domingo, 2 de julho de 2017

Vidas entregues

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Comentário ao evangelho segundo Mateus capítulo 10,13-19, correspondente à Festa de São Pedro e São Paulo, ciclo A do Ano Litúrgico.
Neste domingo, Igreja do Brasil celebra a solenidade de São Pedro e São Paulo.
Neste domingo, Igreja do Brasil celebra a solenidade de São Pedro e São Paulo. (Reprodução Pixabay)
Por Ana Maria Casarotti*

Celebramos hoje a festa dos apóstolos Paulo e Pedro, dois grandes pilares do cristianismo. Por caminhos distintos os dois colaboraram em levar a Boa Nova do Reino aos mais pobres, àqueles que estavam “fora” de Jerusalém, quebrando assim os limites da tradição e separando-se cada vez mais do judaísmo tradicional. Duas personalidades diferentes, mas que a Igreja celebra numa mesma festa.

A leitura evangélica que se nos oferece hoje para meditar é um texto muito bonito e significativo, apesar de que muitas vezes são lembradas somente as últimas palavras de Jesus a Pedro: “Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu, e o que você ligar na terra será ligado no céu, e o que você desligar na terra será desligado no céu”.

A narrativa inicia-se com Jesus, que parte para terras estrangeiras depois de sua missão na Judeia. Cesareia de Filipe é o lugar escolhido como destino no meio de uma confusão crescente e uma aceitação discutida.

Nesse lugar Jesus dirige aos discípulos uma pergunta sobre o Filho do Homem: "Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?". Não questiona diretamente a opinião de cada um ou cada uma, mas faz uma pergunta aparentemente geral. Que escutaram do povo?

Como os discípulos recebem essa pergunta? Por trás das palavras que eles pronunciam é possível pensar nas perguntas que eles tinham. Quem é este homem? Como todos os judeus, eles aguardavam um Messias que seria o libertador das escravidões que sofriam pelo Império Romano e também de outras opressões impostas pelos dirigentes do judaísmo.

Pela sua resposta podemos concluir que Jesus era um profeta. “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas.” Era reconhecido pelo bem que realizava e pela sua preferência e defesa dos oprimidos, dos pobres, dos que sofrem as consequências do poder “sem respeito pela vida, sem justiça, sem misericórdia. E eis a que coisa leva a sede de poder: torna-se ganância que quer possuir tudo. Um texto do profeta Isaías é particularmente iluminador a este respeito. Nele, o Senhor adverte contra a ganância dos ricos latifundiários que querem possuir sempre mais casas e terrenos. E diz o profeta Isaías: ‘Ai de vocês que adquirem casas e mais casas, propriedades e mais propriedades até não haver mais lugar para ninguém e vocês se tornarem os senhores absolutos da terra!’ (Is 5, 8)”. (Disponível em: Papa Francisco: Isaías não era comunista, mas denunciava a avidez). 

João Batista denunciou a religião esclerosada do seu tempo e a corrupção generalizada pelos líderes. Foi um grande profeta como Isaías, Amós, Jeremias e tantos outros. (Reflexão de Raymond Gravel na festa da Natividade de São João Batista) 

E aparece agora uma segunda pergunta dirigida diretamente a eles e a elas, aqueles que estão o dia todo junto com ele, que possivelmente surpreendeu os discípulos: “E vocês, quem dizem que eu sou?”.

Hoje também recebemos esta pergunta: "E vocês, quem dizem que eu sou?”.

No trecho evangélico Pedro toma a palavra e, em nome dos demais, responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Mas, que quer dizer a palavra Messias? Lembremos que no tempo de Jesus, aguardava-se a vinda de um “filho de Davi”, reflexiona Marcel Domergue, “um herdeiro da realeza davídica que viria restituir aos israelitas a sua autonomia. Um libertador, portanto, mas também um soberano. (Disponível em: O mistério de Jesus)

Pelas suas palavras, Jesus disse a Pedro: "Você é feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. E a continuação lhe confia uma missão: “sobre essa pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la”.

Abre assim os olhos de sua comunidade, alertando-a que apesar das dificuldades não devem temer, porque “o poder da morte não poderá sobre ela”!

Jesus não afasta o sofrimento da vida dos discípulos, nem das diferentes situações que aconteceram nas comunidades, mas oferece a esperança de que a morte não terá a última palavra nem sobre o Cristo, nem sobre seu Corpo!

Fundada numa fé forte como a rocha e confiante nestas palavras de Jesus, as comunidades cristãs caminham entre luzes e sombras,  buscando servir os homens e as mulheres de todos os tempos como aprendeu de seu Mestre e Senhor, para que todos tenham vida, e vida em abundância.

Nesta festa, lembremo-nos de forma especial de todos os discípulos e discípulas de Jesus que, diante das ameaças de sua fé, preferem morrer e permanecer fiel ao Senhor, assim como aconteceu com “Os 21 cristãos coptas assassinados”, e peçamos ao Senhorconstruir comunidades com uma grande capacidade de entrega. 


*Ana Maria Casarotti é religiosa Missionária de Cristo Ressuscitado.

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