quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Game of Thrones tem algo importante a dizer sobre o furacão Harvey e as mudanças climáticas

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Jesuíta dos Estados Unidos analisa cenário do país tomando Game of Thrones como metáfora.
Também nos encontramos submergidos em conflitos internos, guerras e inimigos, muitos deles de extrema urgência.
Também nos encontramos submergidos em conflitos internos, guerras e inimigos, muitos deles de extrema urgência. (Reprodução/ HBO)
Por Jim McDermott, SJ*

A partir da estréia do seriado, em que os gêmeos de ouro e nobres, Cersei e Jaime Lannister empurraram Bran Stark, de 7 anos, por uma janela para proteger o segredo do seu amor proibido, maquinas políticas brutais tornaram o "Jogo dos Tronos" um tema inescapável de toda a conversa sobre  inverno em todos os lugares. Em "GOT", nenhum juramento é totalmente confiável, nenhum personagem é realmente seguro. (Diga-me que não estou sozinho por ter ficado aterrorizado com a vida de Arya, mesmo quando ela caminhou até Little finger na noite deste último domingo (27). Eu sei que ela é um homem sem rosto, mas ESTE É O MINDINHO).

À medida que a audiência do show foi aumentando, seus personagens e temas passaram a preencher não apenas nossa imaginação, mas nossas manchetes. Toda nova inversão ou drama político é interpretado à sua luz: Steve Bannon é AryaStark (ou mais recentemente, The Night King, o Rei da Noite), Jared Kushner Mão do Rei, John Kelly, um dragão (o que acho que faz o Donald Trump DaenerysTargaryen – pensem o que pensem).

Mas nesta temporada o seriado tem trabalhado duro para demonstrar que seu título é uma armadilha, uma artimanha. Não importa quem se sente no Trono de Ferro, chama-se de realeza e use uma coroa bonita, há apenas dois poderes reais em Westeros, o da vida e o da morte. E eles estiveram em guerra desde o início do seriado. Na cena de abertura do seriado, a patrulha se encontra com os mortos de alguma forma reanimados. Um grande plano da primeira temporada é também Jon Snow comprometendo-se a proteger esta muralha de gelo de 300 milhas de comprimento e 700 pés de altura. Faz já muito tempo que a muralha deixou de ser necessária, o seu propósito foi reduzido à mesma política estreita que todo o resto. Mas a questão estava sempre nesse nível: que tipo de ameaça poderia exigir um muro como esse?

Nesta temporada, enquanto a maioria dos principais personagens lutava para proteger, aumentar ou consolidar seu poder, contudo, Jon Snow esteve de pé na fronteira, tentando desesperadamente levar a atenção para longe de si. "Estamos todos do mesmo lado", ele continua insistindo, principalmente no quebra-cabeça da trama. "Não se trata de viver em harmonia. É só viver".

A ressonância da série com nossos próprios tempos é inegável. Também nos encontramos submergidos em conflitos internos, guerras e inimigos, muitos deles de extrema urgência.

Entretanto, eventos como as inundações sem precedentes em Houston ilustram que também estamos diante de uma ameaça muito maior. Podemos discutir sobre a escala ou as etapas, mas o desastre climático global está chegando. O recente artigo da Revista de Nova York sobre os cenários que podem acontecer tem sido muito debatido pelo seu exagero, mas mesmo uma centésima das catástrofes que prevê poderia supor uma porcentagem significativa e a vida neste planeta poderia se confrontar com uma grande ameaça de existência.

As acusações de exagero também foram usadas para escrever um relatório de ProPublica e Texas Tribune em março de 2016, em que cientistas têm dito há anos que "a tempestade perfeita de Houston está chegando - não é uma questão de se existe ou não, mas quando". No momento em que o novo prefeito de Houston, Sylvester Turner foi abordado para perguntar sua opinião, emitiu este comunicado divulgado pelo diretor de segurança pública e segurança interna da cidade: "Somente uma pequena porção da cidade de Houston está em risco de uma grande tempestade".

A mudança climática é a verdadeira batalha diante de nós, uma batalha claramente contra a extinção. Parece ridiculamente fantástico colocá-lo assim. Se pelo menos tivéssemos dragões e um Rei da Noite para nos ajudar a acreditar. Como Dany diz: "Você tem que ver isso para saber". Mas nós estamos vendo isso, em lugares como Houston, e nossas conclusões parecem espelhar as de Cersei: você pode continuar e lutar, eu vou ficar aqui e agir como se o jogo ainda fosse importante e eu estivesse ganhando.
*Jim McDermott, SJ, estudou literatura nas universidades Marquette e Harvard, Antigo Testamento e Liturgia na Weston Jesuit School of Theology. Foi professor da Red Cloud Indian School em Pine Ridge Indian Reservation e editor associado da revista América. Recentemente é padre.

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