domingo, 30 de novembro de 2014

Papa Francisco assegura empenho na busca da unidade com os Ortodoxos

2014-11-30 Rádio Vaticana

Neste último dia da sua viagem apostólica à Turquia, o Papa Francisco esteve presente, na igreja patriarcal de São Jorge, em Istambul, à solene Divina Liturgia da festa de Santo André, presidida pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I. Uma celebração quase inteiramente cantada, segundo a rica tradição comum a todas as Igrejas de tradição bizantina (ortodoxas e católicas) da Grécia, do Médio Oriente, do Leste europeu e mesmo do sul da Itália. 
Intervindo no final da celebração, o Papa Francisco sublinhou a importância da experiência do encontro pessoal, tanto na vida da cristã como no caminho ecuménico e recordou três “vozes” que as Igrejas cristãs não podem deixar de ouvir: a voz dos pobres, das vítimas dos conflitos e dos jovens. Não faltou uma referência ao recente atentado numa mesquita da Nigéria.
… a vida cristã é uma experiência pessoal, um encontro transformador com Aquele que nos ama e nos quer salvar. Também o anúncio cristão se difunde graças a pessoas que, apaixonadas por Cristo, não podem deixar de transmitir a alegria de serem amadas e salvas. Neste sentido, é esclarecedor o exemplo do Apóstolo André, referido no evangelho de São João: depois de ter seguido Jesus até onde ele morava detendo-se ali com Ele, «encontrou primeiro o seu irmão Simão e disse-lhe: “Encontrámos o Messias!” – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus». Fica, assim claro que nem sequer o diálogo entre cristãos pode subtrair-se a esta lógica do encontro pessoal – sublinhou o Papa, que evocou, como exemplo, o abraço entre o Patriarca Atenágoras e Papa Paulo VI, há cinquenta anos, em Jerusalém. 
Recordando o Decreto do Concílio Vaticano II sobre a busca da unidade entre todos os cristãos, Unitatis redintegratio, publicado há precisamente 50 anos, o Papa sublinhou que neste “documento fundamental” a Igreja católica reconhece que as Igrejas ortodoxas «têm verdadeiros sacramentos e principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia». Afirma-se, portanto, que, para guardar fielmente a plenitude da tradição cristã e levar a termo a reconciliação dos cristãos do Oriente e do Ocidente, é de extrema importância conservar e sustentar o riquíssimo património das Igrejas do Oriente, não só no que diz respeito às tradições litúrgicas e espirituais, mas também as disciplinas canónicas, sancionadas pelos santos padres e pelos concílios, que regulam a vida dessas Igrejas.Considero importante reiterar o respeito deste princípio como condição essencial e recíproca para o restabelecimento da plena comunhão, que não significa submissão de um ao outro nem absorção, mas sim acolhimento de todos os dons que Deus deu a cada um para manifestar ao mundo inteiro o grande mistério da salvação realizado por Cristo Senhor por meio do Espírito Santo. 
Quero assegurar a cada um de vós que, para se chegar à suspirada meta da plena unidade, a Igreja católica não tem intenção de impor qualquer exigência, excepto a da profissão da fé comum, e que estamos prontos a buscar juntos, à luz do ensinamento da Escritura e da experiência do primeiro milénio, as modalidades pelas quais garantir a necessária unidade da Igreja nas circunstâncias actuais. A única coisa que a Igreja católica deseja e que eu procuro como Bispo de Roma, «a Igreja que preside na caridade» (declarou ainda o Papa), é a comunhão com as Igrejas ortodoxas. Esta comunhão será sempre fruto do amor «que foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado», amor fraterno que dá expressão ao vínculo espiritual e transcendente que nos une como discípulos do Senhor.
Foi neste contexto que Papa Francisco recordou a necessidade de escutar aquelas vozes que se erguem com intensidade no mundo actual: os pobres, as vítimas dos conflitos e os jovens. Antes de mais os pobres, que sofrem de grave desnutrição, com o desemprego crescente e pelo aumento da exclusão social. 
Não podemos ficar indiferentes perante as vozes destes irmãos e irmãs. Estão-nos pedindo não só que lhes demos uma ajuda material, necessária em muitas circunstâncias, mas sobretudo que os ajudemos a defender a sua dignidade de pessoas humanas. Além disso – observou o Papa – eles pedem-nos para lutar, à luz do Evangelho, contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de um trabalho digno, da terra e da casa, a negação dos direitos sociais e laborais. Como cristãos, somos chamados a vencer, juntos, a globalização da indiferença. 
Uma segunda voz que brada forte em muitas partes do mundo é a das vítimas dos conflitos – prosseguiu o Papa, evocando “algumas nações vizinhas” da Turquia, “marcadas por uma guerra atroz e desumana”.  Turvar a paz de um povo, cometer ou consentir qualquer género de violência, especialmente contra pessoas frágeis e indefesas, é um pecado gravíssimo contra Deus, porque significa não respeitar a imagem de Deus que está no homem. A voz das vítimas dos conflitos impele-nos a avançar apressadamente no caminho de reconciliação e comunhão entre católicos e ortodoxos. 
Neste contexto, o Papa fez uma referência expressa às vítimas do recente atentado numa mesquita da Nigéria, exprimindo todo o sofrimento e solidariedade perante este atroz ato de violência contra fiéis reunidos num local de oração.  Finalmente, uma terceira voz que nos interpela é a dos jovens. Muitos deles vivem sem esperança, dominados pelo desânimo e a resignação. 
As novas gerações não poderão jamais adquirir a verdadeira sabedoria e manter viva a esperança, se nós não formos capazes de valorizar e transmitir o autêntico humanismo, que brota do Evangelho e da experiência milenar da Igreja. São precisamente os jovens… que hoje nos pedem para avançar rumo à plena comunhão.
(from Vatican Radio)

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