sexta-feira, 6 de julho de 2018

Tomé: discípulo incrédulo ou apóstolo de fé?

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Jesus ensina que a fé do tamanho de um grão de mostarda – a menor das sementes – já é capaz de transpor montes.
Ao lermos ou ouvirmos a narrativa sobre seu encontro com o Ressuscitado, é bastante comum que também nos perguntemos sobre nossa própria fé.
Ao lermos ou ouvirmos a narrativa sobre seu encontro com o Ressuscitado, é bastante comum que também nos perguntemos sobre nossa própria fé. (Reprodução/ Wikimedia)
Por Felipe Magalhães Francisco*

Popularmente, São Tomé é conhecido como incrédulo. É inspirado nele o bordão ver para crer. Como se precisasse de tudo muito bem provado, para que pudesse dar um voto de confiança. Mas, será que era realmente assim? Refletir sobre isso não é uma coisa sem mais: ajuda-nos a elaborar o nosso próprio lugar diante dessa realidade tão importante para a vida, que é a fé. De alguma forma, a maneira como as narrativas bíblicas apresentam as personagens, fazem com que nos identifiquemos, nalguma medida, com elas. É assim também no que diz respeito a Tomé. Ao lermos ou ouvirmos a narrativa sobre seu encontro com o Ressuscitado, é bastante comum que também nos perguntemos sobre nossa própria fé.

Quem nunca se perguntou sobre o “tamanho” da própria fé? As próprias narrativas bíblicas, se pegas de modo solto, contribuem para que entremos em dúvidas, sobre se há ou não um medidor de fé. Por um lado, Jesus ensina que a fé do tamanho de um grão de mostarda – a menor das sementes – já é capaz de transpor montes (Mt 17,20); por outro lado, o próprio Jesus aponta para a pouca fé dos discípulos (Mt 8,26). Pensar sobre nossa experiência de fé é muito importante, pois trata-se de pensar e discernir sobre nossa resposta pessoal e existencial àquela realidade ou divindade à qual nos fiamos. Pensando a partir da personagem Tomé, que consigamos refletir sobre nossa própria experiência, com a ajuda dos três valiosos artigos que compõem nossa matéria especial.

Abrindo a conversa, temos o artigo Feliz quem acredita na fé do “ver para crer” de Tomé, de Flávia Gomes. A autora retoma as importantes cenas ligadas à narrativa da Ressurreição de Jesus, parar situar e contextualizar o episódio no qual desponta Tomé e a questão sobre ver e tocar o Ressuscitado para nele poder acreditar. Situando a narrativa num justo lugar, a autora nos ajuda a compreender que Tomé se torna importante testemunha do Ressuscitado, porque viu, e isso o fez qualificar, ainda mais, sua experiência de fé.

Os leitores e leitoras mais atentos, perceberam que, no título do presente texto, jogamos com as palavras incredulidade/credulidade e fé. Esse jogo de palavras, intencional de nossa parte, ajuda-nos a nos situar na importante questão a respeito da crença e da fé, que Fabrício Veliq aborda no artigo Crença e fé: relações e diferenças. Definindo os conceitos a partir da compreensão da teologia cristã, o autor nos ajuda a compreendê-los em sua distinção bem como em sua relação, de modo aberto, rompendo com as possíveis interpretações que dão espaço para o preconceito religioso.

Concluindo nossa abordagem, temos o terceiro artigo: Fé e dúvida: fundamentos opostos ou caminhos para o conhecimento?, de Daniel Couto. Partindo de um resgate histórico das perspectivas céticas e dogmáticas, o autor traz a reflexão de modo bem contextualizado a respeito da relação entre fé e dúvida, em nossa contemporaneidade tão marcada pelo cientificismo. Duvidar, em última instância, não significa não ter fé. Ao contrário, uma fé que não se questiona não seria idolatria? É o que nos ajuda a refletir esse terceiro artigo.  

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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