sábado, 17 de junho de 2017

Temer lidera maior e mais perigosa organização criminosa do país, diz Joesley Batista

Em entrevista à "Época", dono da JBS relata pedidos de propina feitos pelo presidente e seu grupo político
 
POR O GLOBO 16/06/2017 23:20 / atualizado 17/06/2017 10:30
O empresário e dono da JBS, Joesley Batista - VANESSA CARVALHO / AFP
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RIO - O empresário Joesley Batista, dono da JBS e delator na Operação Lava-Jato, afirmou que o presidente Michel Temer lidera “a maior e mais perigosa organização criminosa” do Brasil. A declaração foi dada em entrevista à revista "Época", na qual descreve a relação que mantinha com Temer, os pedidos de propina que teriam sido feitos pelo presidente e seu grupo político e as negociações para os pagamentos ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha depois de preso.

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Joesley descreveu Temer como o líder do grupo político do PMDB que comanda a Câmara dos Deputados. Fariam parte desse grupo os ministros Eliseu Padilha (Casa-Civil) e Moreira Franco (Secretaria de Governo), os ex-ministros Henrique Eduardo Alves, que está preso, Geddel Vieira Lima e Cunha.

“Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa desse país. Liderada pelo presidente”, declarou Joesley. “O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto”.

À revista, o dono da JBS disse que se aproximou de Temer “em 2009, 2010”, por meio do ex-ministro Wagner Rossi, e desde então manteve uma “relação institucional” com o presidente, a quem via como uma “condição de resolver problemas” de seus negócios.

“Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele — e fazer esquemas que renderiam propina. Toda vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para conversar, me chamava, eu ia lá”, disse o delator.

O primeiro pedido de dinheiro teria sido feito em 2010. Um deles diz respeito ao pagamento de aluguel de escritório na Praça Pan-Americana, em São Paulo; outro pedido se refere à campanha de Gabriel Chalita à prefeitura paulista em 2012. Temer também teria pedido dinheiro para seu grupo político em 2014. O dono da JBS afirmou que o presidente pediu R$ 300 mil para fazer campanha na internet sobre sua imagem antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

“O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro”, declarou.

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Joesley relatou ainda pedidos para pessoas próximas ao presidente, como o advogado e ex-assessor da Presidência José Yunes e o ex-secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Milton Ortolon.

O dono da JBS afirmou que pagava propina porque dependia da atuação do grupo:

“Eles foram crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura — todos órgãos onde tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande”, disse.

Joesley também narrou uma disputa interna no PDMB.

“O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga danada. Pediram R$ 15 milhões, o Temer reclamou conosco. Demos o dinheiro. Foi aí que Temer voltou à Presidência do PMDB, da qual ele havia se ausentado. O Eduardo também participou ativamente disso”.

INTERLOCUÇÃO COM FUNARO E CUNHA

As tratativas de dinheiro, segundo Joesley, obedeciam a uma hierarquia dentro do grupo — primeiro, o empresário tratava de pagamentos com o doleiro Lúcio Funaro; caso não tivesse seu pedido atendido, buscava Eduardo Cunha, que seria subordinado a Temer, a quem recorria por último. Segundo Joesley, Michel Temer “se envolvia somente nos pequenos favores pessoais ou em disputas internas, como a de 2014”.

Joesley confirmou à revista que determinou pagamentos a Cunha e Funaro quando os dois já estavam presos para evitar que eles firmassem acordo de delação premiada. Os repasses teriam recebido anuência de Temer, como o empresário afirmou em sua própria colaboração com a Justiça. Segundo o dono da JBS, ele era procurado por Geddel “de 15 em 15 dias” para saber se “estava cuidando dos dois”.

“Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução”, afirmou.

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Joesley contou que Cunha e Funaro designaram representantes para receber o dinheiro.

“Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso”, afirmou.

O Palácio do Planalto não quis comentar as declarações de Joesley.

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