terça-feira, 21 de março de 2017

É normal sentir que um sem-teto faz tanto parte da cidade como uma estátua?, pergunta o Papa
  SNPCultura | Mar 21, 2017
Ronnie Chua

Quando estas coisas ressoam no nosso coração como normais - "a vida é assim... eu como, bebo, mas para arrancar um pouco do sentido de culpa dou uma esmola e sigo em frente" -, o caminho não vai bem

O Papa alertou para a indiferença culpável dos cristãos diante da pobreza e das situações aflitivas que milhares de pessoas vivem, quer em contexto urbano quer em ambiente de guerra.

«O que sentimos no coração quando vemos pela estrada e vemos os sem-abrigo, vemos as crianças sozinhas que pedem esmola – “Não, estes são daquela etnia que rouba…” -, sigo em frente?», questionou Francisco, citado pela Rádio Vaticano.

Na homilia da missa matinal a que presidiu, no Vaticano, o Papa perguntou à assembleia o que sente perante «os pobres, os abandonados, inclusive os sem-abrigo bem vestidos, porque não têm dinheiro para pagar a renda por estarem sem trabalho».

«Isto faz parte do panorama, da paisagem de uma cidade, como uma estátua, a paragem do autocarro, o posto dos correios, e também os sem-abrigo são parte da cidade? É normal, isto? Estai atentos. Estejamos atentos. Quando estas coisas ressoam no nosso coração como normais – “a vida é assim… eu como, bebo, mas para arrancar um pouco do sentido de culpa dou uma oferta e sigo em frente -, o caminho não vai bem», afirmou.

«Quando uma pessoa vive no seu ambiente fechado, respira esse ar próprio dos seus bens, da sua satisfação, da vaidade, do sentir-se seguro, confiando apenas em si mesmo, perde a orientação, perde a bússola e não sabe onde estão os limites»
A reflexão do papa baseou-se no trecho do Evangelho proclamado nas missas desta quinta-feira (Lucas 16, 19-31), que narra a parábola de um homem rico indiferente à fome de um pedinte, Lázaro, que jaz às portas da sua mansão.

Francisco comparou «a fecundidade do homem que confia no Senhor e a esterilidade do homem que confia em si mesmo», nas coisas que «pode gerir, na vaidade, no orgulho, nas riquezas», atitudes que conduzem a um «distanciamento» de Deus por uma «estrada escorregadia», dado que o coração do ser humano «é traiçoeiro, é perigoso».

«Quando uma pessoa vive no seu ambiente fechado, respira esse ar próprio dos seus bens, da sua satisfação, da vaidade, do sentir-se seguro, confiando apenas em si mesmo, perde a orientação, perde a bússola e não sabe onde estão os limites», como é evocado no Evangelho lucano.

O homem rico «sabia quem era aquele pobre, sabia-o», mas «não lhe importava. Era um homem pecador? Sim. Mas do pecado pode-se voltar atrás: pede-se perdão e o Senhor perdoa», acentuou o papa.

«O que sinto eu quanto, no telejornal [vejo que] caiu uma bomba num hospital e morreram muitas crianças?», insistiu o papa, para acrescentar: «Sou como aquele rico em que o drama de Lázaro, de quem tinham mais piedade os cães, nunca entrou no coração?». Se assim for, é uma atitude que está a fazer a estrada «do pecado à corrupção».
Continuando a referir-se à narrativa evangélica, que aponta para o eterno destino atormentado do rico e para a comunhão com Deus por parte de Lázaro, Francisco vincou que o coração do homem abastado «o levou por um caminho de morte, a tal ponto que não se pode voltar atrás».

«Há um ponto, há um momento, há um limite a partir do qual dificilmente se volta atrás: é quando o pecado se transforma em corrupção. E este não era um pecador, era um corrupto. Porque sabia das muitas misérias, mas era feliz e nada lhe importava», frisou.

«O que sinto eu quanto, no telejornal [vejo que] caiu uma bomba num hospital e morreram muitas crianças?», insistiu o papa, para acrescentar: «Sou como aquele rico em que o drama de Lázaro, de quem tinham mais piedade os cães, nunca entrou no coração?». Se assim for, é uma atitude que está a fazer a estrada «do pecado à corrupção».

A meditação terminou com a alusão à antífona da entrada na missa: «Sondai, Senhor, o meu coração. Vê se o meu caminho está errado, se eu estou naquele caminho escorregadio do pecado à corrupção, da qual não se pode voltar atrás. Normalmente, o pecador, se se arrepende, volta atrás; o corrupto, dificilmente, porque está fechado em si mesmo. Sondai, Senhor, o meu coração: que seja hoje a oração. E faz-me compreender em que caminho estou, em que caminho estou a andar».
(Via SNPC).
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