quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O racismo de William Waack

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Num mundo cheio de câmeras e gravadores, tudo o que se diz pode ser usado fora de contexto.
William Waack seria de fato racista ou cometeu ato falho no auge da sua prepotência?
William Waack seria de fato racista ou cometeu ato falho no auge da sua prepotência? (Divulgação)
Por Jorge Fernando dos Santos

Afastado das câmeras da Globo depois de ser condenado nas redes socais por racismo, o jornalista William Waack foi o assunto dos últimos dias. Numa cena gravada no intervalo da cobertura das eleições presidenciais americanas, no ano passado, ele se irrita com um motorista que dispara a buzina e afirma que aquilo “é coisa de preto”.

Logo em seguida, dá a entender que sabe de quem se trata e ri do próprio comentário. E ainda o repete para o colega ao lado, que diz “sim”, sem estender o assunto. O colega branco e calvo é Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute, do Wilson Center, entidade americana de estudos geopolíticos.

Naquelas eleições, os democratas perderam o governo para o republicano Donald Trump. Vale perguntar se a pilhéria teria a ver com o presidente Barack Obama, já que a cena fora gravada em frente à Casa Branca. Difícil saber, pois Waack afirmou à emissora que não se lembra do ocorrido.

O ex-operador de TV da Globo Diego Rocha Pereira foi quem gravou o vídeo e o veiculou no WhatSapp, juntamente com o designer Robson Cordeiro Ramos. Fez isso depois de ter saído da empresa. Em entrevista a outro canal, explicou que na época temia retaliações. Quem colocou as imagens no Facebook teria sido Jorge Tadeu, ex-roteirista do SBT que, segundo consta, sempre criticou a Rede Globo.

Líder de audiência

William Waack seria de fato racista ou cometeu ato falho no auge da sua prepotência? Dizem que ele tem vários desafetos na Globo e o episódio talvez tenha sido usado para descartá-lo. A emissora também já foi chamada de racista e não ficaria bem mantê-lo no ar. Seja como for, condená-lo sem lhe dar a chance do contraditório parece linchamento.

Waack sempre se destacou entre os âncoras mais competentes da TV brasileira. Além dos jornais que apresentava, seu programa Painel era líder de audiência na Globo News. Ele esteve na linha de frente no auge das denúncias da Operação Lava-Jato e do impeachment da ex-presidente Dilma. Convém lembrar o ódio de militantes de esquerda contra a emissora. Alguns chegaram a agredir verbalmente Mirian Leitão e Alexandre Garcia.

Curiosamente, um dos defensores do âncora é Luiz Nassif, jornalista alinhado ao PT que recebeu uma enxurrada de protestos por seu posicionamento. Ele afirmou em seu blog que “...Waack foi nitidamente alvo de uma armação. A partir dela, está fora do jogo. Qual é o sentido prático de bater em quem não conta mais? Apenas explicitar o ódio que condenamos aqui, quando perpetrado pela direita?”
Uma coisa é certa. O radicalismo político nos conduziu ao atual estado de beligerância midiática. As redes sociais se tornaram tribunais da intolerância, onde não se admitem advogados de defesa. Tanto é verdade que o verbo repercutir foi substituído pelo termo “viralizar”.

Quem ousou defender Waack foi prontamente comparado a ele em seu ato impensado.

Num mundo cheio de câmeras e gravadores, tudo o que se diz pode ser usado fora de contexto. Foi o que ocorreu com Lula, no ano 2000. Num intervalo da gravação de um programa eleitoral, em Pelotas, ele fez piada sobre a cidade gaúcha e os homossexuais. Anos depois, as imagens foram parar no Youtube. Seria Lula homofóbico? Eis uma boa pergunta.


Jorge Fernando dos Santos
Jornalista, escritor, compositor, tem 43 livros publicados. Entre eles Palmeira Seca (Atual Editora), Prêmio Guimarães Rosa em 1989; ABC da MPB (Paulus), selo altamente recomendável da FNLIJ em 2003; Alguém tem que ficar no gol (Edições SM), finalista do Prêmio Jabuti em 2014; Vandré - o homem que disse não (Geração Editorial), finalista do Prêmio da APCA em 2015.

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