sábado, 11 de agosto de 2018

Mudança climática trará mais mortes por ondas calor e Brasil preocupa País

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País aparece como o terceiro mais impactado em estudo que projetou números futuros de vítimas de problemas de saúde decorrentes de altas temperaturas em 20 nações até 2080.
Praia de Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil.
Praia de Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil. (Pixabay)

O mais abrangente estudo já feito sobre o impacto de ondas de calor na taxa mortalidade humana traz uma notícia ruim para o Brasil: o país está entre aqueles onde o problema mais deve se agravar à medida que a mudança climática avança.

O trabalho que aponta essa tendência é uma pesquisa conduzida por 39 cientistas mundo afora, analisando dados de mortalidade em 412 cidades de 20 países diferentes. Quando se considerou aumento percentual nas mortes relacionadas a ondas de calor, o Brasil teve a terceira previsão mais pessimista, atrás apenas de Colômbia e Filipinas.

“Os resultados mostram que, se não ocorrer adaptação, o incremento na mortalidade relacionada a ondas de calor deve aumentar mais em países e regiões tropicais/subtropicais (mais perto do equador), enquanto países europeus e os EUA terão aumentos menores nessa mortalidade excedente”, afirmam os autores em artigo científico publicado na revista “PLoS Medicine”.

O estudo mapeou diversos cenários futuros, com previsões diferentes de aumento de temperatura e crescimento populacional. Foram comparadas as mortes relacionadas a ondas de calor acumuladas no período de 1971 a 2020 com um período projetado num intervalo futuro, de 2031 a 2080. Só no Brasil, os pesquisadores avaliaram 3,4 milhões de mortes de 1997 a 2011 e sua potencial relação com ondas de calor para fazer a projeção.

Na ponta mais pessimista das previsões de mudança climática — em que emissões de gases-estufa continuam desenfreadas, com a população crescendo muito e sem medidas de adaptação –, as mortes por ondas de calor no Brasil poderiam crescer mais de 850%. O mapa abaixo mostra esse cenário mais pessimista avaliado.

Foto: Observatório do Clima
Foto: Observatório do Clima
O Nordeste e o Norte do Brasil poderão estar entre as áreas mais afetadas. Os dados nacionais usados no estudo foram analisados pelos sanitaristas Paulo Saldiva e Micheline Coelho, da USP. O estudo indica que, sob uma forte política global de redução de emissões (tornando provável o planeta esquentar menos de 2°C), o Brasil poderia derrubar esse número para 313%, — ainda uma cifra preocupante.

Para evitar uma elevação maior nessa taxa seria preciso investir em medidas diversas de adaptação. Entre elas estão: preparar o sistema de saúde para o problema, instalar mais bebedouros públicos, educar a população para os riscos, elevar a renda das populações mais pobres para permitir compra de ar condicionados, criar sistemas de alerta e outras medidas. Ainda assim, o país veria um aumento médio de 82% nas mortes relacionadas a ondas de calor, no cenário pessimista. Para além dessas medidas, o número só diminuiu se a população do país crescer menos.

Entre os problemas de saúde mais ligados à mortalidade em ondas de calor estão a insolação, desidratação, edemas e problemas musculares. Altas temperaturas também agravam problemas cardíacos, pulmonares, circulatórios e dos rins. A literatura médica é farta de exemplos sobre como o calor extremo é capaz de levar à morte em certas condições.

O estudo publicado pela PloS Medicine teve um enfoque particular nas ondas de calor — definidas como dois ou mais dias com temperaturas acima do percentil 95 para dada área — porque é nessas situações de estresse térmico prolongado que o organismo sofre mais.


Observatório do Clima, 07-08-2018.

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