quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Como a história dos pastorinhos pode inspirar a valorização da infância

  Redação da Aleteia | Dez 13, 2017
George Perret | CC
Entrevista com Thereza Ameal, autora da biografia oficial para crianças de uma grande mensageira escolhida por Nossa Senhora

“Fátima e os três pastorinhos” (Edições Loyola, no Brasil), ou “Lúcia. A vida da pastorinha de Fátima” (Editora Lucerna, em Portugal), é a biografia oficial para crianças da grande mensageira escolhida por Nossa Senhora, nas suas Aparições em Portugal, há precisamente um século atrás.

Thereza Ameal, a autora escolhida pela Causa de Canonização da Irmã Lúcia, conta-nos como foi escrever este livro.

Aleteia – Como surgiu esta obra?

Thereza Ameal – Tudo começou quando, em 2005, coordenei o livro de contos infantis “Nossa Senhora na História de Portugal”. Nessa altura, ofereci um exemplar à Irmã Lúcia, que morreria nesse ano já quase com 100 anos de idade. Ela gostou muito, foi talvez o último livro que leu, e a obra ficou guardada no Carmelo.

Quando, no âmbito do seu processo de beatificação, foi decidido fazer uma biografia oficial para dar a conhecer a sua vida e levar a Mensagem de Fátima às crianças e jovens, lembraram-se de mim.

Aleteia – Qual foi a sua reação?

Thereza Ameal – Quando as Irmãs Carmelitas me fizeram este desafio, eu senti só uma enorme alegria, uma grande honra, e aceitei sem hesitar. Mas depois, quando comecei a pensar em termos práticos neste projeto, fiquei em pânico. A verdade é que escrever este livro foi uma autêntica aventura.

Aleteia – Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou?

Thereza Ameal – Foram muitas!

Para começar, o tamanho. Era preciso escrever um livro que passasse o essencial de uma vida de quase 100 anos, e dar a conhecer uma personalidade extraordinária, de forma muito concisa, porque um livro para crianças e jovens não pode ser muito grande.

Mas sobretudo, era necessário transmitir a Mensagem de Fátima, de forma teologicamente correta (a obra recebeu o Imprimatur), e sem omitir nada, numa linguagem fácil e atraente. Ora isso é muito difícil!

Imagine o que é falar de oração, penitência, sacrifício, reparação, obediência, às crianças de hoje em dia, tão protegidas de tudo o que são dificuldades…

Mais difícil ainda, falar das visões do inferno, algo completamente fora de moda! Atualmente, até muitos católicos preferem esquecer esse tema.

Ou explicar a importância da conversão da Rússia a crianças e jovens nascidos depois da queda do Muro de Berlim…

Aleteia – E tudo isso tinha que ser contado em linguagem atraente, fácil e alegre.

Thereza Ameal – Precisamente! Todos os dias eu rezava ao Espírito Santo, e pedia a intercessão de Nossa Senhora e da Irmã Lúcia. Tinha sempre sobre a minha mesa uma fotografia dela, que dedicou grande parte da sua vida a escrever, não só as suas “Memórias”, mas milhares de cartas; e nos momentos mais complicados, olhava para a sua imagem e gemia: “Por favor, eu não consigo, escreve tu!”. E não há dúvida que ela ajudava.

Aleteia – E como foi contar a vida de uma irmã carmelita? Para além do tempo das Aparições, não parece haver muito que contar.

Thereza Ameal – Na verdade, a Lúcia teve uma vida longa e verdadeiramente extraordinária. Não só em criança, nos seus encontros e diálogos com o Anjo e com Nossa Senhora, mas também depois. Acho que é melhor não contar tudo, mas posso dizer que para mim a sua vida foi uma grande descoberta. Antes de entrar no Carmelo, durante 25 anos ela foi Doroteia, esteve na Guerra Civil de Espanha, passou por grandes aventuras. Aliás, foi em Espanha que ela teve a Aparição em que Nossa Senhora lhe pediu que instituísse a devoção dos Primeiros Sábados.

Aleteia – Mas depois foi 50 anos carmelita.

Thereza Ameal – À partida não era fácil falar da sua opção pela vida contemplativa, que até muitos adultos não entendem, mas através das irmãs carmelitas que viveram com ela, descobri muitas facetas da sua personalidade. São conhecidas a sua a sua espantosa fortaleza e obediência à vontade de Deus e da Igreja, o seu “sim” constante. Mas foi com enorme surpresa que descobri a sua alegria e sentido de humor, que penso que estão bem presentes na biografia.  Apesar de falar de coisas tão sérias, acho que o livro é também muito divertido.

Aleteia – O fato do livro ser todo ilustrado, também ajuda muito a leitura.

Thereza Ameal – O Pedro Rocha e Mello fez um trabalho fantástico. Todas as páginas têm ilustrações que não só alegram e tornam o livro mais leve, como ajudam a visualizar toda uma época. Ele estudou ao pormenor cada detalhe: como eram as casas, as cores das roupas, tudo… A sua ilustração do Milagre do Sol baseia-se numa fotografia da época e é verdadeiramente extraordinária.

Aleteia – Por que a história de Lúcia e dos pastorinhos continua a conquistar os corações ainda hoje?

Thereza Ameal – Penso que por um lado, há este anseio em todos os corações por coisas grandes, por algo maior que nós. É um apelo do Céu. E também o fato dos protagonistas serem Maria, uma Mãe, e três crianças pequenas e simples com quem qualquer um se pode identificar. A vida dos três pastorinhos é um grande apelo à santidade. Todos nós, por vezes nos sentimos demasiado pequenos e fracos para ser santos, mas se eles conseguiram, então, com a ajuda de Deus, nós também podemos. Acho que essa é uma das mensagens que eles nos querem transmitir, é um desafio alegre e confiante.

Aleteia – Como a história dos pastorinhos pode inspirar a valorização da infância e o amor às crianças?

Thereza Ameal – Toda a vida destes três primos está repassada de amor. A forma como foram educados em famílias muito unidas e afetuosas, foi essencial para a sua formação espiritual. O amor do pai e da mãe da Terra são a melhor escola para abrir o coração ao amor de Deus. E esta escolha do Senhor pelos mais pequeninos, que Ele chama e nos dá como exemplo constantemente, são a melhor forma de Deus valorizar as crianças, que Ele não infantiliza, mas a quem confia até grandes missões, como esta de viver e transmitir uma Mensagem ao Mundo inteiro!

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