quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Meu ipê florido...

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Sejamos francos, um ipê florido embriaga qualquer pessoa que passa com a sua beleza
Para esse inverno o meu desejo é que mais pessoas encontrem nos seus caminhos ipês floridos.
Para esse inverno o meu desejo é que mais pessoas encontrem nos seus caminhos ipês floridos. (Reprodução)
Por Larissa Carolina Vieira de Freitas*

Numa dessas manhãs frias de domingo que temos enfrentado no inverno de Belo Horizonte, ao caminhar para a celebração da Santa Missa me deparei com uma cena, que embora faça parte da minha vida há pelo menos vinte anos, nunca tinha saltado ao meus olhos como naquela manhã.

Na praça da minha paróquia, estava ele, deslumbrante, poderoso e cheio de cores: um ipê florido... Florido de tal forma eu nunca havia me dado conta nesses vinte anos em que frenquento a mesma pracinha.

Confesso que participei da celebração distraída com os pensamentos, me perguntando como eu podia não ter notado tanta beleza naquela paisagem que me cerca há tanto tempo, e mais, como pode uma árvore florescer tão lindamente nesse frio?

Curiosa que sou, logo após a Missa me assentei abaixo da bela árvore e aproveitando-me das facilidades da tecnologia, pelo próprio celular já fiz uma breve pesquisa. Eis minhas descobertas:

O Handroanthus avellanedae (Bignoniaceae),mais conhecido como Ipê-Roxo é uma espécie com 20 a 35 metros de altura e tronco com 60 a 80 centímetro de diâmetro. Me assutei. “Meu Deus! Como pude não perceber essa gigante maravilha diante de mim?”.

As flores são reunidas em inflorescências terminais, com coloração roxa e raramente brancas. Sejamos francos, um ipê florido embriaga qualquer pessoa que passa com a sua beleza, e eu ainda não acreditava que passei tanto tempo sem percebê-lo.

A sua madeira é pesada, dura, muito resistente, pouco brilhante e, segundo a minha pesquisa, rica em cristais verdes de lapachol (substância química que apresenta atividade inibidora de processo respiratório, de grande durabilidade mesmo sob condições favoráveis ao apodrecimento). Agora compreendi porquê perdi o fôlego quando me dei conta dessa maravilha que compõe a minha paisagem cotidiana.

Sim, eu disse minha paisagem cotidiana. Paisagem essa que por mais de vinte anos compõe a minha história, o meu dia-a-dia, o meu círculo de amizades e a  minha fé. Me dei conta, que aquele não era o ipê da pracinha da Igreja, era sim o meu ipê florido.

Recordei-me de meu pai que amante da música sertaneja, relembrava Milionário e José Rico cantando durante minha infância “O Ipê e o Prisioneiro” em que o prisioneiro nada mais via da sua janela do que o ipê florido. Assim como eu, aquele prisioneiro também se dava conta que tinha um ipê florido para chamar de seu.

Continuei minha busca para compreender como poderia o meu ipê florescer durante um inverno tão gelado como esse que estamos vivendo em BH. Descobri então, que trata-se de planta que florece especialmente durante os meses de julho a setembro, momento em que espalha suas sementes aproveitando-se do vento característico da época.

Percebi que aquele ipê era tão meu, que eu já não podia deixar de notar aquela paisagem que também é minha e que a partir de agora, parafraseando Almir Sater eu deveria andar mais devagar, ter menos pressa e levar mais sorrisos porque já chorei demais.

Para esse inverno o meu desejo é que mais pessoas encontrem nos seus caminhos ipês floridos, que possam ser chamados de seus, refletindo as paisagens individuais compreendidas e resultantes da ação e da interação de cada um com o meio ambiente.

*Larissa Carolina Vieira de Freitas é advogada, mestranda em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Escola Superior Dom Helder Câmara e integrante do Grupo de Pesquisa MAPE- Meio Ambiente, Paisagem e Energia da ESDHC.

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