sexta-feira, 31 de julho de 2015

Concorrência em medicina faz idade de calouros da USP subir, diz estudo

Levantamento analisou dados da USP, Unifesp, Unicamp e Unesp.
Na Unicamp, concorrência aumentou mais de 900% desde 1980.

Gabriela GonçalvesDo G1, em São Paulo

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Cidade Universitária, Universidade de São Paulo: vista do novo prédio da Reitoria (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)Entre 1980 e 2015, número de calouros da FMUSP
com 20 anos ou mais subiu de 16% para 40%
(Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
O aumento da concorrência no vestibular de medicina da Fuvest desde 1980 mudou o perfil dos calouros da Universidade de São Paulo (USP). Segundo levantamento feito pelo Curso Poliedro, nos últimos 35 anos, quase dobrou o número de calouros que precisou fazer pelo menos dois anos de cursinho pré-vestibular antes de conseguir uma vaga na carreira.
O estudo também analisou dados históricos dos principais vestibulares do Brasil, incluindo os outros três cursos públicos de medicina mais prestigiados: os da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Segundo Rodrigo Fulgêncio Mauro, coordenador pedagógico da turma de medicina do Poliedro, a mudança no perfil dos calouros é decorrente do aumento da concorrência pelas vagas.
Enquanto a população brasileira cresceu 67% desde 1980, o número de vagas ofertadas nestas universidades manteve-se igual na USP e Unesp, caiu 3% na Unifesp e cresceu 22% na Unicamp, diz o estudo.
Concorrência para medicina
Veja o quanto cresceu a taxa de candidatos por vaga nos quatro maiores vestibulares de medicina de SP
candidatos por vaga19204669394160116230UnicampUSPUnespUnifesp19802000050100150200250
Fonte: Curso Poliedro
Desta forma, o número de candidatos disputando a mesma vaga cresceu. Há 35 anos, 19 candidatos disputavam uma vaga na Unicamp, hoje são 204, 973% a mais.
Veja as mudanças na relação candidato-vaga das quatro universidades:
USP – Em 1980, 66 candidatos disputavam uma vaga. Atualmente, 93 alunos disputam a mesma vaga. O aumento foi de 41%.
Unifesp – A taxa de candidato por vaga era de 94, em 1980, e subiu para 16, o que representa uma aumento de 70%.
Unesp – Em 1980, 116 candidatos disputavam uma vaga no curso de medicina. Em 2015, a concorrência aumentou 98%, para 230 alunos por vaga.
Unicamp – A Unicamp tinha a menor taxa de 19 candidatos por vaga em 1980. Atualmente, porém, 204 alunos disputam a mesma vaga. Aumento de 973%.
Diferença de milésimos
Segundo Fulgêncio, a pontuação entre os candidatos aprovados e não convocados é muito pequena. "O que separa o último jovem convocado do primeiro reprovado é uma crase, um erro de concordância ou uma vírgula. A diferença de pontuação chega a ser de milésimos. É muito pouco", destaca o coordenador.
Perfil do calouro da Medicina USP
Em 1980, só 16% dos calouros tinham 20 anos ou mais; em 2015, quantidade subiu para 40% do total
idadeporcentagem do total de calouros (%)13252240menos de 17 (2015)18 (2015)19 (2015)20 ou mais (2015)01020304050
Fonte: Curso Poliedro
"O segredo de passar na prova não é questão de genialidade, mas de humildade para entender suas deficiências e dedicação para correr atrás delas. O apoio dos pais é fundamental também", salienta.
Mais tempo no cursinho
Enfrentando maior concorrência, o tempo que os alunos passam no vestibular cresce cada vez mais. De acordo com o estudo, 55% dos estudantes aprovados na Fuvest 2014 ficaram dois ou mais anos no cursinho. Há 35 anos, o índice era de 29%.
Com isso, a média de idade dos calouros aumentou.  Em 1980, 16% dos candidatos aprovados na Fuvest tinham mais de 20 anos. Hoje, 40% dos estudantes apresentam este perfil.
O que separa o último jovem convocado do primeiro reprovado é uma crase, um erro de concordância ou uma vírgula. A diferença de pontuação chega a ser de milésimos"
Rodrigo Fulgêncio Mauro,
coordenador de medicina do Poliedro
A Universidade Estadual de Campinas (Foto: Antoninho Perri / Unicamp)A Universidade Estadual de Campinas
(Foto: Antoninho Perri / Unicamp)
Segundo Fulgêncio, ficar muito tempo no cursinho pode ser estressante para o aluno. "A maturidade é sempre positiva, e o aluno que ingressa mais velho na universidade entra mais maduro, mas isso é muito sofrido para o aluno. Ele encara a faculdade com mais seriedade, mas se desgasta muito, já entra cansado."
Preparação
Atualmente, a Fuvest é o vestibular responsável por selecionar os alunos aprovados na USP. Entretanto, em 1980, Unesp, Unicamp e Unifesp também usavam este modelo para aprovação dos candidatos. Hoje, com quatro provas diferentes, os estudantes têm tido mais dificuldade para ingressar na universidade.
Para o coordenador, em 1980 a preparação do aluno era mais simples, porque só tinha um tipo de prova. "O aluno deve se preparar para provas diferentes, conteúdo e tipos de questões diferentes e isso complica. A exigência da prova mudou muito", afirma.
"É um conjunto de características e estrutura emocional que aprovam o candidato. O nível de preparação dos cadidatos é nível de atleta. Estudam de segunda a segunda, fazem simulados e muitos testes. Esse estudo mostra que a falta de vagas é um problema estrutural de anos", explica o professor
.

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