sexta-feira, 14 de abril de 2017

Paixão do humano: diálogos sobre o sofrimento

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Das perguntas universais sobre o sentido da vida, o porquê do sofrimento é uma das mais agudas e angustiantes.
Pensar, rememorando, os sofrimentos de Jesus, remete ao próprio sofrimento humano.
Pensar, rememorando, os sofrimentos de Jesus, remete ao próprio sofrimento humano. (Divulgação)
Por Felipe Magalhães Francisco*

O sofrimento é uma das mais universais realidades, que perpassa toda a dimensão humana, em todas as épocas e culturas. Não à-toa, o sofrimento é uma questão que todas as tradições religiosas, filosóficas, entre outras, tentaram – e continuam tentando – responder. Das grandes perguntas universais de sentido, o porquê do sofrimento é uma das mais agudas e angustiantes. Respostas de tipo romântico, pessimista, ateísta e fideísta pululam no imaginário humano. E ainda que formulações místicas, religiosas ou não, busquem explicar o sofrimento, o que sabemos, seguramente, é que sofremos.

Na religiosidade católica mineira, a data de hoje, Sexta-Feira da Paixão do Senhor, é uma das mais fortes e carregadas de sentido. Uma religiosidade eminentemente barroca, faz com o que o sofrimento e morte de Jesus sejam muito mais refletidos que a própria experiência da Ressurreição. Pensar, rememorando, os sofrimentos de Jesus, remete ao próprio sofrimento humano, de um ponto de vista geral. E, uma vez mais, essa temática perpassa, de modo existencial as pessoas, sejam elas cristãs ou não.

Na esteira da grande pergunta sobre o porquê do sofrimento, está a pergunta sobre o motivo pelo qual os justos (os bons!) sofrem. Essa questão propriamente humana é respondida, pelos cristãos e cristãs, à luz do evento Jesus Cristo, sobretudo por sua morte de cruz. É o que reflete o primeiro artigo de nossa matéria especial, Por que o justo sofre?, de Ramón Eduardo Lara Mogollon. No artigo, o autor propõe uma leitura bíblica a respeito do sofrimento do justo, sobretudo sobre o acontecido com Jesus de Nazaré e sobre como isso pode nos iluminar, hoje.

Também outras tradições religiosas e espirituais contribuem com toda a humanidade, sobretudo a ocidental, influenciada sobremaneira pelo cristianismo, a respeito de uma melhor compreensão sobre a dor e o sofrimento. O artigo Dor e sofrimento, de Julio Eduardo dos Santos Ribeiro Reis Simões, propõe um olhar sofre a temática, recorrendo à espiritualidade do Islã e de um dos ramos do hinduísmo, a partir dos ensinamentos da Sociedade para a Consciência de Krishna. A partir dessa leitura, o autor contextualiza a questão para uma situação bem próxima do nosso cotidiano, que é a dramática situação dos usuários do Sistema Único de Saúde, em suas ambiguidades.

Para quem não quer sofrer, último artigo de nossa matéria especial, proposto por Gilmar Pereira, faz uma importante distinção entre dor e sofrimento, partindo de uma análise conceitual acerca do que é o sofrimento. O autor propõe, nessa perspectiva, o excesso de desejo como a causa do sofrimento, inspirado na mística de João da Cruz, bem como na espiritualidade budista. A superação do sofrer, que não significa negação do sofrimento, é possível, quando nos descentramos da dor. Em Jesus Ressuscitado, temos um bom paradigma de superação do sofrimento da morte, como reafirmação da vida, em seus limites e marcas.

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é doutorando em Ciências da Religião, pela PUC-MG, e mestre e bacharel em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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