão do ex-PGR”, publicou Dino, que também é ex-juiz federal

Para Dino, ainda vai durar alguns anos o que ele chama de “vale-tudo jurídico”, mas hoje ele não vive seu apogeu. “Claro que o fim do ‘vale-tudo’ jurídico ainda vai demorar alguns anos. Mas já viveu seu apogeu. Após essa  creio que teses como ‘Direito excepcional’ e outros ‘terraplanismos’ jurídicos serão abandonados”, disse. “Espero que o constitucionalismo vença as trevas”, completou.

O ex-magistrado alegou ainda que a mudança de Lula para o regime semi-aberto não é favor ou escolha, mas um imperativo. “Lula terá parte dos seus direitos restaurados. Como vinha sublinhando, progressão de regime é imperativo legal, não faculdade ou favor”, declarou.

Haddad: Bacurau

O ex-candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, escreve neste sábado (28) sobre o filme brasileiro Bacarau.

Haddad jura que seu artigo, originalmente publicado na Folha, não é um spoiler.

“Bacurau não é um filme sobre imperialismo, mas sobre a nossa barbárie”, sentencia.

Leia a íntegra do texto:

Bacurau

Fernando Haddad*


Bacurau é um filme que deve ser visto a contrapelo (atenção, este texto contém spoiler).

A leitura simplória de que o filme retrata metaforicamente uma aliança do imperialismo ianque com a burguesia nacional sulista para exterminar os pobres do nordeste o equipara, com sinal trocado, aos filmes produzidos rotineiramente por Hollywood, muitos, aliás, de boa qualidade.

Não é o caso, porém. Bacurau não é um western de esquerda periférica.

A chave para sua compreensão encontra-se numa ideia fora do lugar: o “museu”.

Bacurau é um vilarejo minúsculo onde há crianças e adultos. Os jovens deixaram o lugar para estudar fora, “até no exterior”, conta, de início, o professor da comunidade.

Os costumes são bastante liberais. As mulheres assumem protagonismo, inclusive sexual. Drogas psicotrópicas são aceitas por todos.

Em meio à precariedade material e ao habitual desleixo do poder público, os moradores vivem sem grandes contradições uma vida que lhes parece aceitável.

Um grupo de turistas, liderado por um tipo fascistoide teuto-americano, chega a Bacurau em busca de adrenalina.

A proposta é simples: em vez de caçar grandes mamíferos nas savanas do Quênia, por que não caçar afrodescendentes no sertão pernambucano?

A aventura é gamificada. Um drone interativo orienta os participantes. Há regras e um sistema de pontuação.

No decorrer do jogo, os sulistas colaboracionistas descobrem que, por não serem suficientemente brancos, seu inevitável extermínio conta pontos. Antes disso, desdenham de uma possível visita ao “museu”, que poderia ativar-lhes a intuição, poupando-lhes a vida.

O game, contudo, depois dos primeiros abates, termina mal para os players.

A reação local se organiza a partir do “museu”, ou melhor, a partir da mobilização de um passado recente de extrema violência, suspenso por uma utopia matriarcal que literalmente tirou a cidade do mapa.

Mas, as armas estão lá, bem como a munição. A memória da violência está viva nas fotos e apetrechos.

Os matadores profissionais de outro tempo, um deles de sugestivo apelido “Pacote”, apresentam-se, dispostos à ação.

Logo começam as decapitações. Todos os turistas são mortos, inclusive com a ajuda do líder forasteiro. Uma moradora pede para que as marcas de sangue nas paredes das casas sejam preservadas. O “museu” ganha novos cômodos.

O líder forasteiro tem a vida poupada. O fascismo nunca morre. Em Bacurau, ele é enjaulado numa cela subterrânea, não sem antes prometer ressurgir.

Bacurau não é um filme sobre imperialismo, mas sobre a nossa barbárie.

*Fernando Haddad é professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo. Artigo originalmente publicado na Folha.

Igreja de São Francisco: uma das joias da arquitetura católica de Portugal

Em estilo barroco, a igreja foi decorada com cerca de 300 kg de pó de ouro

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Obarroco, um estilo arquitetônico originado em Roma no século XVII, é conhecido por suas suntuosas decorações. Quando se trata de interiores de igrejas, um grande exemplo é a Igreja de São Francisco, no Porto, em Portugal. Ela foi decorada com quase 300 quilos de pó de ouro.
Listada como Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1996, a “Igreja do Convento de São Francisco”, foi fundada por frades franciscanos no século XIII como um edifício muito mais modesto. Mas, após vários incêndios, foi redesenhada de acordo com o estilo gótico, com interiores em madeira. Foi assim até os séculos XVII e XVIII, quando as partes internas das igrejas começaram a ser decorados em estilo barroco em toda a Europa.
Os melhores entalhadores e ourives de Portugal foram contratados para o trabalho, que levou décadas para ser concluído. Cada uma das três naves internas, o telhado, pilares e caixilhos das janelas, receberam gravuras elaboradas e revestidas com pó de ouro. O nítido contraste entre seu exterior gótico sóbrio e suas naves internas brilhantes faz da Igreja de São Francisco um dos exemplos mais intrigantes da arquitetura católica no país.
Ao entrar na igreja, os visitantes podem seguir uma dinâmica descobrir alguns de seus melhores elementos decorativos. No lado esquerdo, fica a capela funerária de Luis Alavare de Sousa, um nobre local. A capela está decorada com um dos afrescos mais antigos de Portugal, representando a Virgem da Rosa. No centro, encontra-se uma estátua de granito policromada de São Francisco, datada do século XIII.
De todos os retábulos elaboradamente decorados, o mais importante é a escultura em madeira policromada de 1718, representando a “Árvore de Jessé”, uma ilustração da árvore genealógica de Jesus com doze reis de Judá conectados através dos galhos da árvore ao corpo principal, o de Jessé , pai de Davi e rei dos israelitas.
Mas os incêndios não foram os únicos desafios enfrentados pela Igreja de São Francisco em seus sete séculos de existência. Quando as tropas napoleônicas invadiram a cidade do Porto, no século XIX, os frades franciscanos foram forçados a fugir, deixando soldados livres para invadir parte das gravuras douradas da igreja. E quando a guerra civil portuguesa atingiu seu auge, na década de 1920, a igreja foi bombardeada e sofreu graves danos.
Após o trabalho de restauração, a Igreja de São Francisco retornou à sua antiga glória e é atualmente considerada um dos melhores exemplos de talha dourada em Portugal.
A Igreja fica aberta para visitas todos os dias das 9h às 20h. Um dos acessos é pela estação de metrô São Bento.

A indiferença cria abismos


Reflexão sobre o Evangelho do 16º domingo do Tempo Comum - Lc 16,19-31


Os cristãos devem ser ilhas de compaixão num mar de indiferença.
Os cristãos devem ser ilhas de compaixão num mar de indiferença. (Unsplash)
Por Adroaldo Palaoro*
“E, além disso, há um grande abismo entre nós”. (Lc 16,26)
O Evangelho deste domingo volta a tratar do tema das riquezas com a parábola do rico Epulón e o pobre Lázaro. Uma parábola desconcertante e inquietante porque nos situa frente a uma cena que sacode o coração, pois concentra, em uma só imagem, a realidade presente em nosso mundo: o abismo entre ricos e pobres. Existe a injustiça, existe a humilhação e a indiferença para com os menos favorecidos; existe o esbanjamento de uns frente à miséria de outros. E isto acontece também entre nós, comunidades e famílias cristãs.
Há muitos aspectos da riqueza que podem ser injustos e nocivos; mas nesta parábola Jesus critica a indiferença do rico diante do sofrimento do pobre que está próximo, à porta. Jesus nos previne contra essa tendência a evitar que os problemas alheios perturbem nossa “zona de conforto”.
O pobre necessitado não é alguém que possamos escolher; ele aparece junto à porta de nossas vidas...
Assim, pois, estamos diante de um texto duplamente perturbador: ele nos deixa inquietos ante a humilhante situação inicial do pobre, coberto de chagas e com vontade de saciar-se das migalhas que caiam da mesa do rico; e diante do destino último do rico, que gritava para que Lázaro lhe refrescasse a língua porque as chamas o torturavam.
Se tivéssemos que escolher uma palavra que fosse a chave de leitura da parábola deste domingo, essa palavra seria “abismo”. E se pudéssemos nomear a atitude denunciada na mesma parábola, essa seria “indiferença”.
Experimentamos um grande pecado de raiz, que a todos nos envenena: a cultura da indiferença. Questões gerais, comuns a grande número de pessoas, não nos provocam e nem nos movem para além de nossos umbigos. Também os problemas dos outros não nos dizem respeito. E se há fome e sofrimento ao nosso redor, isso não nos inquieta. A maldade, a violência, as mortes, as perseguições e escravidões não nos afetam mais. E vivemos como se nada disso tivesse relação conosco. Não choramos mais as dores do mundo que construímos e ao qual pertencemos. E o caos que enfrentamos em nossa sociedade nos deixa sem horizontes e perspectivas de futuro. Sentindo que tudo vai muito mal, anestesiamos nossa sensibilidade e entramos num estado de apatia e indiferença para com o mundo, as coisas e as pessoas.
A indiferença é cruel. Ela edifica uma barreira instransponível entre grupos, classes sociais, ideologias, religiões... Tornamo-nos uma ilha sem vida e triste, negamos a condição criatural de vivermos ao lado dos diferentes, nossos semelhantes. Em nós, a indiferença é sintoma de desumanização. E essa desumanização é tanto prejudicial a nós quanto às outras pessoas. Todo mundo perde. Aos poucos, nos recolhemos em nossos medos, em nossas inseguranças e começamos a acreditar que os diferentes são nossos inimigos. Da indiferença passamos aos discursos fascistas, às práticas fundamentalistas, à segregação...
“Os cristãos devem ser ilhas de compaixão num mar de indiferença”.
O grau de humanidade (ou de indiferença) de nosso mundo se mede pelo grau de sensibilidade diante da dor humana. E é a compaixão a melhor expressão dessa sensibilidade e humanidade: deixar-nos afetar pelo que acontece – ou seja, ter uma sensibilidade limpa, desbloqueada e vibrante.
Definitivamente, a compaixão é central para sermos humanos. O sofrimento das vítimas nos “descentra” e nos faz “descer com paixão” aos seus pés e nos situar ao lado (a favor) delas. Sempre podemos fazer a “travessia para o outro lado”. Ali é onde se abrem espaços à compaixão.
Esta compaixão não é meramente um sentimento privativo, mas reação “apaixonada” diante das injustiças sangrentas de nosso mundo. Nos sofredores há algo que atrai e convoca, que nos faz sair de dentro de nós mesmos e nos tornar próximos deles; aí reside a origem da solidariedade que suscita uma ação eficaz e um compromisso de vida a favor de quem é vítima de situações injustas.
Não resta dúvida que o sentimento nuclear do evangelho, o eixo ao redor do qual tudo gira, é a compaixão. Na sua missão, Jesus sempre se mostrou um homem compassivo, que revelou um Deus Compaixão e que, como consequência, nos convida a viver essa mesma atitude: “Sede compassivos como vosso Pai é compassivo” (Lc 6,36).
Expressão de fraternidade e vivida como serviço, a compaixão é a capacidade de situar-se no lugar do outro, sentir e sofrer com ele. É provavelmente o máximo sinal de maturidade humana e todas as tradições espirituais reconhecem isso. No budismo, especialmente, se afirma que, enquanto alguém não for capaz de colocar-se no lugar do outro, não poderá alcançar a iluminação.
Se a compaixão constitui a coluna central do evangelho, não causa estranheza que as denúncias mais fortes de Jesus são dirigidas contra a atitude de indiferença. É o que Ele revela na parábola deste domingo, onde a indiferença é retratada na atitude do rico epulón, que não causa dano ao pobre Lázaro, mas é incapaz de abrir a porta de sua casa e deixar-se afetar pela situação miserável dele.
Aqui, a chave de compreensão da parábola é encontrada na expressão “um grande abismo”. Um abismo que, não só se faz intransponível depois da morte, mas que foi alimentado exclusivamente pela indiferença do rico. Não tinha feito mal ao pobre; simplesmente, não tinha visto aquela pessoa necessitada de suas migalhas para saciar sua fome. É esse “não ver” que cria um abismo profundo em nossas relações pessoais, em nossos países e em nosso mundo.
Há uma “massa sobrante” que se torna “invisível” porque nossa sensibilidade está bloqueada ou petri-ficada, fechando-nos em um caracol egocêntrico e instalando-nos na indiferença, que está na origem das injustiças e violências que diariamente ferem o nosso mundo.
Vivemos tempos de “globalização da indiferença”, ou seja, a indiferença está se convertendo em um fenômeno mundial. É uma mancha de óleo que invadiu todos os ambientes, é um som desagradável que molesta todos os ouvidos, é um comportamento nefasto que se espalhou como pólvora, é um péssimo modo de proceder que se converteu em denominador comum de toda a humanidade.
Nós, seguidores(as) de Jesus, precisamos vigiar se não quisermos cair na tentação da indiferença. Costumeiramente, tendemos ao conformismo. A cultura da indiferença é fortalecida toda vez que deixamos de acreditar que a realidade pode e deve ser diferente. Não podemos nos dar por vencidos acreditando que estamos no fim, que nossas forças já se esgotaram, que não há mais sentido para lutar.
O primeiro convite que nos faz a parábola deste domingo é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. Sempre é tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós o encontra no próprio caminho. Cada vida que se cruza conosco é um dom e merece aceitação, cuidado, amor.
Nesse sentido, “amar é abrir a porta”.
Texto bíblico: Lc 16,19-31
Na oração: É possível superar os tempos sombrios que estamos vivendo, não nos deixando dominar pela indiferença, alimentando a capacidade de nos indignar, compadecer e afetar pela situação do outro. Que a dor, a injustiça, a morte, a fome, a mentira, o futuro não nos seja indiferente.
- Quê lugar ocupa a “compaixão” em sua vida interior, em seu compromisso diário, no horizonte de sua vida, nos encontros cotidianos?
*Adroaldo Palaoro é padre jesuíta e atua no ministério dos Exercícios Espirituais.