quarta-feira, 12 de julho de 2017

Significado apologético da Ressurreição

2017-07-12 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) – No nosso espaço Memória História – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar na edição de hoje sobre “o significado apologético da ressurreição”.

No programa passado falamos sobre a “historicidade da ressurreição do Senhor”,  oportunidade em que recordamos as palavras do Frei Raniero Cantalamessa: “A ressurreição é um acontecimento histórico, em um sentido muito particular. Ela está no limite da história, como aquele fio que separa o mar da terra firme. Está dentro e fora ao mesmo tempo. Com ela, a história se abre ao que está além da história, à escatologia. É, portanto, em certo sentido, a ruptura da história e a sua superação, assim como a criação é o seu começo. Isto significa que a ressurreição é um evento em si mesmo não testemunhável e atingível com as nossas categorias mentais que são todas ligadas à experiência do tempo e do espaço”, recordando que de fato, ninguém testemunhou o momento da ressurreição do Senhor, mas que ela é conhecida a posteriori, com as aparições de Jesus.

Na edição de hoje, Padre Gerson Schmidt nos fala sobre “o significado apologético da ressurreição”:

No nosso resgate histórico dos documentos do Concilio aqui nós lembramos a renovação do ano litúrgico sugerida pelos padres conciliares. Os padres no concilio propuseram, na Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, no número 106, a valorização do Domingo como o dia alegre de render graças pela ressurreição do Senhor. Declara o seguinte o documento base da renovação litúrgica:

“Por tradição apostólica que tem sua origem do dia mesmo da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o mistério pascal, naquele que se chama justamente dia do Senhor ou domingo. Neste dia, pois, devem os fiéis reunir-se em assembleia para ouvirem a palavra de Deus e participarem da eucaristia, e assim recordarem a paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os “gerou de novo pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos para uma esperança viva” (1 Pd 1,3)”.

Cantalamessa, na pregação da quaresma, falou do significado apologético da ressurreição. Frei Raniero Cantalamessa disse assim: “Passando da história para a fé, muda também o modo de falar da ressurreição. O do Aqui se está no nível da fé, não mais no da demonstração. É o que chamamos de kerygma. "ScimusChristumsurrexisse a mortuisvere", canta a liturgia do Domingo de Páscoa: "Nós sabemos que Cristo verdadeiramente ressuscitou". Não só acreditamos, mas tendo acreditado, sabemos que é assim, disso temos certeza. A prova mais segura da ressurreição se tem depois, não antes, que se acreditou, porque então se experimenta que Jesus está vivo”.

Cantalamessa diz ainda que a morte de Cristo não era, em si, suficiente para dar testemunho da verdade de sua causa. “Muitos homens - temos uma prova trágica disso em nossos dias - morrem por razões erradas, até mesmo por razões iníquas; a sua morte não torna verdadeira a sua causa; somente testemunha que eles acreditavam na verdade dela. A morte de Cristo não é a garantia da sua verdade, mas do seu amor, pois "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pela pessoa amada” (Jo 15, 13)”.

Somente a ressurreição nos dá a prova que Cristo é Deus. Cristo é Deus porque ressuscitou dos mortos. Nenhum homem fez essa façanha, de ressuscitar depois de morto. Cristo, assumindo a natureza humana, provou que não era só homem pela sua ressurreição. Cantalamessa afirmou assim: “Somente a ressurreição é o selo de autenticidade divina de Cristo”. Nossa fé está fundamentada sobre o kerigma.

São Paulo tem razão de edificar sobre a ressurreição, como seu fundamento, todo o edifício da fé: “Se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria nossa fé. Nós seríamos falsas testemunhas de Deus... seríamos os mais dignos de compaixão de todos os homens"(1 Cor 15, 14-15,19).

É possível compreender por que Santo Agostinho pode dizer que "a fé dos cristãos é a ressurreição de Cristo". Que Cristo tenha morrido todo mundo acredita, também os pagãos, mas que tenha ressuscitado, só os cristãos acreditam, e não é cristão quem não acredita (Cf. S. Agostinho, Enarr. in Psalmos, 120, 6 (CCL, 40, p 1791).

Por isso, a celebração do domingo, o tempo pascal, a pregação do kerigma depois de Pentecostes, traz esse significativo especial, dentro da vivência concreta de cada ano litúrgico que vivemos. Esperamos que não só no domingo, mas cada dia novo, possamos ter esse profundo sentido da ressurreição do Senhor, nos trazendo a alegria de que tudo se torna novo e regenerado pela vitória de Cristo, em nosso renascer pelo batismo, viver e morrer para ressuscitar. Não nascemos para morrer, mas morremos para ressuscitar".

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