segunda-feira, 10 de julho de 2017

Sexismo no Vale do Silício: escândalos se multiplicam

domtotal.com
O mundo do Vale do Silício é acusado há vários anos de sexismo e de tolerar o assédio sexual.
 Eileen Naughton, vice-presidente encarregada pelo setor de recursos humanos do Google, afirma que
Eileen Naughton, vice-presidente encarregada pelo setor de recursos humanos do Google, afirma que "quase metade" dos executivos são mulheres. (AFP).

San Francisco - Conduta imprópria, mensagens constrangedoras, pressões: mais e mais mulheres do setor de tecnologia denunciam o que chamam de "cultura sexista e de assédio" do Vale do Silício, dominado por homens, e os escândalos e demissões se multiplicam, como a do CEO da Uber.

Travis Kalanick, de 40 anos, renunciou em 21 de junho depois de uma série de demissões de funcionários e executivos, em meio a acusações de sexismo e assédio. O ex-CEO do aplicativo de transporte urbano privado, conhecido pelas piadas sobre suas conquistas femininas, foi acusado de incentivar uma cultura empresarial duvidosa.

O mundo do Vale do Silício é acusado há vários anos de sexismo e de tolerar o assédio sexual. Mas desde que uma ex-engenheira da Uber declarou publicamente em fevereiro em seu blog ter sido vítima de assédio - o que acabou por provocar a demissão de Kalanick -, os escândalos se acumulam.

No final de junho, Justin Caldbeck deixou sua empresa de investimentos Binary Capital depois que seis mulheres revelaram que receberam cantadas quando tentavam levantar fundos.

"Eu sinto muito", afirmou em um comunicado: "O desequilíbrio entre os investidores de capital de risco, homens, e as mulheres empresárias é assustador e estou horrorizado com o pensamento de que meu comportamento possa ter contribuído para criar um ambiente machista".

'Desafio duplo'

Dias depois, um outro investidor, Dave McClure, confessou que teve um comportamento inadequado, assediando várias mulheres no local de trabalho.

Dez mulheres acabavam de denunciar no New York Times a "cultura de assédio sexual" no Vale do Silício, algumas apontando para McClure e Caldbeck.

"É muito importante para denunciar esse tipo de comportamento (...), para que o setor possa reconhecer os problemas e lidar com eles", considera Katrina Lake, proprietária do Stitch Fix, que diz ter sido vítima de Caldbeck.

No Vale do Silício, "o desafio é duplo (para as mulheres), porque se trata de uma indústria amplamente dominada por homens - a tech - e o mundo das finanças", também amplamente masculino, explica à AFP Eliane Fiolet, francesa instalada no famoso vale desde 2000 e co-fundadora do site especializado Ubergizmo.

Segundo ela, o setor de tecnologia tem "apenas 10%" de mulheres.

No Google, 69% dos empregados são homens, uma proporção que sobe para 80% em posições de tecnologia, de acordo com seus dados mais recentes. "20% de mulheres, isso não é suficiente", admite Eileen Naughton, vice-presidente encarregada pelo setor de recursos humanos na gigante da internet, que afirma que "quase metade" dos executivos são mulheres.

Campanhas de boicote

No Facebook, as mulheres ocupavam apenas 27% dos cargos superiores em 2016. Na Apple, são 37% de mulheres no total. Ambos os grupos dizem que também trabalham para aumentar esses números.

Katheline Coleman, que chegou do Canadá em 2013 para trabalhar na região, foi atingida pela onipresença dos homens.

"Há uma espécie de zona cinzenta entre as reuniões profissionais e 'happy hours'" no fim do dia, afirma. Assim, muitos momentos de "networking" típicos do Vale do Silício são aproveitados por alguns homens sem escrúpulos, diz a investidora de risco à AFP.

Em 2014, Ellen Pao tornou-se um símbolo do sexismo no Vale do Silício ao processar por discriminação seu antigo empregador, a sociedade de capital de risco KPBC. Mas ela perdeu o caso.

Para Fiolet, fazer declarações públicas, sem necessariamente ir à justiça, "é muito mais eficaz porque pode levar a boicotes". Este foi precisamente o caso com a Uber.

Os diretores do grupo não se enganaram: preocupados, foram eles que forçaram Travis Kalanick a demitir-se, de acordo com a imprensa americana.


AFP

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