domingo, 31 de março de 2013

Pietá: as dores da Virgem Maria



                                A Quaresma, sobretudo, a Semana Santa, é uma época apropriada
 para acompanharmos as dores de Nossa Senhora. 
Convidamos você, estimado irmão (a), para estarmos ao lado da
 Virgem Dolorosa, nas sete dores que 
 a Virgem Maria vivenciou, 
 dores imensas... 
  E não foram apenas sete.  

Michelangelo retrata este  tema da arte cristã, 
em que a Virgem Maria, é representada
 com o corpo do seu filho Jesus, morto nos seus
 braços, após a crucificação

Pe. Geovane Saraiva 
Pároco de Santo Afonso



Leo Arlindo, Aloísio, Cardeal Lorscheider



Leo Arlindo Lorscheider nasceu a 08 de outubro de 1924, em
Picada Geraldo, Estrela-RS. O nome de seu pai é José Aloysio
Lorscheider e o da mãe Verônica Gerhardt Lorscheider.
Fez o curso primário em Picada Winck, em Lajeado, e em
Palanque, Venâncio Aires.
Ingressou no Seminário dos padres franciscanos em 1934, em
Taquari, RS, onde fez os cursos Ginasial e Colegial.
Em 1942, fez o Noviciado e o primeiro ano de Filosofia no
Convento São Boaventura, em Daltro Filho, Garibaldi,RS.
Passou a adotar o nome religioso de Frei Aloísio.
Em 1944, foi transferido para o Convento Santo Antonio, em
Divinópolis, MG, onde terminou o curso de Filosofia e fez o
curso de Teologia.
Ordenação sacerdotal
Foi ordenado sacerdote a 22 de agosto de 1948, em Divinópolis, MG.
Já sacerdote, lecionou latim, alemão e matemática no Seminário Seráfico, em Taquari, RS. No
final do mesmo ano, foi enviado a Roma, ao Pontifício Ateneo Antoniano, para especializar-se
em Teologia Dogmática. No mês de junho de 1952, defendeu sua tese doutoral, sendo
promovido com nota máxima: summa cum laude.
Professor de Teologia Dogmática
Regressando de Roma, tornou a lecionar no Seminário Seráfico, em Taquari, até que, em
1953, foi nomeado professor de Teologia Dogmática no Convento Santo Antonio, em
Divinópolis, MG. Durante 6 anos, lecionou Teologia e ocupou sucessivamente os cargos de
Comissário Provincial da Ordem Franciscana Secular, Conselheiro Provincial e Mestre dos
Estudantes de Teologia e dos Candidatos ao estado de Irmão Franciscano. Além de Teologia
Dogmática, lecionou Liturgia, Espiritualidade e Ação Católica, e foi assistente do Círculo
Operário Divinopolitano.
Em 1958, tomou parte no Congresso Mariológico Internacional, em Lourdes, França. No
mesmo ano, foi chamado a Roma para lecionar Teologia Dogmática no Pontifício Ateneo
Antoniano.
Visitador Geral para a Província Franciscana
Em 1959, foi nomeado Visitador Geral para a Província Franciscana em Portugal. No mesmo
ano, de volta da visita canônica, recebeu o encargo de Mestre dos Padres Franciscanos,
estudantes nas várias Universidades de Roma.
Ordenação episcopal
No dia 3 de fevereiro de 1962, foi nomeado por
João XXIII bispo da recém-criada Diocese de Santo
Ângelo, RS. No dia 20 de maio de 1962, recebeu a
ordenação episcopal na Catedral de Porto Alegre.
Adotou como lema de seu episcopado IN CRUCE
SALUS ET VITA – Na Cruz, a Salvação e a Vida.
No dia 12 de junho, tomou posse na Diocese e,
durante 11 anos, foi seu bispo diocesano.
Membro das Comissões Conciliares
Em novembro de 1963, foi eleito pela Assembléia
do Concílio Vaticano II, membro das Comissões
Conciliares, nomeadamente para a Secretaria de
União dos Cristãos. Pertenceu ao quadro dos dirigentes da CNBB, a partir de 1968, como
Secretário Geral, e como Presidente duas vezes consecutivas (1971-1975; 1975-1978). Vice-Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM)
Em 1972, foi eleito primeiro Vice-Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano
(CELAM) e reeleito em 1975. Em 1976, assumiu a presidência do CELAM, em virtude da
transferência do titular Dom Eduardo Peronio, Bispo de Mar del Plata, nomeado Cardeal, para
a Prefeitura da Congregação dos Religiosos, com sede em Roma.
Vice-Presidente da Cáritas Internacional
Foi eleito Vice-Presidente da Cáritas Internacional e reeleito em 1972, assumindo a
Presidência em fevereiro de 1974, em razão do estado de saúde do Monsenhor Vath, o
Presidente, falecido em 1976.
Arcebispo de Fortaleza-CE
Pedido
geovanesaraiva@gmail.com
No dia 4 de abril de 1973, Paulo VI nomeou-o Arcebispo de Fortaleza-CE. No dia 05 de agosto
do mesmo ano, tomou posse naquela Arquidiocese.
Investidura do Cardinalato
No dia 24 de abril de 1976, Paulo VI nomeou-o Cardeal e em 24 de maio recebeu a investidura
do Cardinalato.
Arquidiocese de Aparecida
Em julho de 1995, foi transferido de Fortaleza/CE, para a Arquidiocese de Aparecida, tomando
posse no dia 18 de agosto do mesmo ano.
Encontro de Presidentes da CED
Em maio de 1996, em Guadalajara, México, participou do II Encontro de Presidentes da CED
(Comissão Episcopal de Doutrina).
Sínodo dos Bispos para a América
Em 1997 recebeu o Pálio das mãos de S.S. o Papa João Paulo II. No mesmo ano, fez parte do
Sínodo dos Bispos para a América.
Renúncia
No dia 28 de janeiro de 2004 recebeu a notícia da aceitação de sua renúncia. No dia
25/03/2004 entregou a Arquidiocese de Aparecida aos cuidados pastorais do Exmo. Revmo.
Dom Raymundo Damasceno Assis. Em seguida, retornou à cidade de Porto Alegre, no
Convento dos Franciscanos, onde colocou-se à disposição e obediência ao seu Provincial, Frei
Irineu Gassen, ofm, dizendo que estava em suas mãos e, para onde ele o enviasse, iria com
gosto.
Morte
Dom Aloísio faleceu na madrugada do domingo, 23 de dezembro de 2007, no hospital São
Francisco em Porto Alegre (RS), em decorrência de falência múltipla dos órgãos.
O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, presidiu na tarde do dia 26, a missa
das exéquias do cardeal Aloísio Lorscheider, na Catedral de Porto Alegre, com a presença de
cerca de 800 pessoas. Dom Aloísio Lorscheider foi sepultado no Cemitério dos Franciscanos
em Daltro Filho, município de Imigrante, próximo à sua cidade natal, Estrela, e a pouco mais de
100 km de Porto Alegre.
Dom Aloísio Lorscheider: a testemunha fiel
Dom Manoel Edmilson da Cruz
Falar em breves palavras sobre a riqueza da personalidade de Dom Aloísio é tarefa muito
difícil, deter-me-ei, porém, sobre a importância dele para a Igreja como Ministro do Senhor.
Sendo assim, será preciso apenas mencionar seus principais títulos acadêmicos, diplomas,
honrarias, condecorações, pluricidadania; sua invejável condição de poliglota (fala
fluentemente alemão, português, latim, italiano, espanhol, Francês, inglês, entende o flamengo, conhece muito bem o grego e o hebraico e suponho que também o aramaico); os diversos
ministérios e os serviços extraordinários prestados com a competência de verdadeiro teólogo
na vivência exemplar dos votos religiosos, na cátedra magisterial de Universidade em Roma;
no convento, como franciscano, em Províncias Religiosas da sua Ordem no Brasil e em
Portugal; ou do Mestre na fé como Bispo diocesano em Santo Ângelo, RS, e Arcebispo
Metropolitano e Cardeal Arcebispo em Fortaleza e no Ceará; Presidente da Comissão
Episcopal de Doutrina (CED), Coordenador do Secretariado de Teologia e Ecumenismo da
CNBB, para todo o Brasil; Secretário Geral, depois Presidente dessa mesma Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil; Vice-Presidente e depois Presidente do Conselho Episcopal
Latino-Americano (CELAM) e da Cáritas Internacional, com atuação também nas Américas e
no Mundo; Co-Presidente do CELAM por ocasião de Assembléia Geral, ou melhor, de
Conferência Geral; altíssimos encargos, missões e ministérios na Igreja (apontado, inclusive,
para o Sumo Pontificado); sua destacada participação no Concílio Vaticano II e em todos os
subseqüentes Sínodos dos Bispos, ordinários e extraordinários, e nas Conferências Gerais de
Medellín, Puebla e Santo Domingo.
Tudo isso resume um pouco a sua vida e de relance demonstra-lhe a grandeza. Por muitos
outros ângulos, porém, poder-se-á apreciar a beleza e o esplendor de sua imagem
caleidoscópica. Algumas perguntas, despretensiosas e singelas, ajudar-nos-ão neste sentido.
Estas, por exemplo: Quem por acaso viu alguma vez Dom Aloísio irritado? Quem não recebeu
dele um incentivo para o bom desempenho de um cargo, de uma missão? Quem foi por ele
constrangido a assumir algum trabalho? Quando foi que se viu Dom Aloísio fazer alusão a
merecimento próprio, seu, pessoal, ou citar seus grandes feitos e iniciativas?
Por outro lado, não há como esquecer comportamentos dele que não se possa deixar de
admirar em profundidade. Assim, na sua primeira diocese de Santo Ângelo, ao percorrer a pé
três suarentas léguas para atender a enfermo em estado grave. No sertão do Ceará, sob raios
de sol esbraseante, a confessar uma pobre penitente, ambos sentados numa tora de madeira
ao abrigo de um simples guarda-sol. Era ele todos os anos invariavelmente o primeiro a sentarse no confessionário ainda pela madrugada para ouvir em confissão os romeiros em Canindé
durante a festa de São Francisco. Isto, sempre, até quando com a saúde já abalada, até no dia
seguinte a sua volta de São Paulo após a sua primeira cirurgia do coração.
Seus grandes feitos de construtor: a conclusão da bela Catedral de Fortaleza a construção e a
ampliação de seminários, as escolas comunitárias da periferia da capital, as 382 casas
populares (180 só na praia das goiabeiras).
Suas grandes iniciativas: a fundação do Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos
(CDPDH); a criação do Mensageiro da Fraternidade ambos dotados da infra-estrutura
necessária e em pleno funcionamento; a descentralização da Arquidiocese com a criação das
Regiões Episcopais metropolitanas e interioranas de Pastoral, a criação de novas e numerosas
Pastorais correspondentes aos desafios pastorais dos nossos tempos, às quais soube sempre
imprimir uma linha de pastoral em plena sintonia com o Concílio Vaticano II; o seu cuidado
incansável com a formação dos Sacerdotes, Religiosos e Leigos (ITEP e ICRE); a partilha e a
entrega de propriedades rurais da Igreja aos seus moradores.
Sua atuação constante junto aos Meios de Comunicação Social: visitas às Emissoras de TV e
Jornais, encontros com jornalistas e telecomunicadores; entrevistas, coletivas de imprensa,
conferências etc.
Sua presença junto aos presos políticos que ele visitava e confortava.
Seu diálogo respeitoso e freqüente com as Autoridades, especialmente como mediador em
casos de conflitos.
Por aí se percebe a figura do Bispo “feito de coração modelo para o rebanho (forma factus
gregis ex animo)”, segundo a inspirada palavra da Sagrada Escritura (1Pd 5, 4).
Não era freqüente ver-se Dom Aloísio prostrado longas horas diante de Jesus no sacrário. Nele
o permanente era o trabalho às vezes prolongado noite a dentro, o atendimento às pessoas,
sempre atencioso e amigo, a reflexão, a redação de textos e documentos, que novos rumos
iam imprimindo às diversas Pastorais, novas luzes que iluminavam o céu da caminhada em
rigorosa fidelidade ao Evangelho e à melhor tradição da Santa Igreja.
É aqui que se percebe um vislumbre da sua santidade. Basta confrontar reflexão, textos de sua
autoria, atitudes, a coerência em toda a sua vida: sua vida toda ela uma oração! Dá para
entender a alegria, a serenidade, a paz que ele transmite. Atado com arame farpado por algum tempo como refém e a seguir, preso com outros reféns em meio aos seqüestradores e a
ameaças, em fuga perigosa e tresloucada, dentro de um carro-forte, nos entrechoques entre
disparos da Polícia e seqüestradores, Dom Aloísio extenuado, por um instante sequer perdeu a
sua paz; mesmo nesse estado, ele ainda transmitia paz aos companheiros e companheiras de
martírio!
Resultado, tudo isto, de rigoroso método, de um ritmo de trabalho que pouca gente, mesmo
entre os grandes, é capaz de acompanhar. Quem o viu jamais sentado a uma mesa
participando de algum jogo de salão, tão recomendável a todos nós? É por isso que Dom
Aloísio sempre nos ensina, porque Dom Aluísio constantemente aprende. Com Cristo Mestre,
com São Francisco de Assis, seu guia e modelo de vivência.
Tão bem qualificado ao vir do sol, o Nordeste, o Ceará foram para ele uma grande escola. Foi
aqui que ele viveu de verdade a Teologia da Libertação: no contato com as favelas; escutando
as pessoas; hospedando em sua casa camponeses analfabetos e desdentados, almoçando
com eles à sua mesa, vivenciando integralmente a evangélica opção preferencial, não
excludente, pelos pobres; assumindo atitudes coerentes nos pátios de fábricas, entre
trabalhadores em greve; no meio das favelas e das ocupações, diante da polícia em caso de
despejos. Atitudes coerentes sim, sempre coerentes!
Alguns exemplos: “em setembro de 1983, ao ser convidado pela TV Globo e TV Verdes Mares
para celebrar uma Eucaristia de abertura da Campanha de Ajuda aos Atingidos pela Seca, o
Pastor e Profeta escreve uma belíssima página de compromisso com os empobrecidos”. Negase a ratificar a Campanha com a sua presença ‘As orientações pastorais da Igreja do Brasil,
referendadas pela Santa Sé, não favorecem o tipo de Campanha que está sendo feita. A
posição da Igreja é muito clara: o problema não é o fenômeno da seca, mas o de um sistema
de vida todo impregnado de espírito materialista, que produz ricos cada vez mais ricos à custa
de pobres cada vez mais pobres. Infelizmente, as campanhas de ajuda aos Atingidos pelas
Secas, organizadas em grande estilo, fazem perder de vista este problema fundamental,
criando a ilusão de que passada a seca tudo voltará ao seu normal’. Após outras
considerações conclui: ‘é por esta razão que a Igreja no Ceará através da Arquidiocese de
Fortaleza não poderá colaborar nesta Campanha’. “Não se pode viver de costas para os
problemas do povo” (Dom Aloísio às Religiosas – 1985).
No IV Encontro Regional do Clero ele verbaliza a sua experiência: “Assim deve ser nossa
prática pastoral: encarnada na vida do povo, quenótica, esvaziada de si mesmo, entregue nas
mãos de Deus e do povo simples, sem temer as tensões, aprendendo a conviver com os
conflitos, crescendo na fé”.
Daí as ameaças de morte, a matança de cães de guarda da sua casa, o atentado à bomba (ou
ameaça?) lançando contra a sua residência.
É este o Dom Aloísio que o Ceará guarda no coração como uma imagem de Nosso Senhor
Jesus Cristo, uma presença viva de São Francisco de Assis: o Cardeal Arcebispo, o Mestre, o
Amigo dos pobres, o Pastor e o Profeta. Por toda este imensa graça do céu que nos foi dada,
bendito seja Deus!
Um grupo de colaboradores e amigos está publicando em Recife toda a obra escrita de Dom
Helder Câmara, por muitos considerado o maior profeta da Igreja do século XX. A esse
propósito assim se manifesta o conhecido teólogo e escritor Pe. José Comblin: “Eu sou
daqueles que tem a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de
inspiração na América Latina daqui a mil anos. Pois, ele lançou sementes destinadas a
produzir uma messe abundante nesta nova época do cristianismo que esta começando agora.
As suas sucessiva conversões sinalizam de certa maneira a futura trajetória da Igreja nesta
nova época da História da Humildade”. Daí, a sugestão: não seria o caso de a Igreja do Ceará,
quem sabe a Universidade, imitar esse bom exemplo e publicar toda a obra escrita do nosso
Dom Aloísio?
A singela obra agora publicada, iniciativa do padre Geovane Saraiva, nosso bom amigo, já é
um grande passo nessa direção, já é uma boa contribuição. Meus aplausos!
Antes da palavra final, assim nos fala a palavra de Deus: “Quem é sábio brilhará como a luz no
firmamento; quem ensina à multidão os caminhos da justiça, fulgirá como as estrelas pelos
séculos eternos” (Dn 12,3).
Fale também um poeta: “As pedras assacadas contra Deus ao contacto do céu tomam-se
estrelas”. Por fim, uma conclusão – uma intuição de outro santo, o nosso querido e humilde Dom Geraldo
Nascimento, Bispo auxiliar de Fortaleza: “Se olharmos a vida e missão de Dom Aloísio como
aprendizado ganharemos mais (ele escrevia em 1987, no Jubileu Episcopal do homenageado),
do que ele com nossas homenagens e palavras”.
Dom Aloísio viveu e continua vivendo do integralmente o seu lema episcopal: “Na Cruz a
Salvação e a Vida” (In Cruce Salus et Vita).
Bendito seja Deus admirável nos seus santos!

Dom Aloísio Lorscheider foi sepultado em Daltro Filho


                      Convento Franciscano São Boaventura 

Pedido: geovanesaraiva@gmail.com
Doçura e ternura em pessoa, alegria constante, posições corajosas e determinadas, ao mesmo tempo pregava e anunciava o Evangelho com coragem profética e grande sabedoria. Ele carregou sempre no seu grande coração, as alegrias, as esperanças, as tristezas, as angústias e os sofrimentos de sua querida gente (cf. GS 200). Além de travar, sem jamais se cansar, uma luta pela redemocratização, pela liberdade de expressão, pela dignidade da pessoa humana e pelo fim da tortura em nosso querido Brasil.
Ao assumir a Arquidiocese de Fortaleza em agosto de 1973, “com muita ternura, mas com a firmeza de profeta, levantou sua voz em nome de Deus para denunciar as injustiças gritantes, presente na vida dos cearenses, frente a uma sociedade que, tendo se acostumado com miséria como algo natural, se tornara insensível aos sofrimentos humanos” (Pe. Manfredo Araújo de Oliveira).
                                                                           

                                                                   Imigrante/RS








Construído na década de 1940, todo em pedra de grês, é um local encantador.

No caminho até lá...


Francisco de Assis, na visão de Dom Aloísio Lorscheider


Dom Aloísio Lorscheider, OFM (*) 

Pedido:
geovanesaraiva@gmail.com
À medida que passam os anos, São Francisco merece maior atenção. Em nossos dias, sobretudo, com a redescoberta do lugar social do pobre na Igreja e no mundo, o interesse pelos ideais de São Francisco faz-se mais vivo. Como, porém, não disponho do tempo requerido para tal aprofundamento, penso que um testemunho meu, de como tenho visto em minha vida esta grande figura da hagiografia, possa também ser apreciado.

O meu contato com São Francisco

No seio de minha família tiveram maior influência os jesuítas. Em casa tinham lugar especial Santo Inácio e os três Mártires Rio-grandenses. Explica-se pela influência que os jesuítas tiveram entre os colonos de origem alemã.

Muito deve a Igreja no Rio Grande do Sul aos filhos de Santo Inácio. Comecei a conhecer São Francisco, quando, em 1934, entrei no Colégio Seráfico de São Francisco, em Taquari, RS. Passei no Seminário Menor oito anos. Foi neste período que foi aumentando em mim o conhecimento, a admiração e o amor pelo Poverello. Tínhamos no Seminário a Ordem Terceira Franciscana, hoje denominada Ordem Franciscana Secular. As reuniões mensais e o espírito que os nossos formadores, por seu exemplo e palavra, imprimiam à nossa orientação, ajudou muito. O exemplo e o ideal vividos com muito entusiasmo pelos meus formadores, padres e irmãos franciscanos holandeses, foram benéficos. Eles concretizavam para nós o Serafim de Assis. Mais tarde, o noviciado, os anos de preparação para a profissão solene, a graça de, na Itália, visitar os lugares mais queridos ao coração de São Francisco, concorreram para formar em mim uma imagem do Santo da Dama Pobreza e da Perfeita Alegria.

1. À imagem de Deus 

Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre. Foi no caminho que a luz de Deus entrou mais forte em seu íntimo. Foi o beijo ao doente rejeitado, nada grande e nada nobre aos olhos dos homens, que fez a Francisco descobrir o enorme amor de um Deus que nos dá todo o seu Filho: “Tanto Deus amou o mundo que lhe deu o seu Filho único….”. “Quem sou eu, quem sois Vós? Uma noite toda foi insuficiente para saborear esta realidade tão grande. Francisco embeveceu-se no amor divino. A transcendência de Deus manifestando-se na imanência da Encarnação encantou o coração de Francisco. Mais e mais ele se extasiava diante do Bom Senhor, do Altíssimo, do Sumo Bem, do Único Bem, de todo o Bem. E o que sentia ia-se tornando oração. Convém ler e meditar as orações que brotaram, espontâneas, desta alma toda repleta da imensa misericórdia do Senhor.

São Francisco ajuda-nos a redescobrir a verdadeira imagem de Deus e “a graça salvadora de Deus que se manifestou a todos os homens” (Tt 2,11). É nesta imagem bíblica de Deus, assimilada por São Francisco, que se deve procurar a sua devoção à Encarnação do Verbo (presépio), ao Santíssimo Sacramento, à Palavra de Deus, aos Sacerdotes e à Cruz do Senhor.

2. A sua Dama

Francisco viveu numa época conturbada. Fermentos de renovação dentro da Igreja; fermentos novos no mundo dos negócios e da política, onde a riqueza estava sendo vista como o grande valor da vida humana. Na Igreja é o tempo do Papa Inocêncio III. Tempo de muito poder e de muito fausto. Faziam-se sentir diversos movimentos de renovação a partir da pobreza. Infelizmente, tais movimentos queriam conseguir o seu objetivo colocando-se à margem daquele que por Cristo fora posto como Pedra, Pastor, Garantia da fé.

No mundo dos negócios e da política, as lutas entre os grandes partidos de então, guelfos e gibelinos, entre as comunas, desejando uma superar a outra em importância e força, entre as classes sociais, buscando os do comércio conquistar os privilégios da classe nobre. É o tempo fogoso da Cavalaria.
Francisco, por influência do próprio pai, estava metido nestas lutas de promoção. O “status” o atraía. Liderança não lhe faltava. Mas, na análise de sua pessoa, percebe-se que, no íntimo, outras forças o estavam trabalhando. Além da graça divina, que tinha os seus desígnios, uma sensibilidade muito forte em relação à realidade social e eclesiástica também jogava o seu papel. E foi assim que Francisco entendeu que o verdadeiro soberano era o seu Deus, que se revelava em Jesus Cristo pobre, pequeno, humilde. O importante não era ser “maior”, como ele com tantos do seu tempo pensavam, mas sim ser “menor”. Sem dúvida alguma a passagem bíblica: “Quem entre vocês quiser ser o maior faça-se o menor” (cf. Lc 22,26), mais tarde repetida aos seus frades, deve já antes ter ressoado no coração do Santo de Assis. Seja como for, Francisco se enamora da Pobreza, que se torna a sua Dama. Ele se  enamora tanto por ela, porque vê o próprio Jesus Cristo tomando-a por Esposa: “Embora rico, fez-se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). A formação paulina, num contexto de comunhão de bens (esmolas) entre as Igrejas, torna-se ela luz para uma inteligência mais profunda do mistério de Deus que se comunica ao mundo por seu Filho Jesus, o Filho do seu amor (Cl 1,13). E Francisco nele se inspira.
Começa, na Igreja, uma redescoberta do pobre, precisamente num período em que a Igreja parece ter atingido a culminância do seu poder e de sua influência no mundo. Poder espiritual e poder temporal estavam firmemente enfeixados nas mãos de um Papa que se soubera impor a príncipes e reis, dando ao Sacro Império Romano esplendores nunca dantes vistos e vividos. E foi no coração deste grande monarca que Francisco coloca o seu modo de vida evangélica. Ele nada mais quer do que observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, Evangelho que tem a sua conotação específica na vivência da pobreza. Pobreza não à margem da Igreja Romana, mas pobreza no coração da Igreja Romana, em obediência total ao Papa e seus sucessores. Quando Francisco prescreve isto a seus frades, já era o Papa Honório, mas quando Francisco começou era Inocêncio que dominava.
Esta atitude de São Francisco foi obra do Espírito Santo. Foi autêntica intuição evangélica de alguém que era todo poesia. As almas dos poetas são as que, sensíveis, enxergam mais longe.
Em nossos dias revivemos esta redescoberta evangélica do pobre. Partimos de uma realidade diferente daquela do século 12, porque, hoje, nos angustia a injustiça institucionalizada, a injustiça que na sociedade, se tornou estrutura, ao passo que então a riqueza dentro da Igreja e os anseios de grandeza temporal dominavam os homens. Então, como hoje, as resistências dentro e fora da Igreja não são poucas. Entretanto, a profética opção preferencial e solidária pelos pobres corresponde inteiramente ao ideal de São Francisco, porque responde completamente ao Evangelho. E Francisco outra coisa não queria do que o Evangelho em sua mais completa pureza, sem glosa, sem glosa, sem glosa…
O estilo de vida simples, sóbrio e austero que Puebla preconizou para todos os cristãos de nossos dias, em identificação sempre mais perfeita com o Cristo pobre e os pobres, exprime sem ambiguidade o que Francisco, já no século 12, sonhava e via como verdadeira renovação evangélica. Se, hoje, partimos de outra realidade para a vivência a pobreza evangélica, o fundamento continua sempre o mesmo: Cristo que, sendo rico, se fez pobre; que, sabendo não ser um roubo para Ele o ser igual a Deus, esvaziou-se, fez-se servo, fez-se em tudo solidário com os homens, obediente até a morte e morte de cruz (cf. Fl 2,5-9).


3. A perfeita alegria

São Francisco é conhecido como sendo o São Francisco das Chagas, além de ser o São Francisco de Assis. As chagas do Senhor Jesus mostram outra faceta da rica personalidade de Francisco: um apaixonado pela paixão de Jesus Cristo, um apaixonado pela cruz do Senhor. Tão grande a sua paixão que mereceu experimentar ao vivo na própria carne a paixão sobre a qual tanto meditara e chorara a ponto de ter ficado quase cego. O amor de Deus na Encarnação torna-se, para nós, o mais concreto possível na doação total que a cruz simboliza: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13).

Penso que na mística franciscana da Paixão do Senhor se deva procurar o sentido mais profundo da perfeita alegria que os “Fioretti” nos retratam com forma tão viva e poética. Ser rejeitado pelos próprios irmãos, ser afastado do convívio deles como elemento perigoso, como perturbador da paz e do silêncio de nossa casa, e saber aceitá-lo sem querer mal a quem desconfia de nós, nos machuca, nos revolve na condição mais miserável – é identificar-se com Jesus rejeitado, escarnecido, esbofeteado, carregado com a cruz, crucificado. A perfeita alegria está, pois, na mais perfeita identificação com o Cristo, o Servo Sofredor de Javé.
Parece que o mundo de hoje nos oferece inúmeras oportunidades para vivermos este capítulo da perfeita alegria. Numa época de renovação, exige-se muito espírito de sacrifício, muita renúncia, muita assimilação com a paixão e morte de Jesus Cristo, com a oração sincera: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
4. Homem livre
Este tríplice olhar evangélico de Francisco – imagem de Deus, Dama Pobreza, perfeita Alegria – fez de Francisco um homem livre, amarrado a ninguém, levando-o a redescobrir a pureza original das criaturas. Indubitavelmente, o Cântico das Criaturas expressa esta liberdade interior e exterior conseguida pelo Santo de Assis. Só uma vida inteiramente aberta a Deus e ao Irmão é capaz de dar à criatura humana o gozo da libertação, que conduz à liberdade pura e santa com que Deus nos criou.


Conclusão

O próprio São Francisco escreveu a conclusão. Dando aos seus seguidores o nome de FRADES MENORES, ele disse tudo. O ser “frade”, o ser “irmão” e o ser “menor”, o ser “pequeno”, o ser “humilde”, o ser “servo” de todos, exprime todo o ideal franciscano, com o seu fundamento em Deus, o único Absoluto, sem ídolos, em total doação. Se os filhos e filhas de São Francisco, nas várias Ordens, Congregações, Institutos, vivessem, ao máximo, este ideal, novo sopro evangélico renovador purificaria o ar da Igreja e do Mundo.


(*) Dom Aloísio Lorscheider, OFM, escreveu este artigo para a Revista“Grande Sinal” quando era Cardeal-Arcebispo de Fortaleza, em 1982.