segunda-feira, 24 de julho de 2017

Uma nação de abatidos

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Vivemos num país de abatidos, (des)governados por um bando deliberadamente corrupto e imoral.
Quem mais sofre as consequências são os pobres, mas não significa que a classe média esteja imune a essas consequências.
Quem mais sofre as consequências são os pobres, mas não significa que a classe média esteja imune a essas consequências. (Divulgação Pixabay)
Por Felipe Magalhães Francisco*

Os ataques zumbis deixaram de ser ficção e se tornaram realidade. Ao contrário da ficção, não há uma luta entre zumbis e humanos. Não. Todos viramos zumbis. Quem se recorda de uma época em que houve tanto desânimo e tristeza em todos os lugares por onde passávamos? Atualmente, quantos sorrisos amarelos, sem energia, temos visto pelas ruas? É assustador! São tempos sem paixão. Cumprimos o que devemos cumprir, mas sem alma. Até mesmo as rodas de bar, antes tão empolgantes e descontraídas, estão imersas numa ambiência pesada, sem vigor. E no comando de toda essa massa danada, uma trupe sombria, vampiresca, que tomou de assalto o poder, apoiada por uma parte considerável dos que agora têm sua vitalidade sugada, depois de danças ao redor de um majestoso pato amarelo.

A meritocracia, nesse país, só dá certo, numa ocasião: quando os que têm privilégios se esforçam para garantir que os pobres permaneçam no lugar onde esse privilegiados julguem que devam estar. A classe média, historicamente, cede à manipulação dos poucos poderosos, colocando-se a serviço da destruição da soberania nacional e tudo o que seja tentativa de afirmação da dignidade de todos e todas, do amplo acesso aos direitos básicos e fundamentais. Quem mais sofre as consequências, por certo, são os pobres, mas não significa que a classe média esteja imune a essas consequências. A satisfação pela queda de Dilma, e a consequente saída do PT do poder, não veio. Não foi por falta de avisos.

Agora, padecemos todos: vivemos num país de abatidos, (des)governados por um bando deliberadamente corrupto e imoral. A sangria está sendo estancada: para repor o sangue perdido por eles, os vampiros não têm pudor de fazer sangrar toda a população, rindo de nossas caras. Nós, boquiabertos, assistimos tudo, estupefatos e paralisados: sentados numa poltrona, no centro de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, assistindo a banda do que há de mais podre no país, fazer seu show de horrores. Mas o desânimo revela que não temos esperança de que a banda irá, realmente, passar, deixando o caminho livre para que reconstruamos nosso orgulho e nossa dignidade, a partir dos cacos que restaram.

É preciso que reajamos. Não podemos ficar estagnados, como estamos, aceitando que nossa carne, sobretudo a dos mais pobres, seja mutilada, para tanto prazer de poucos poderosos, que mandam e desmandam no país desde sempre. Como sair desse lugar, como reassumir nossa vitalidade e paixão, é um desafio posto a cada um e a cada uma de nós. As religiões têm um importante papel nesse caminho de retomada de nossa força vital. Não há religião que não esteja a serviço da esperança. Se, por motivos muitos, as religiões se mantêm equidistantes, essa é uma hora urgente, na qual é preciso que unam forças, na realização de um Brasil novo possível, na esteira de uma terra sem males. Há muito o que ser feito e, somando-se cada sonho de realização de justiça, é possível a construção de uma nação digna desse Brasil, terra da diversidade que é nossa maior riqueza e beleza. Aos cristãos, a fé na ressurreição deve, agora, se fazer valer: em meio a tanta morte, num país de zumbis, façamos despontar os sinais de uma vida sem fim!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras. E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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