sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Volkswagen reconhece apoio à ditadura sob protestos de ex-perseguidos

 domtotal.com
Seguranças monitoravam as atividades dos empregados, facilitando a prisão e tortura de funcionários. VW também contratou um ex-chefe de campo de concentração nazista.
Volkswagen informa que não há planos de  ressarcimentos individuais aos trabalhadores envolvidos.
Volkswagen informa que não há planos de  ressarcimentos individuais aos trabalhadores envolvidos. (Volkswagen/Divulgação).

A Volkswagen do Brasil reconheceu nesta quinta-feira, 14, que deu  apoio ao governo militar e que houve repressão a funcionários dentro da  fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Na tentativa de se  reconciliar com o passado, a montadora inaugurou uma placa em memória a  todas as vítimas da ditadura e anunciou financiamentos a projetos  sociais. 

As ações, porém, não agradaram ao grupo de ex-trabalhadores que  participa de investigação conduzida desde 2015 pelo Ministério Público  Federal (MPF) sobre o envolvimento da empresa na ditadura militar,  regime adotado no País entre 1964 e 1985.

O relatório encomendado pela própria Volkswagen ao pesquisador  independente Christopher Kopper, professor da Universidade de Bielefeld,  na Alemanha - e apresentado oficialmente ontem no Brasil e no país  europeu - concluiu que a empresa foi "irrestritamente leal ao governo  militar". Cita ainda que seguranças da montadora monitoravam as  atividades de oposição dos empregados e facilitou, com suas denúncias, a  prisão de pelo menos sete funcionários.

Pelo menos um deles, Lúcio Bellentani, então com 28 anos e membro do  Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi espancado pela polícia política  nas dependências da fábrica. "O que a Volkswagen quer fazer é varrer a  sujeira para debaixo do tapete"  disse ele.

"É apenas uma ação de marketing, pois até agora a empresa não fez pedido  formal de desculpas à sociedade brasileira e não participou do  inquérito do MPF", completou Sebastião Neto, que coordenou o grupo de  trabalho sobre a repressão a trabalhadores e ao movimento sindical da  Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Kopper informou que a Volkswagen, "como outras empresas, se aproveitou  da política econômica daquele governo, teve enormes lucros" e que a  diretoria sabia das prisões. O pesquisador disse  contudo, que não há  evidências claras de cooperação institucionalizada por parte da empresa  na repressão aos empregados. Seu trabalho durou quase um ano.

Questionado sobre o surgimento atual de grupos em defesa da volta do  regime militar, Kopper afirmou esperar "que o Brasil nunca mais volte a  ter uma ditadura".

'Nada a esconder'

O presidente da Volkswagen da América do Sul e Brasil, Pablo Di Si,  afirmou que a empresa "não tem nada a esconder e está aberta ao diálogo  com as autoridades". Disse, porém, que no momento não há planos de  ressarcimentos individuais aos trabalhadores envolvidos.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana,  elogiou a ação da Volkswagen por ser a primeira empresa a reconhecer a  participação "nesse processo que não gostaríamos de ter vivido". Segundo Santana, concorrentes da marca, fornecedores, indústria química e o setor financeiro deveriam fazer o mesmo e reconhecer os erros do passado.

A placa inaugurada nesta quinta na ala 7 da fábrica, onde jovens  frequentam cursos de formação, traz a frase "Em memória a todas as  vítimas da ditadura militar no Brasil. Pelos direitos humanos democracia, tolerância e humanidade". 


Agência Estado

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