terça-feira, 25 de abril de 2017

A missa terminou: igrejas cada vez mais vazias, apesar de Bergoglio

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São os sacerdotes, em primeiro lugar, que deveriam se perguntar: por que as pessoas não vêm?
“Lei” da secularização permanece implacável, apesar do ciclone Bergoglio.
“Lei” da secularização permanece implacável, apesar do ciclone Bergoglio. (Divulgação)

Apesar de Francisco, cujo índice de aprovação entre fiéis e não fiéis é cada vez mais alto, a secularização na Itália permanece estável e, de fato, em muitos territórios, avança.

Quem demonstra isso não são apenas os últimos dados do instituto ISTAT, mas também diversas falhas in loco. A última, em ordem de tempo, vem de Veneza. O Pe. Mario Sgorlon, pároco da Igreja de São Erasmo, a grande e atemporal “ilha jardim” em frente ao Lido, decidiu afixar, do lado de fora da própria igreja, um cartaz que abre um panorama dramático sobre a prática religiosa na Itália: “A missa está suspensa por falta de fiéis”, escreveu. E ainda: “O Pe. Mario está disponível a pedido”, e, ao lado, o seu número de telefone. Em resumo, explicou o próprio Pe. Mario, “não há mais tantas pessoas que vêm para as celebrações e, portanto, para evitar que eu fique sozinho no altar, eu coloquei o aviso. No inverno, muito frequentemente, não vem ninguém, porque faz frio, as pessoas ficam doentes e não saem de casa. Uma vez, estávamos em três. Em suma, celebrar assim não faz sentido”.

Embora a Igreja Católica não goste das estatísticas – “os números nem sempre fotografam uma vitalidade ainda existente”, repetem os eclesiásticos – a “lei” da secularização permanece implacável, apesar do ciclone Bergoglio.

Se, em 2006, uma em cada três pessoas (exatamente 33,4%) declarava frequentar lugares de culto pelo menos uma vez por semana, hoje o percentual caiu para 29%.

Ao contrário, de acordo com os últimos dados do ISTAT, as pessoas que declaravam que nunca frequentavam lugares de culto passaram de 17,2% para 21,4%. Na prática, mais de uma em cada cinco. E dá muito o que pensar o fato de que esses mesmos dados são “drogados” por uma elevação – sem isto, seriam ainda menores – causada pela presença de crianças nos serviços religiosos: entre os 6 e os 13 anos, elas são 51,9%. 

Franco Garelli, autor de Educazione e Piccoli atei crescono. Davvero una generazione senza Dio [Pequenos ateus crescem. Realmente uma geração sem Deus], ambos pela editora Il Mulino, explica que “não é um papa que vai melhorar a prática religiosa”. E até mesmo o chamado “efeito Bergoglio”, “que, contudo, existe, tanto que não são poucos aqueles que declaram que a presença desse papa convida a uma maior reflexão sobre si mesmo e sobre o significado da própria vida, precisa de uma tradução no concreto, e não é de todo evidente que a Igreja consiga fazer isso. Se a ‘oferta’ continua sendo a de comunidades chamadas de ‘freezers’, com uma religiosidade formal e com ritos pouco envolventes, é óbvio que a prática diminui, as pessoas se desanimam. Além disso, o fato é que, talvez, essas mesmas pessoas vivem uma prática religiosa própria frequentando outros lugares, outras pessoas, que não se enquadram necessariamente nas classificações-padrão”.

As comunidades freezers. Ou, o que dá quase na mesma, sacerdotes que não conseguem comunicar a força do Evangelho. Aqui está o ponto central, o motivo de uma desafeição profunda, em algumas partes do território italiano. Quem está convencido disso é o Pe. Alberto Maggi, fundador do Centro de Estudos Bíblicos de Montefano, autor, pela editora Garzanti, de Chi non muore si rivede [Quem não morre se revê]. 

Ele diz: “São os sacerdotes, em primeiro lugar, que deveriam se perguntar: por que as pessoas não vêm? Infelizmente, a verdade é que, em relação a certas missas, se deveria sair em legítima defesa. Às vezes, a leitura do missal parece o folhear de uma lista telefônica. Mas como é possível que Jesus irritasse ou entusiasmasse, enquanto a leitura, hoje, das suas palavras, muitas vezes, não faz nada mais do que adormecer? Francisco faz o que todos os padres deveriam fazer: ele não quer levar os homens a Deus, mas sim levar Deus aos homens através da ternura, linguagem universal”.

Pessoas que frequentam lugares de culto ao menos uma vez por semana

A queda da frequentação dos lugares de culto atingiu todas as faixas etárias. Aquela em que se “perde” a fé por excelência continua sendo entre os 20 e os 24 anos. A curva, depois, tende a subir lentamente. Mas a comparação com 2006 nos diz que a faixa etária mais desiludida é a dos 55 aos 59 anos, que, na última década, perdeu 30% dos frequentadores de lugares de culto. Faixa que poderia se estender para os 60-64 anos, em que a queda foi de 25%.

Garelli diz ainda: “Esse fenômeno pode ser ditado ou pelo fato de que, nessa faixa etária, muitos constroem uma segunda vida alternativa, e os novos compromissos afastam da prática religiosa; ou pode ser uma consequência da crise: pessoas que saíram do ciclo produtivo tentando entrar nele de novo”.

La Repubblica/ IHU - Tradução: Moisés Sbardelotto.

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