quinta-feira, 16 de março de 2017

Protestos contra reformas de Temer reúnem milhares de pessoas

domtotal.com
Em São Paulo, dia de protestos na cidade terminou com um ato na Avenida Paulista que reuniu 250 mil pessoas, segundo os organizadores.
Manifestantes durante protesto contra reforma da previdência, em São Paulo.
Manifestantes durante protesto contra reforma da previdência, em São Paulo. 
(Ricardo Stuckert/Divulgação)
Por Eduardo Simões

SÃO PAULO - Centenas de milhares de pessoas foram às ruas de várias cidades do Brasil nesta quarta-feira em manifestações contra a proposta de reforma da Previdência enviada pelo governo do presidente Michel Temer ao Congresso Nacional.

O dia de protestos contra a reforma também foi marcado por greves de várias categorias, especialmente dos trabalhadores de transporte público em algumas cidades, como São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. Algumas agências bancárias também foram fechadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Na capital paulista, a quarta começou difícil para os usuários de transporte público, com os ônibus parados no início da manhã e com o metrô funcionando apenas parcialmente. O já complicado trânsito paulistano também foi afetado, com congestionamentos acima da média pela manhã.

O dia de protestos na cidade terminou com um ato na Avenida Paulista que teve a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), uma das organizadoras, chegou a reunir 250 mil pessoas. A Polícia Militar não fez uma estimativa do número de manifestantes.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, transportes públicos como barcas, metrô, trens e ônibus operaram normalmente e o trânsito foi afetado apenas por alguns protestos que ocorreram na cidade. Na região central da capital fluminense, agências bancárias ficaram fechadas, algumas delas com piquetes.

A principal manifestação aconteceu à tarde na Cinelândia, região central e reuniu, de acordo com organizadores, 20 mil pessoas. A PM também não fez estimativa de número de participantes dos protestos, que chegaram a ter momentos de tensão com confrontos esporádicos entre mascarados e agentes de segurança.

Em Brasília o ato contra a reforma aconteceu pela manhã, em frente à catedral da capital federal, e reuniu milhares de pessoas, de acordo com a CUT.

Também em Brasília, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) protestaram na sede do Ministério da Fazenda, onde vidros foram quebrados.

"A perda de direitos e os retrocessos promovidos pelo governo Temer são os principais motivadores da ocupação, que tem sua centralidade na luta contra a reforma da Previdência, enviada pelo presidente Michel Temer em dezembro do ano passado", disseram os manifestantes em nota enviada pelo MST.

Belo Horizonte

Milhares de pessoas ocuparam as ruas do centro de Belo Horizonte nesta quarta-feira (15) em protesto contra a proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo de Michel Temer. 

Na avaliação dos organizadores, 150 mil pessoas participaram do protesto. A Polícia Militar informou que não vai divulgar estimativa de público.

Para Beatriz Cerqueira, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), não é possível melhorar a proposta apresentada. "Essa reforma iria impossibilitar o direito à aposentadoria. O problema dela é estrutural. Foi elaborada por quem não conhece a realidade da população brasileira".

Ela também fez críticas ao fim de especificidades das aposentadorias dos trabalhadores rurais, dos professores e de profissionais que têm risco de vida, como os eletricitários e policiais civis.

Leonardo Péricles, integrante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e líder da Frente Povo Sem Medo critica os argumentos do ministro. "Não há déficit. Há superávit. E a prova disso é que, nos últimos anos, recursos da Previdência foram retirados até para pagar a dívida pública e os juros aos bancos", diz.

Segundo Péricles, haverá outros atos para pressionar os deputados a votarem contra a proposta "A aprovação da reforma impossibilitará muita gente de se aposentar. Quem consegue trabalhar desde os 17 anos sem nunca ficar um, dois ou dez anos desempregado ou empregado mas sem carteira assinada?", defende.

Metrô fechado em BH

Diversas categorias de trabalhadores paralisaram hoje para participar do ato. A manifestação contou com a adesão de professores das redes públicas e privada, metroviários, eletricitários, trabalhadores da saúde, servidores da Universidade Federal de Minas Gerais e funcionários dos Correios, entre outros.

As 19 estações de metrô da capital mineira não abriram. O metrô de Belo Horizonte tem apenas uma linha e liga a região de Venda Nova até o município de Contagem (MG), na região metropolitana, passando pelo centro da capital. Segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), diariamente cerca de 240 mil pessoas utilizam o modal.

A CBTU, que é responsável pela gestão do modal, havia obtido uma liminar do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-MG) para garantir a operação de pelo menos 80% dos trens, entre 5h30 e 10h e entre 16h e 20h, e de 50% nos demais horários. Até a noite de ontem (14), o Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindmetro) informou que não havia sido notificado da decisão

Outras cidades

Em Brasília, 500 militantes do MST ocuparam, de madrugada, a sede do Ministério da Fazenda. A polícia informou que os manifestantes "invadiram" o local perto das 05H00 quebrando as janelas. A retirada pacífica ocorreu 10 horas depois, afirmaram as autoridades.

Os protestos se estenderam por mais de 20 capitais de todo o país, de acordo com o G1. Havia 30.000 em Fortaleza, mais de 10.000 em Salvador e em Goiânia.

Propaganda suspensa pela Justiça

Também nesta quarta, a Justiça Federal do Rio Grande do Sul determinou a suspensão da campanha de propaganda feita pelo governo federal para defender a reforma da Previdência, sob pena de multa de 100 mil reais por dia de descumprimento. Há possibilidade de recurso.

A juíza Marciane Bonzanini, da 1ª Vara Federal de Porto Alegre, argumentou, ao atender o pedido de sete sindicatos gaúchos, que há uso inadequado de recursos públicos e desvio de finalidade nas propagandas, que afirmam que se não forem feitas mudanças, a Previdência acabará.

“A proposta de reforma da Previdência não se inclui em categoria de atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos. Diversa seria a situação de esclarecimentos acerca de alterações constitucionais ou legislativas já vigentes", disse a magistrada.

"Por outro lado, a campanha publicitária questionada não possui caráter educativo, informativo ou de orientação social, restringindo-se a trazer a visão dos membros do partido político que a propõe e passando a mensagem de que, caso não seja aprovada a reforma proposta, o sistema previdenciário poderá acabar?, acrescentou.

A reforma da Previdência é o principal item da agenda legislativa de Temer, mas tem encontrado focos de resistência até mesmo entre membros da base parlamentar de apoio ao presidente, que apontam que a proposta encaminhada pelo governo ao Congresso é rigorosa demais.

Congresso sob pressão

Embora o governo conte com uma base sólida de aliados na Câmara e no Senado, a resistência ao endurecimento da legislação social são sentidas dentro do PMDB, que visa as eleições presidenciais e legislativas de 2018.

Os protestos ocorrem em um clima político de tensão pelas acusações de corrupção relacionadas ao caso da Petrobras.

Na terça-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, solicitou a abertura de 83 novos inquéritos contra políticos com foro privilegiado, com base nas delações premiadas feitas por 77 executivos da Odebrecht.

Os nomes dos suspeitos ainda não foram divulgados, mas segundo a imprensa há o de Lula e Dilma, cinco ministro de Temer, além dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.


AFP/Reuters/Agência Estado

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