quinta-feira, 16 de março de 2017

Nova evidência histórica derruba lenda negra sobre Pio XII

Por María Ximena Rondón
Papa Pio XII / Foto: Flickr True Restoration (CC-BY-SA-2.0)

ROMA, 15 Mar. 17 / 03:00 pm (ACI).- Uma nova pesquisa divulgada recentemente revelou que muitos locais que acolheram os judeus durante a perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial eram instituições da Igreja Católica.

Esta informação constitui uma razão para derrubar a lenda negra sobre o Papa Pio XII, através da qual o acusam de antissemita e “cúmplice” de Hitler, quando na verdade ajudou a salvar aproximadamente 800 mil judeus.

Segundo informou o Catholic Herald, a Fundação Internacional Raul Wallenberg, um instituto de pesquisa histórica, se dedica atualmente a encontrar os locais que acolheram os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, para colocar uma placa comemorativa, como um gesto de gratidão pelo seu trabalho de resgate. Esses lugares são chamados de “Casas de Vida”.

O presidente da Fundação, Eduardo Eurnekian, indicou: “Ficamos surpresos quando soubemos que a maioria das casas eram instituições relacionadas à Igreja Católica, incluindo conventos, mosteiros, internatos, hospitais, etc.”.

Até hoje, o instituto localizou mais de 500 “Casas de Vida” na Itália, França, Hungria, Bélgica e Polônia.

Segundo informou a fundação em seu site, um dos últimos lugares católicos a ser reconhecido como “Casa da Vida”, foi o Colégio San Giuseppe Instituto De Merode, em Roma, em 14 de fevereiro. Este lugar abriu as suas portas clandestinamente aos judeus e lhes forneceu comida e remédios até o final da Segunda Guerra Mundial.

Atualmente, a fundação está focada em encontrar mais lugares como este de acolhida na Itália.

Em um artigo publicado no Catholic Herald, calcula-se que somente na cidade de Roma aproximadamente 4.500 judeus encontraram refúgio em igrejas, conventos, mosteiros e internatos. Isto aconteceu durante o Pontificado de Pio XII.

Quando ainda era o Cardeal, Eugenio Pacelli ajudou os judeus. Em 1937 o Papa Pio XI publicou a encíclica “Mit Brennender Sorge” (Com ardente inquietude) escrita em alemão, onde condenou o nazismo. Pacelli, seu secretário, o ajudou a escrevê-la.

Quatro anos depois, o Purpurado negociou o acordo entre a Santa Sé e a Alemanha para garantir a liberdade religiosa dos católicos no país.

Ao contrário das afirmações da lenda negra a respeito do Cardeal Pacelli, os nazistas os chamavam de “amante dos judeus” e o odiavam tanto que queriam evitar que fosse eleito Papa em 1939.

Nesse então, o Purpurado já havia realizado mais de 50 protestos contra a política nazista. Inclusive ajudou na libertação de um músico judeu chamado Ossip Gabrilowitsch, que fugiu para os Estados Unidos e alguns anos depois se converteu ao catolicismo.

Depois da morte de Pio XI, o Cardeal Pacelli foi eleito sucessor de São Pedro e tomou o nome Pio XII.

Como Papa, aumentou as atividades para ajudar os judeus. Calcula-se que através do seu trabalho conseguiram salvar cerca de 800 mil pessoas. O Santo Padre os escondia no Vaticano, especialmente em Castel Gandolfo, casa de verão dos Papas.

Chegou a emprestar a sua própria cama para que as mulheres judias pudessem dar à luz. No total, 42 crianças nasceram e muitos foram chamados Eugenio, como um agradecimento pela ajuda do Papa.

Também entregou a Israel Zolli, o então grande rabino de Roma, uma contribuição em ouro para completar os 50 quilos que os nazistas pediram aos judeus, algo que não impediu uma grande invasão na qual escondeu novamente muitas pessoas.

Este e outros gestos fizeram com que o rabino se convertesse ao catolicismo e foi batizado com o nome de Eugenio.

A proteção de Pio XII aos judeus e a sua firmeza moral fez com que os nazistas elaborassem um plano para sequestrá-lo em 1944, quando o regime havia ocupado Roma. Entretanto nunca puderam realizá-lo.

A origem da lenda negra

Um ex-espião da KGB, Ion Mihai Pacepa, denunciou em um artigo publicado no National Review Online que o Kremlin e a inteligência russa fizeram um plano chamado “Assento 12” para destruir a autoridade moral da Igreja Católica na década de 1960.

Pacepa indicou que o objetivo principal era o Papa Pio XII, porque havia falecido há dois anos e, como dizia o então presidente russo, Nikita Khrushchev, “os mortos não podem se defender”.

Pacepa contou que a KGB “queria apresentá-lo como um antissemita que tinha incentivado o holocausto de Hitler”. Para isso, pediu para ele modificar alguns documentos originais do Vaticano.

O espião romeno enviou centenas de documentos à KGB relacionados a Pio XII. Entretanto, não encontrou nenhum documento que incriminasse o Papa, então ele os alterou.

Estes documentos foram a base para o livro “O Vigário”, escrito e publicado em 1963 pelo alemão Rolf Hochhuth. Este livro apresenta Pio XII como um Papa partidário dos nazistas e indiferente ao holocausto judeu. A obra foi traduzida a 20 idiomas.

“Atualmente, muitas pessoas que nunca ouviram falar de ‘O Vigário’ estão sinceramente convencidas de que Pio XII era um homem frio e cruel, que odiava os judeus e ajudava Hitler a matá-los”, manifestou Pacepa.

Em 1964, o Papa Paulo VI ordenou fazer uma investigação sobre a conduta de Pio XII durante a Segunda Guerra Mundial. Isto demonstrou que tanto o Pontífice como a Igreja Católica ajudaram muito os judeus durante este período.

Em 1999, o autor John Cornwell publicou seu livro “O Papa de Hitler”, que também defende a ideia de que Pio XII era antissemita.

Em entrevista concedida ao jornal espanhol ‘La Vanguarda’, o Papa Francisco lamentou que as pessoas tivessem feito uma concepção errada sobre Pio XII e que tenham “colocado tudo em cima” do Pontífice que ajudou a salvar cerca de 800 mil judeus do holocausto perpetrado pelos nazistas.

O Santo Padre recordou que, depois da morte de Pio XII, o então primeiro-ministro de Israel, enviou uma carta dizendo: “Compartilhamos a dor da humanidade. Quando o Holocausto atingiu o nosso povo, o Papa se colocou em defesa das vítimas”.

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