sábado, 29 de abril de 2017

Sempre é possível tirar a venda dos olhos

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Evangelho de Lucas, capítulo 24, 13-35, correspondente ao Terceiro Domingo de Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico.
Existe o perigo de que vejamos a missão cristã como uma mera utopia irrealizável .
Existe o perigo de que vejamos a missão cristã como uma mera utopia irrealizável . (Divulgação)
Por Ana Maria Casarotti*

O Evangelista Lucas oferece-nos hoje um belo texto, dele próprio, onde narra a experiência de dois discípulos que encontram Jesus no caminho quando iam para Emaús, “um povoado distante onze quilômetros de Jerusalém”.

Possivelmente eles tinham partilhado com Jesus muitos momentos da sua vida, nos caminhos da Galileia. Escutaram suas palavras, experimentaram sua presença misericordiosa no meio deles, mas agora ele havia morrido. E com sua morte morreram suas esperanças, a expectativa de um Messias que ia salvá-los do poder inimigo, do Império que os oprimia e também de uma religiosidade longe da sua vida e de suas possibilidades.

A morte de Jesus era uma situação muito difícil de entender e até de aceitar. Eles aguardavam um profeta poderoso em palavras e obras e isso não aconteceu. 

Até perderam o sentido de viver em comunidade e possivelmente abandonaram o grupo de discípulos e discípulas.

Estavam tristes, desanimados, com a nostalgia e frustração de desejos e projetos que não foram realizados. Saem de Jerusalém sem meta nem horizonte.

Levam consigo uma grande desilusão. Confiaram em Jesus, colocaram nele suas expectativas, mas nada aconteceu. Deixaram tudo por ele, tentaram segui-lo pelo caminho que ele lhes ensinava, escutando suas pregações.

Estavam junto "dessa pessoa" considerada uma pessoa ingrata, mas foi assassinado. Será que incomodava o bem-estar do Império e da cultura religiosa da época?

Para estes discípulos já não tem sentido ficar em Jerusalém. Foi somente um entusiasmo? Um engano? Estavam seguindo a pessoa errada?

Eles vão afastando-se de Jerusalém, possivelmente regressam ao que estavam acostumados, ao passado que eles tinham renunciado para seguir Jesus.

Caminham desolados, sem meta nem rumo. 

Hoje há tantas pessoas no mundo inteiro que andam desoladas, sem caminho certo, tentando libertar-se do poder que as oprime, da dor que sentem no dia a dia. Pessoas que procuram um refúgio, que perderam tudo, famílias inteiras que fogem da guerra e da contínua ameaça sobre suas vidas.

As injustiças sociais, os poderes opressivos que preferem o bem-estar de poucos e a morte de milhares de pessoas. Os discípulos estão tão desanimados que seus olhos parecem como vendados e não conseguem perceber que essa pessoa que se une a eles no caminho é Jesus.

Como disse o Papa Francisco “Jesus caminha conosco. Frente às interrogações que brotam do coração do homem e frente aos desafios que a realidade apresenta, podemos sentir uma sensação de extravio e perceber que nos faltam energias e esperança. Existe o perigo de que vejamos a missão cristã como uma mera utopia irrealizável ou, em qualquer caso, como uma realidade que supera nossas forças. Mas se contemplamos a Jesus Ressuscitado, que caminha junto aos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-15), nossa confiança pode se reavivar. Nesta cena evangélica temos uma autêntica e própria “liturgia do caminho”, que precede a da Palavra e a do Pão partido e que nos comunica, em cada um de nossos passos: Jesus está ao nosso lado!”. (Disponível em: "Francisco: Ao anunciar o Evangelho, renunciemos a idolatria do êxito")

Jesus procura conhecer suas perguntas, tenta libertá-los da tristeza que os acompanha. Pergunta-lhes sobre sua conversa para que eles possam expressar aquilo que gera neles tantas perguntas e tanta dor.

Somente no momento que voltam à experiência da comunidade, partilham o pão, ficam juntos, seus olhos se abrem e reconhecem a presença de Jesus ao seu lado. No seu interior, o coração ardia com suas palavras, mas não o percebiam porque estavam cegos pelo desânimo.

Neste tempo de páscoa, somos convidados a acompanhar tantas pessoas que ao nosso lado caminham tristes e desanimadas para gerar nelas a esperança da vida que é Jesus, que, apesar de tanto sofrimento, está ao seu lado.

Como Jesus, procuremos ter uma mesa aberta para todos. "Não é a “mesa santa” dos fariseus, nem a mesa pura” dos membros da comunidade de Qumrã. É a mesa acolhedora de Deus. Com sua ação misericordiosa, Jesus não justifica a corrupção dos publicanos nem a vida das prostituas. Simplesmente, rompe o círculo diabólico da discriminação e abre um espaço novo onde todos são acolhidos e convidados para o encontro com o Pai da misericórdia. (Disponível: Assim como Jesus, rompe o círculo diabólico da discriminação. Artigo de José Pagola). 


IHU
Ana Maria Casarotti é Missionária de Cristo Ressuscitado.

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