quinta-feira, 16 de março de 2017

Como explicar o luto para as crianças

 Gelsomino Del Guercio | Mar 16, 2017
© Kim Reinick/SHUTTERSTOCK
10 conselhos para ajudar na hora em que você precisar falar sobre a morte para os pequenos

Como explicar a uma criança que uma pessoa querida não está mais entre nós? É preciso, antes de tudo, evitar que os pequenos possam sofrer um trauma.

A página holandesa dedicada à educação http://www.ouders.nl (tirada do site Famiglia Cristiana) explica que o luto varia segundo a idade da criança, e mostra as diferenças entra as faixas etárias.

Quatro “faixas”

Resumidamente, pode-se afirmar que as crianças até três anos dificilmente fazem diferença entre coisas vivas e não vivas. Mas percebem bem a atmosfera e as emoções.

Entre três e seis anos, a diferença entre a vida e a morte já é percebida, mas é difícil compreender o caráter definitivo da morte. Nesta idade, as crianças tendem a fazer muitas perguntas, entre elas a famosa “quando tal pessoa volta?”, como se a morte fosse um longo sonho ou umas férias.

Dos seis aos nove anos, as crianças compreendem o caráter irreversível da morte, ainda que o conceito de “para sempre” seja difícil de digerir. Podem nascer sentimentos difíceis de administrar, como a insegurança, a ansiedade e, como defesa, as crianças tendem a negar a morte.

Entre os nove e os 12 anos, os já pré-adolescentes sabem que aquilo que vive também pode morrer. No entanto, eles têm uma tendência a não solicitar muita atenção porque preferem viver sozinhos os seus desgostos e, desta forma, não parecerem infantis. Entretanto, pode acontecer que eles se façam de “durões”, construindo um muro entre eles e a dor, buscando esconder suas emoções mais autênticas.

Aqui vão alguns conselhos práticos para quem se encontra nesta situação.

1 – Falar sobre o luto de maneira gradual

Nenhum pai dirá brutalmente a seu filho que ele não verá mais o avô ou a tia. É bom aproximar gradualmente a criança da verdade, caso ela ainda não conheça o conceito da morte. É o que disse o psicoterapeuta Fulvio Scaparro ao jornal Corriere della Sera de 22 de fevereiro. “Deve-se explicar, portanto, que o avô foi para uma longa viagem e que não voltaremos a vê-lo por muito tempo. Isso não quer dizer que você está mentindo, mas encarando o acontecimento da maneira e no tempo adequados. As crianças são muito práticas e perguntarão: ‘então, quem vai me levar ao parque? ’. Ao não ver mais o avô, elas se habituarão à ausência. Logo a criança crescerá e dará conta de que existem cerimônias de adeus para as pessoas queridas, os funerais”

2 – Evitar chorar na presença das crianças

As crianças são condicionadas às reações de seus familiares. “Se encontrarem em casa um ambiente de pranto e desespero, elas também vão chora, mas não porque estão chateadas pelo fato de o avô ter morrido, mas simplesmente porque os outros choram: elas veem o mundo com os olhos de quem cuida delas e, mesmo que você tenha dado as explicações de esperança, a mensagem de desespero vai prevalecer”.

3 – Compartilhar o sofrimento

Não se deve esconder o sofrimento; pode-se, inclusive, compartilhá-lo, mas da forma adequada, porque teremos crianças na frente e elas se angustiam ao ver que não comemos ou que estamos sempre chorando. São sinais que se vinculam à falta de esperança. Se a criança se entristece e diz: “sinto falta do papai”, é adequado compartilhar, dizendo: “eu sei, eu te entendo e também sinto falta dele”. Também é bom falar dele e recordar alguma história engraçada que eles viveram.

4 – O funeral

“Em geral, creio que as crianças podem assistir a um funeral, porque é um ritual importante para a separação. É um momento para se despedir da pessoa que elas amaram e com quem tiveram os primeiros contatos com a realidade”, sublinha o professor Fulvio Scaparro que, no entanto, adverte: “Efetivamente, se for um funeral em que são previstas cenas de desespero porque a morte foi imprevista, então é melhor deixar as crianças em casa. Se, ao contrário, é prevista uma grande tristeza, mas com atitude de compostura, sou a favor da participação dos pequenos, que podem ficar sob a responsabilidade de uma pessoa que não esteja tão envolvida no luto.”

5 – Explicar que a vida continua

É importante transmitir às crianças a mensagem de que a vida segue e que momentos de felicidade ainda nos esperam. Não é preciso ser brusco; as referências dos ciclos da natureza como “as folhas das árvores caem e morrem, mas a árvore continua viva,” podem ajudar. Ou, quando houver maior consciência, podemos aproveitar a morte de uma planta ou de um animal para ensinarmos gradualmente o significado da morte.

6 – As lembranças sempre estarão vivas

Scaparro prossegue: “O aspecto positivo a sublinhar é que não veremos mais o avô, mas as lembranças dele e seus ensinamentos permanecerão para sempre conosco. Desta forma, ensinamos as crianças que quem morre sempre deixa algo. Falar, compartilhar o sentimento de perda, ver fotos e lembrar um belo momento do avô com o filho ajudam no caminho da aceitação”.

7 – Suavizar a realidade

Quando assistem aos desenhos animados, as crianças estão em contato com a morte. Às vezes, comovem-se com a morte de um personagem. Neste caso, significa que elas estão se tornando empáticas e se comovem profundamente. Quando uma criança disser: “um dia você também não estará mais aqui”, ela quer informar que entendeu a realidade da vida e leva em conta que um dia os pais também se vão. Em relação aos pais, convém suavizar o tema, sem contar mentiras. Pode-se dizer algo assim: “sim, nós também vamos morrer, mas não há pressa, queremos ficar mais um pouco neste mundo”.

8 – Nunca evitar a verdade

O portal www.nostrofiglio.it diz que independentemente da estratégia usada na hora de explicar a morte às crianças, o importante é não ser evasivo diante das perguntas delas. Sejam perguntas secas, diretas ou implacáveis. Os pais não devem nunca responder com frases do tipo: “você vai entender quando for grande”, ou “esta é uma pergunta complicada agora, um dia falaremos sobre isso”. É necessário encontrar a maneira mais condizente com o estilo de pensar e com a extrema delicadeza de oferecer respostas exaustivas aos filhos.

9 – Crianças no cemitério

Ir ao cemitério também é um gesto laico. As pessoas vão ao cemitério para manter viva a lembrança dos falecidos. Por isso, é aconselhável levar as crianças a partir dos três anos. Embora muitos prefiram deixá-las em casa, eu não considero adequado. Ir ao cemitério com a família dá a possibilidade de explicar às crianças onde o ente querido descansa, mesmo que você diga: “neste momento, ele dorme aqui, mas segue vivendo conosco porque nós o mantemos vivo no pensamento e também quando vamos visitá-lo”.

10 – Elaboração do luto

A psicóloga Francesca Broccoli explica, em seu blog que: “cada criança encontrará seu modo pessoal e específico para elaborar o luto. É extremamente importante preparar, acompanhar e apoiar a criança que está enfrentando a morte de um parente”.

Por quê? “Porque esta experiência representará um momento de aprendizagem fundamental e formará a base com que ela enfrentará as próximas experiências de perda durante a vida”.

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