domingo, 31 de agosto de 2014

Filme aborda temas sérios de forma superficial

O filme se contenta com clichês sobre personagens.

Por Alysson Oliveira

Estrangeiro muda para uma pequena cidade no sul da França e seus pratos exóticos começam a fazer sucesso, alterando a dinâmica do pequeno vilarejo e incomodando a elite local. Para o diretor Lasse Hallström, aparentemente, contar essa história apenas uma vez não é suficiente. “Chocolate” não bastou, agora ele dirige “A 100 Passos de um Sonho”.
A trama é basicamente a mesma do filme estrelado por Juliette Binoche, com algumas diferenças. A maior delas é que aqui o diretor, trabalhando com roteiro assinado por Steven Knight, adaptado do romance de Richard C. Morais (no Brasil chamado de “A viagem de 100 passos”), quer falar do caldeirão cultural do mundo globalizado.
Mas é aí que o crème brûllée - para usar uma metáfora culinária rasteira -, passa do ponto, pois as soluções que o filme encontra para a harmonia numa França contaminada por movimentos de extrema direita e xenofóbicos são para lá de ingênuas. Há também tumultos políticos na Índia, descritos como “uma eleição ou outra”.
Não que algo disso seja o tema do filme, pelo contrário. As questões vem à tona apenas em um momento, e é como se o diretor pedisse desculpa por falar disso – sem nunca, é claro, nomear a questão. Assim, “A 100 Passos de um Sonho” se limita em ser quase duas horas de programa culinário, sem dar as receitas. Hallström se contenta com as obviedades das metáforas culinárias e o poder transcendental da comida unindo culturas.
É de se lamentar, no entanto, que o filme se contente com isso, pois parte de bons personagens e atores. Ao centro, como narrador e protagonista, está o jovem Hassam (Manish Dayal), cuja família foge da Índia e se instala na Europa, meio que por acaso nesse pequeno vilarejo, cujo único restaurante tem uma estrela do conceituado guia Michelin (a ponto de atrair políticos importantes) e é dirigido com pulso firme por Madame Mallory (Helen Mirren).
Hassam é filho do teimoso Papa Kadam (Om Puri), que abre um espalhafatoso restaurante indiano bem em frente ao estabelecimento da francesa. Ele conta com o talento culinário de seu filho e a ajuda dos outros três para tocar o lugar, mas encontra na vizinha uma inimiga e sabotadora.
Então, o filme se contenta com clichês sobre personagens: franceses são esnobes, as porções são mínimas; indianos, alegres e cozinham abundantemente etc. Além disso, há também o envolvimento amoroso de Hassam com Margueritte (Charlotte Le Bom), a sous chef do restaurante francês que aspira à posição principal dentro da cozinha – mas, no filme, as posições centrais parecem caber apenas aos homens.
Ao final, não é de se espantar encontrar os nomes de Oprah Winfrey e Steven Spielberg como produtores do filme. “A 100 Passos de um Sonho” é exatamente o tipo de história que a apresentadora gosta – de superação com uma profundidade falsa – e Spielberg providencia o lado “diversão para toda a família”. E aí estão as raízes de alguns dos maiores problemas nesse filme, que fazem dele um passatempo mediano e previsível.

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Reuters

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