terça-feira, 27 de junho de 2017

Castelo Interior: a vida humana é “habitada” – e quem a habita é Deus

  Aleteia Brasil | Jun 27, 2017
CC
Breve explicação sobre o sentido essencial da obra-prima de Santa Teresa de Jesus

OCastelo Interior traça a pauta em que o leitor se sente constituído em relação com os semelhantes e com Jesus ressuscitado. Com a sua antropologia essencialmente bíblica, Santa Teresa de Jesus via-se a si própria e ao cristão como habitados.

Para ela, Deus não vem de fora. Está dentro, no fundo do nosso eu, que é essencialmente relação.

Se já segundo a espiritualidade bíblica da criação o ser humano é imagem de Deus, segundo a teologia de São Paulo, bem assimilada por Teresa, o ser humano está habitado pela graça, que é o Espírito Santo de Jesus ressuscitado, ator da vida do cristão:

“Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)

“O Espírito de Deus habita em vós… Cristo está em vós… Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos dará também a vida aos vossos corpos mortais pelo Espírito que habita em vós” (Rm 8,9-11)
Aqui encontrou o fundamento teológico para o livro das Moradas. A sua antropologia é profundamente bíblica: o seu Cristo é o Deus encarnado ressuscitado, que está no ser humano. Teresa acode frequentemente à Bíblia para descrever essa presença em si própria e para dar a conhecer que aquilo que a habita é relação, amor.

Em cada Morada deste itinerário, os atores principais são o ser humano e Jesus Cristo, em relação dinâmica um com o outro. A relação tende para o encontro, que, segundo Santa Teresa, se dá na fé e na oração, também iluminada por textos bíblicos.

Entre os temas, conteúdos e expressões que Teresa foi buscar na Bíblia está o que da forma mais original caracteriza o Castelo Interior: o de apontar para a enorme dignidade/mistério do ser humano, dotado de alma “capaz de Deus”, capaz de se comunicar com Deus. Para Teresa, a do ser humano é uma vida habitada, habitada por uma Presença e pelo Mistério interlocutor de quem exerce a arte de orar.

Ao serem chamados por Jesus, os discípulos perguntaram-lhe: “Onde moras? Respondeu-lhes: vinde e vereis. Foram, viram onde morava e ficaram com Ele aquele dia” (Jo 1,38-39). Se hoje lhe fizerem a mesma pergunta (“Onde moras?”), Jesus pode responder como a Teresa: “Busca-me em ti”:

E se acaso não souberes

Em que lugar me perdi,

Não andes daqui para ali,

Porque se encontrar-me queres,

A mim me acharás em ti (Poesia 4).
_____________

Pe. Armindo Vaz, OCD

Nenhum comentário:

Postar um comentário