quarta-feira, 31 de maio de 2017

Dez coisas que o papa propõe aos jornalistas

 domtotal.com
Francisco é um grande comunicador, simplesmente porque fala a linguagem mais comum de todas.
Para o papa, não há jornalismo se não existe uma predileção por ser voz
Para o papa, não há jornalismo se não existe uma predileção por ser voz
 "dos sem voz". (L'Osservatore Romano)
"Dez coisas que o Papa Francisco propõe aos jornalistas" é um "livro que resume o ensinamento do Papa Francisco sobre a mídia e a profissão de jornalista", como o resumiu Fernando Prado, responsável pela editorial. Prado visitou o site Religión Digital (RD) acompanhado pelo autor do obra, Manuel Bru, para explicar a chave do estilo de comunicação do Pontífice e poder contribuir para com o repórter.

Bru é sacerdote da diocese de Madrid e delegado episcopal para a catequese. Prado é ex-colaborador do RD e atualmente é responsável pelas Publicações Claretianas. O livro é parte de um conjunto de pequenos textos de autores bastante importantes sobre temas específicos, sobre esses dez pontos que o Papa propõe.


Qual é o denominador comum, Fernando?

F.- Penso que o Papa, quando era o cardeal de Buenos Aires, teve como estratégia pastoral atingir a grupos específicos de pessoas, em virtude das jornadas internacionais ou nacionais.

Assim, tive a ideia de que poderíamos fazer algo semelhante com autores aqui na Espanha, principalmente para os grupos aos quais o Papa também está falando ao longo destes anos do seu pontificado. Pode ser também uma orientação para aqueles que se dedicam a questões específicas dentro da Igreja e fora da Igreja, como neste caso, as mensagens dirigidas a jornalistas.

Conte-nos um pouco, os temas que já publicaram e alguns que ainda estão aguardando para ser publicados, se for possível.

F.- Tudo começou com o Ano da Misericórdia. Quis fazer o primeiro livro da coleção fazendo uma síntese do que foi a bula que publicou o Papa nesse ano. E colocar em dez pontos sintéticos o que era o conteúdo dessa bula.

Em seguida, já pensando nesta coleção, veio outro livro dedicado à ecologia, por ocasião da encíclica "Laudato si", que pedi ao Pachi Alvarez de los Pozos, o encarregado dos jesuítas a nível internacional nas questões de justiça e ecologia. Tratava-se de sintetizar, em dez pontos, o que é a encíclica social, ou encíclica verde do Papa Francisco.

Mais tarde, a mesma coisa aconteceu com "Amoris Laetitia". Este livro, onde pedi ao Cardeal Fernando Sebastián para me fazer um resumo da encíclica em dez pontos, atingiu já uma terceira edição.

E o último livro por parte de jornalistas, que veio antes disso, foi "Dez coisas que o Papa Francisco propõe aos sacerdotes." É também de um jesuíta, o padre Diego Fares, que acaba de lançar a segunda edição e que está tendo sucesso entre os sacerdotes, obviamente. Resume em dez pontos o Magistério do Papa Francisco sobre a questão dos sacerdotes.

É uma coleção simples, destinada a grupos muito específicos, sobre temas muito concretos, para colocar em uma síntese simples o magistério do Papa sobre algumas questões.

Este último livro o publicamos por ocasião do Dia das Comunicações Sociais, que se celebrou este domingo 28 de Maio. Queríamos chegar na hora e pedi a Manuel Bru, há alguns meses, para escrevê-lo. Ele fez um trabalho fantástico! Eu acho que ambos os jornalistas católicos e jornalistas em geral, vão valorizar muito esta contribuição. Resume o ensinamento do Papa Francisco em torno dos meios de comunicação e à profissão de jornalista, que foi forjado em dez temas.

Em seguida, virão outros. Apresentei estes livros ao Papa, tive a sorte de poder fazer isto pessoalmente, e quando eu disse que seriam quatorze tomos, porque foram os que tínhamos planejado até agora, me disse: "Ô, em que via sacra você me colocou?".

Todos esses livros, que abordam temas como os da mulher, os catequistas, a vida consagrada, etc., todos os conhecerão nos próximos meses dentro da nossa editora, com alguma questão muito focada no Papa Francisco, com o objetivo de fazer a sua mensagem mais conhecida e fazer dele mais amado em nosso país.

Eu gostei muito, além da ideia, do verbo, porque o poderia intitular: o que "manda" o Papa Francisco. E a coleção fala do que "propõe", neste caso aos jornalistas. A proposta é muito relevante neste pontificado. Manolo, o que nos oferece aos jornalistas?

M.- Bem, como você muito bem diz, é uma proposta extremamente sugestiva. O Papa, tudo que faz, é dar sugestões. O que oferece aos jornalistas são algumas dicas, em caso de eles quererem aceitá-las, para refletir sobre a própria profissão, sobre o significado que ela tem. Aqui se trata de um discurso, que o Papa fez aos jornalistas, com uma grande profundidade. Como, por exemplo, repensar desde o início o que chamamos de notícia. Eles podem refletir sobre a função social que tem o trabalho jornalístico se for orientada para o bem comum e o que pode ser feito para melhorar este mundo.

Há também uma proposta ética e profética, mas a partir de uma negação. Neste último sentido, das dez propostas na mensagem, só encontramos uma que diz: "Não caia na desinformação, calúnia ou difamação".

E, apesar disso, você não coloca o "não", você aponta no sentido de "fugir de pecados".

Sim, porque essa é a sua língua também. Eu acho que ele toma muito cuidado para não usar uma linguagem impositiva, mas também porque no fundo é assim.

E então, eu acho que a proposta de fundo é uma proposta filosófica muito interessante. Frequentemente se diz que o Papa Francisco, ao contrário do papa anterior, não tem a profundidade teológica e filosófica. Eu acho que é um erro muito grave.

É um mito absurdo que contribui para desinformar sobre a figura de Francisco.

M.-. Está claro. Eu acho que tanto em quantidade como em qualidade, a mensagem do Papa Francisco aos jornalistas é importante nos poucos anos de seu pontificado.

Conheço muito bem de João Paulo II porque eu fiz minha monografia sobre este assunto. E Bento XVI também teve que responder ao desafio de todas as redes sociais, e tem uma mensagem muito interessante. Mas a profundidade filosófica da mensagem de Francisco também é muito interessante e ao mesmo tempo muito prática. Coisa que faz parte do jogo típico do Papa Francisco.

Sua mensagem contém algo importante, que o jornalismo abrange duas dimensões. Uma é a dimensão social: não há jornalismo se não há predileção por ser a voz dos "sem voz". Em seguida, uma característica muito interessante, que é a dimensão estética: ele entende que não há verdade ou bondade na comunicação se não há beleza. As duas se exigem uma à outra.

Isto, apontando só duas das principais ideias das mensagens, mas elas supõem muito mais.

Eu achei muito curioso, acho que para você também e para Fernando, um dos primeiros discursos públicos do Papa Francisco foi precisamente na recepção que nos fez aos jornalistas, onde lançou um dos primeiros titulares que estão marcando esses quatro anos do pontificado: "Como desejo uma Igreja pobre e para os pobres".

Algumas pessoas acusam o papa Francisco de usar a mídia ou de jogar muitas manchetes. Primeiro, ele é chamado o papa dos gestos, em seguida, o Papa das palavras. Contudo: até que ponto isso pode ser assim, ou até que ponto a mídia é um instrumento, como falava João Paulo II, uma fórmula para construir o Reino e para proclamar a "boa noticia"? Não nos esqueçamos de que o Evangelho é "bom", mas, sobretudo é "notícia".

F.- Acho que Francisco, em primeiro lugar, tem uma grande sintonia com o povo da profissão jornalística, já tinha antes, de fato. Ele o vem demonstrando ao longo deste tempo. Ou talvez, por sua simples maneira de falar. Ele fala a língua do povo. Apesar de falar de coisas profundas e importantes, sempre usa uma linguagem simples que qualquer um pode entender. Através dessas imagens que coloca ou essas expressões que usa, além disso, sendo muito natural, rapidamente ele se conecta com as pessoas.

Eu acho que é um grande comunicador, simplesmente porque ele fala a linguagem mais comum de todas e inteligível para todos. Ele está ciente disso e o aproveita. E não é para conquistar as pessoas, mas para se mostrar como ele é realmente.

Então, também tem uma característica das idiossincrasias dos argentinos, e que as pessoas não entendem. Se você notar, os argentinos ganham todos os concursos de publicidade. Eles têm uma capacidade muito agradável de comunicar com imagens simples, capturando a atenção das pessoas. E eu acho que o Papa também tem a idiossincrasia portenha, esse tipo de facilidade acertada de se conectar com as coisas mais simples e ao mesmo tempo profundas ganhando a atenção de quem está ouvindo. Foi o seu estilo antes e continua sendo agora.

E o foco também aumentou de Buenos Aires para Roma. No entanto, o personagem parece não se sentir afetado por isso. Continua falando com essa naturalidade.

Ontem, ele estava em uma paróquia Romana e antes da Eucaristia, com homilia improvisada, teve um encontro absolutamente maravilhoso com as crianças.

Como você bem diz, no final, há três ou quatro mensagens que todo mundo entende, e isso, para a comunicação é brutal.

M.- Ele não só comunica ideias, comunica, como ele diz, em "Evangelii Gaudium" pregação-ideias, sentimentos e imagens. Lidando com muita facilidade e com credibilidade. Dá para perceber que ele não fala só por falar, mas que acredita no que diz e faz todo o esforço para vivê-lo.

E é uma mensagem muito positiva para todos, incluindo jornalistas. Não é a mensagem de notar as falhas e os perigos, mas é uma mensagem de bênção e também de bênção respeitosa.

Eu termino o livro com uma anedota que faz parte do primeiro discurso, que como comentava antes, ele fez aos repórteres assim que foi eleito. Onde teve esse gesto maravilhoso de dizer: "Agora é fazer uma bênção final e eu sei que muitos de vocês não confessam nenhuma fé. Porém, não vou deixar de dar a bênção, mas, por respeito para aqueles que não têm fé, eu vou fazê-la em silêncio".

Recolho do livro uma coisa que Paloma Gómez Borrero me disse: ao longo do tempo houve jornalistas que, com lágrimas nos olhos, disseram que o papa tinha cativado eles com esse gesto.

Imagino o necessário que é esta mensagem positiva. Pois desde a Igreja, temos o perigo de enviar mensagens para diferentes grupos profissionais, bem como de jornalistas, pedindo contas e criticando algumas informações.

Precisamos desta mensagem positiva também, porque o que eles estão fazendo é como ele diz em um dos discursos: "um pilar fundamental no desenvolvimento da participação na opinião". O estado de opinião e a democracia, sem essa liberdade e sem a marca dos jornalistas, não seriam possíveis.

O que estão sugerindo suas palavras é que, em um mundo cercado por más notícias e catástrofes, ele também é capaz de introduzir muitas boas notícias ou de propor soluções para estes conflitos que são igualmente notícias e que possuem relevância na agenda social dos meios de comunicação. O que podemos entender a partir daqui?

F.- O Papa faz isto em forma de belisco afetuoso, para que tomemos consciência. Pode ser que o Papa Francisco aos que mais beliscou, com esse tipo de reflexão ou denúncia profética, eram os mais próximos: os bispos, os cardeais e os padres. Mas nunca fez isto com amargura, o belisco é sempre com essa finalidade de tomar consciência. E nunca em uma linguagem que provoque o efeito da violência dos que o ouvem. É curioso nisso.

Precisamente, falando sobre o que é ou não é notícia, Bru escreveu no primeiro capítulo, que é uma das questões que no Papa é muito clara: "não parem de pensar o que é notícia".

No mundo da comunicação, bem sabemos, sempre se diz que "não é notícia de que um cão morde uma pessoa, mas uma pessoa que morde um cão". E, às vezes, o mais impressionante e mais escandaloso é interessante. E, claro, ficam na espera eterna outras notícias importantes, especialmente para aqueles que precisamos melhorar este mundo que não aparecem nos jornais, simplesmente porque eles não são um escândalo. Mas eles também são um escândalo, o que acontece é que nos acostumamos à existência de alguns problemas no mundo, então eles não são mais notícia.

Ele insiste em nos perguntar e nos convidar à reflexão qual é a verdadeira notícia para os profissionais da mídia. E tentar não procurar apenas o titular pelo titular, mas o bem que você pode fazer para dar a notícia de uma forma ou de outra, ou insistir em uma coisa ou outra. O Papa insiste porque é o próprio de um pastor, como Francisco: preocupar-se com as ovelhas, aquelas que estão no redil e aquelas que estão fora dele.

Eu acho que, nesse sentido, as mensagens do Papa com o convite para crescer são muito positivos. Sempre tentando encontrar o melhor de cada um. Até mesmo jornalistas e muitos outros atores da sociedade que estão agindo, alguns como políticos ou como economistas, mas sempre tentando enxergar o melhor neles para coloca-lo à luz.

Eu diria que o livro, foi feito com muito bom gosto, é um livro muito bem feito. Eu pedi o livro a ele precisamente porque sabia que tinha feito sua tese de doutorado sobre o ensino da comunicação com o Papa João Paulo II. Porque é um grande especialista sobre estas questões. Ele também é professor de jornalismo, é sacerdote e tem se desenvolvido na mídia.

Bru nos ofereceu um livro fantástico que acho que vai encantar, não só aos jornalistas religiosos, mas também àqueles que trabalham em diferentes meios de comunicação, escrita e audiovisual ou na internet.

Pela minha parte, tenho muito mais a dizer.

O livro e a coleção me lembram muito do que ouvi dizer o Papa em sua homilia, que comentava ontem na paróquia, onde Francisco falava muito sobre a necessidade da doçura e do respeito. Falava de deixar entrar o Espírito Santo, cuja linguagem é doce e respeitosa. Estes livros possuem este espírito, tive a oportunidade de ler alguns deles: o Papa propõe, não impõe. E com uma linguagem muito doce, a linguagem do Evangelho. Uma linguagem de iniciativa e de proposta, não pessimista, não deixando ninguém para trás.

Isso é algo que temos que te agradecer, Fernando, e também a Publicações Claretianas.

E a você, Manuel, porque é um bom presente para o Dia das Comunicações e que, a qualquer momento, um colega jornalista dos vários que conhecemos, enquanto olhar o livro possa parar e pensar que esta é também uma vocação, como o Papa diz na décima proposta de que você aponta.

M.- Sim. Foi um livro que escrevi com um gosto especial. Eu amei por uma razão muito simples: desde que começou as ações para a fundação de treinamento "Crônica Branca" de jovens jornalistas, em um ponto determinado, em 2007, encontrei em Buenos Aires um escrito do cardeal Bergoglio intitulado "Comunicador, quem é seu próximo?" Eu estava animado porque eu vi expressado o que eu sempre acreditei que é a linha da profissão. estávamos trabalhando na Fundação e teve a chance de dizer isto ao Papa Francisco. Eu lhe disse que tinha anos trabalhando nesse discurso. Ele me chamou de exagerado e disse: "é impossível, não dá para um ano".

E então eu disse: "Não, alguns meses".

Ele disse: "Ah bem, espanhóis, exagerados como sempre".

Mas é verdade, esse discurso me cativou. E agora, como Papa, ele cada dia o estende e o discute mais. Mas é sempre aquele discurso, essa pergunta constante: "Comunicador, quem é seu próximo".

E aqui temos alto-falantes para continuar comunicando a mensagem. É também nossa responsabilidade.

Obrigado por tê-lo feito e fazê-lo com tanta alegria. E obrigado, Fernando, pela ideia. Desejo-lhe continuidade. Estaremos esperando por aqueles que você adiantou para nós e alguns outros.

F.- Eu também me sentia em dívida com os jornalistas, que é a minha profissão, de alguma forma frustrada, que vou canalizando por outro. Eu acho que é um compromisso para aqueles que vivem esta profissão com paixão.

Então, continuemos "propondo" para alcançar um mundo mais justo, onde possamos continuar comunicando a "boa notícia". É necessário. Muito obrigado aos dois.


Religión Digital
Tradução: Ramón Lara.

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