terça-feira, 30 de maio de 2017

'Eu não faço nada de errado, eu só trafico droga', diz Perrella a Aécio

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Helicóptero pertencente à Limeira Agropecuária foi apreendido pela PF com 445 kg de cocaína.
Aécio Neves, Zezé Perrella  e o helicóptero carregado de cocaína
Aécio Neves, Zezé Perrella  e o helicóptero carregado de cocaína
 (Montagem Dom Total/ fotos Agência Senado)

Conversa do dia 13 de abril interceptada pela Polícia Federal mostra o poder que o senador Aécio Neves (PSDB) tem sobre seu colega de Congresso, o também senador Zezé Perrella (PMDB), ex-presidente do Cruzeiro. Os dois foram citados nas delações da JBS no esquema de recebimento de propina de R$ 2 milhões. 

Parte da conversa foi liberada na semana passada e a íntegra divulgada hoje, com novos detalhes. Em um dos trechos, Zezé Perrella, que levou bronca durante toda conversa, diz a Aécio: "Qual a maneira que eu encontrei de rebater essas coisas que eles falam de mim do helicóptero até hoje?”, afirma, em tom de submissão. E completa: “Eu não faço nada de errado, eu só trafico droga”. Aécio ri.

Em 2013, um helicóptero pertencente à Limeira Agropecuária, de Gustavo Perrella (filho do senador), foi flagrado pela Polícia Federal com 445 kg de cocaína. O piloto da aeronave era funcionário do gabinete de Gustavo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e foi preso em flagrante junto com outras três pessoas.

A assessoria de Zezé Perrella afirma que, no diálogo, o senador mencionava o episódio do helicóptero dentro de um contexto "se referindo ao fato de que, mesmo após ter sido comprovada sua inocência, lamentavelmente, a imprensa ainda insiste em associar o seu nome ao caso."

Bronca 

Na restante da conversa, Aécio, sempre em tom elevado, cobra de Perrella sobre uma declaração na qual o político teria colocado todos na 'mesma lama'. 

“Acho que não preciso provar o quanto sou seu amigo na vida, né cara. Então vou te falar como amigo, com a liberdade de amigo. Poucas vezes vi uma declaração tão escrota, Zezé, como essa que você deu na rádio Itatiaia", disparou Aécio.

O ex-governador prossegue e lembra como Zezé Perrella chegou ao Senado. “A pretexto de se defender, você jogou todo mundo na lama. A não ser, Zezé, que sua campanha foi financiada na lua, pela semente lá sua, pela quentinha do Alvimar. Nossa campanha foi a mesma Zezé", ressaltou tucano.

Entre 2007 e 2011,  durante o governo de Aécio e Antonio Anastasia em Minas Gerais, a Limeira Agropecuária e Participações (uma das empresas da família Perrella) foi contratada para fornecer sementes para um programa de combate à fome. No entanto, conforme o Ministério Público do Estadual, a entrega das sementes não foi comprovada. Já a Stillus Alimentação, outra empresa da família,  foi denunciada por fraudes no fornecimento de quentinhas para os presídios do Estado. 

No final da conversa, Perrella promete ao ex-governador de Minas conceder nova entrevista, dessa vez defendendo Aécio e Antonio Anastasia. "Olha, vou falar de você e Anastasia, que tenho certeza que vocês estão sendo injustiçados e tal. Pode ficar tranquilo, faço isso no Senado e na própria Itatiaia", prometeu. 

Em nota, a assessoria de Aécio Neves diz que não vai comentar as gravações, vazadas ilegalmente, segundo a defesa. A nota destaca, ainda, que as campanhas de Aécio e do senador Antonio Anastasia foram feitas em absoluto respeito à legislação.

Já a assessoria de comunicação do senador Zezé Perrella alega que a campanha mencionada era a do senador Itamar Franco, de quem ele era apenas suplente, e reitera estar confiante que as investigações da Polícia Federal irão provar que ele não cometeu nenhuma irregularidade.

Aécio e Joesley

Reportagem do jornal Folha de São Paulo desta terça-feira detalha como o senador Aécio Neves afirmou ao empresário Joesley Batista ter pressionado o presidente Michel Temer, junto com outros empresários, para que fossem feitas mudanças na Polícia Federal que incluíam a substituição do diretor-geral do órgão, Leandro Daiello.

A conversa foi gravada pelo próprio Joesley no hotel Unique, em São Paulo, no dia 24 de março, e anexada ao acordo de delação que o grupo J&F fechou com a Procuradoria-Geral da República.

Aécio disse a Joesley que o governo deveria aproveitar a crise gerada pela Operação Carne Fraca para a troca. Joesley ponderou que era uma boa chance para trocar Daiello. Joesley disse: "Tem que tirar esse cara". Aécio repetiu: "Tem que tirar esse cara". 

Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, Aécio ainda contou a Joesley que outros empresários estavam "pressionando" Michel Temer a tomar medidas contra a PF. Ele disse que participou de um jantar com Temer, o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e uma pessoa citada apenas como Pedro.

A assessoria do tucano não comentou as declarações de Aécio e Joesley, mas confirmou o encontro entre o senador, Temer e empresários. A assessoria disse que o senador afastado teve um longo despacho sobre a pauta de reformas.

O Bradesco confirma que Trabuco esteve com Aécio no dia 24 de março, em encontro com o presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffareli, mas para tratar da mudança na presidência da Vale.


Redação/Folha SP/ Itatiaia

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