domingo, 30 de junho de 2019

Qual seria essa nova teologia de Francisco?

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Na semana passada, um evento na cidade de Nápoles demonstrou qual a real intenção do papa atual em relação aos rumos da teologia.
Papa Francisco e cardeal Crescenzo Pepe, arcebispo metropolitano de Nápoles.
Papa Francisco e cardeal Crescenzo Pepe, arcebispo metropolitano de Nápoles. (AP)
Por Mirticeli Dias de Medeiros*

Na semana passada, um evento memorável. Nápoles e o mundo presenciaram, pela primeira vez na história, um pontífice que assume as vestes de um palestrante de um congresso de teologia. Nós, do Dom total, acompanhamos todo o evento.

Papa Francisco chegou à Universidade Teológica Meridional, que fica localizada na cidade de Nápoles, à pé, entre os estudantes que o aguardavam ansiosamente. Ele se colocou ao centro da mesa redonda e acompanhou, atentamente, todos os palestrantes que o antecederam. Ele fez questão de chegar não somente para participar momento no qual iria discursar, mas antes, dando o exemplo de que um verdadeiro líder também se coloca em atitude de escuta.

“Foi um evento histórico porque ele aceitou o convite de vir a uma universidade pequena, localizada em uma provîncia, demonstrando, mais uma vez, seu interesse pela margem, pela periferia, também pela periferia teológica, se comparamos aos grandes centros culturais (...) Na sua colocação, ele exaltou a primazia do contexto. Não se pode fazer uma teologia que não olhe para o mundo”, disse o historiador Sergio Tanzarella, um dos palestrantes que organizaram o evento.

Não só papa Francisco, como todos os palestrantes, aproveitaram a ocasião também para denunciar a marginalização das mulheres na Igreja, a história da Igreja instrumentalizada para fins políticos e a teologia “desencarnada” que coloca-se alheia aos problemas sociais.

Em Nápoles, Francisco é considerado de casa. A cidade que, como sabemos, possui problemas estruturais bastante evidentes que irritam os próprios italianos, abre suas portas para os imigrantes. O apelo formal de acolhida partiu do prefeito da cidade, Luigi Magistris: “Quem tem condições, por favor, acolha um imigrante”. O espírito de acolhida do napolitano ninguém pode negar. Basta pedir uma informação de como chegar a tal lugar e, provavelmente, o cidadão daquela cidade será capaz de levar você até a parada do ônibus, para estar certo de que você chegará a seu destino.

O interessante desse evento, sobretudo em relação às palavras do papa, foi o “decálogo da nova teologia” que ele, sem que ninguém se desse conta, “canonizou” naquele evento. Acolhida, diálogo, escuta e interdisciplinaridade foram as palavras-chaves. Naquela cidade, palco de tantos problemas sociais, às margens do mar mediterrâneo, o desejo de que a teologia de “joelhos”, como ele gosta de frisar, transborde em solidariedade e caridade. Não mais uma teologia apologética, diz o pontífice, mas teologia de evangelização.

“A nova teologia de papa Francisco é assumir, para si, todos os problemas do mundo. Uma teologia que escuta o mundo e a história para que, a partir daí, se estabeleçam os critérios de discernimento. Não uma teologia “manualística”, mas uma teologia que procura as perguntas para só depois dar as respostas, ressaltou Tanzarella.

*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre primordialmente o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália, sendo uma das poucas jornalistas brasileiras credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé.

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