quarta-feira, 24 de maio de 2017

'Eu não tinha intimidade', diz Paulo Roberto Costa sobre relação com Lula


O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e Pedro Barusco, ex-gerente da estatal, prestaram depoimento em ação que envolve o ex-presidente nesta quarta-feira.
Por G1 PR
24/05/2017 18h02  Atualizado há 3 horas
Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco foram ouvidos por Moro nesta quarta (Foto: Lúcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados e Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco foram ouvidos por Moro nesta quarta (Foto: Lúcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados e Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

O ex-diretor de Abastecimento de Petrobras Paulo Roberto Costa disse em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro nesta quarta-feira (24) que não tinha intimidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele foi ouvido como testemunha de acusação em uma ação penal da Lava Jato que envolve o ex-presidente.
Segundo Costa, todos os encontros que teve com Lula foram em inaugurações de obras e outros eventos da estatal, mas sempre com outros diretores e funcionários da empresa. “Eu não tinha intimidade para ter um almoço particular com o presidente Lula”, declarou.
Costa disse que um evento que constava na agenda dele como “almoço com o presidente Lula”, em 9 de fevereiro de 2007, era um almoço com centenas de funcionários da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia.
O juiz Sérgio Moro questionou o ex-diretor sobre o risco de interrupção de obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da Refinaria Abreu e Lima por ações do Tribunal de Contas da União. Costa confirmou que houve risco de paralisação, em 2009 ou 2010, e que equipes técnicas da Petrobras foram enviadas para Brasília para tentar reverter a situação.
Segundo ele, havia uma interpretação diferente do TCU que precisava ser esclarecida para a liberação das obras. Ainda de acordo com a testemunha de acusação, ele foi informado sobre uma reunião entre um representante da Petrobras e o ex-presidente Lula para tentar reverter essa possível paralisação das obras.
“Essa paralisação ia levar a atraso do cronograma como também desemprego e uma série de coisas”, explicou. Segundo ele, após essa reunião não houve interrupção da obra. Costa não soube informar se o presidente da República intercedeu de alguma forma.
Pedro Barusco
O ex-gerente-executivo da Diretoria de Serviços Pedro Barusco também prestou depoimento como testemunha na mesma ação, nesta quarta-feira. Ele ratificou que recebia propina da Odebrecht e descreveu pagamentos que estavam listados em uma planilha feita por ele.

Ele explicou ao Ministério Público Federal, detalhadamente, a divisão da propina em obras da Petrobras. Na maioria dos casos, 1% era destinado ao gerenciamento de Paulo Roberto Costa e 1% para a diretoria de Serviços, da qual ele fazia parte.
Em várias anotações, há a menção de propinas pagas a "casa", que, segundo Barusco, era referência a ele próprio e ao ex-diretor de Serviços Renato Duque nesses casos citados.
Barusco afirmou que elaborou a planilha, com o que lembrava, sobre os contratos e os pagamentos de propina quando negociava o acordo de colaboração.
De acordo com Barusco, quando ele não tinha certeza de algo, como percentual de propina, não colocava na planilha. O ex-gerente da Petrobras afirmou ainda que há na planilha contratos bem detalhados e outros com falta de informação. “Mas que houve pagamento de propina ou combinação de pagamento de propina, houve”.
O juiz questionou também porque Barusco afirmou que não teria recebido propina dos contratos de terraplanagem na Refinaria de Abreu e Lima e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
De acordo com Barusco, no começo, as empresas davam maior importância para a casa – como eles intitulam pagamento de propina para servidores da Petrobras – mas que essa situação foi mudando.
“Isso foi mudando um pouco, eles [empreiteiros] foram, vamos dizer, se envolvendo mais com a parte política”, afirmou Barusco.
O que diz a defesa de Lula
"Depois de confirmar, a pedido da defesa, que jamais teve qualquer proximidade com Lula, o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, corrigiu, espontaneamente, informações sobre as agendas dos diretores da Petrobras com referência à participação do ex-Presidente, que foram divulgadas pela imprensa, a partir de manifestação do Ministerio Público.
Houve, segundo Costa, uma compreensão errada da questão. Ele afirmou não ter tido nenhum encontro reservado com Lula, até porque, reconheceu, não tinha "intimidade" com o ex-Presidente. Todos os encontros, reforçou, diziam respeito a atividades institucionais da companhia, eventos e cerimônias no Brasil e no exterior nos quais era natural a participação do Presidente da República.
Os documentos apresentados pelos procuradores - e divulgados pela mídia - não contradizem, portanto, o depoimento de Lula, ocorrido em 10/5 quando afirmou que "não tem reunião específica com diretor da Petrobras", além das duas situações que mencionou.
Já Pedro José Barusco, ex-gerente executivo de Serviços da Petrobras, revelou que a planilha que figura como base de sua delação e que na audiência de hoje serviu de guia para as perguntas do MPF é um documento que montou durante a negociação de sua delação.
Reconheceu que não se recorda de todos os atos descritos na planilha e não pode garantir que todos tenham ocorrido, identificando a fragilidade da narrativa do MPF. Barusco disse também não saber precisar se houve pagamento de vantagens indevidas em todos os contratos firmados com a Petrobras e que não havia uma regra de pagamento.
Ele admitiu que, embora tenha recebido vantagens indevidas antes de 2003, a Lava Jato delimitou sua delação somente a partir daquele ano.
Lamenta-se que o Juízo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba mais uma vez tenha impedido, de forma autoritária, até mesmo a formulação e o registro de perguntas sobre as negociações e colaborações que estão ocorrendo no exterior com a participação da Petrobras e do Ministério Público.
Cristiano Zanin Martins"

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