quarta-feira, 26 de julho de 2017

Para que serve um avô?

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Obrigada a todos os Vovôs e Vovós pela construção da linha de paisagem que possibilita o desenho de nossas vidas!
Tenham todos um feliz (presencial ou saudoso) dia dos avós!
Tenham todos um feliz (presencial ou saudoso) dia dos avós! (Pixabay)
Por Carolina Carneiro Lima*

Hoje, dia 26 de julho comemora-se o dia mundial dos avós e uma indagação me vem a mente: para que serve um avô?

Caso eu questione a um médico a resposta, com certeza, será sobre hereditariedade, cargas genéticas, traços fisionômicos e psicológicos.

Perguntando a um jurista, possivelmente, discorrerá sobre a responsabilidade e o poder familiar; podendo mencionar o legado de identidade e o vínculo de família existente nos sobrenomes (patronímicos).

Interpelando uma criança, provavelmente, a reflexão será aquela de que o ascendente é o único que, juntamente com o infante, infringe a regra capital que veda o consumo de guloseimas antes do almoço, sob pena de se perder o apetite! Ainda poderá completar que a aventura torna-se mais deliciosa porque, quando perpetrada com o avô, fica imune às admoestações.

Mas, se eu dirigir tal interrogação à, um dia adolescente, Isabel Guedes, a conclusão será outra, muito diferente... atingirá uma tarde do período de férias escolar na cidade de Itambacuri em que o vovô Políbio, mesmo sem saber, construiu a história de uma vida ou desenhou a paisagem de um roteiro profissional com seu exemplo e amor pela literatura.

Para ela a resposta à indagação proposta será “ajudar a descobrir a minha paixão na vida!”. O Sr. Políbio, nasceu no nordeste de Minas Gerais e carregou consigo, por toda a vida, o mesmo nome de um historiador e geógrafo da Grécia Antiga. Faleceu antes de conhecer alguns de seus netos, deixando, sem se dar conta, uma herança preservada na sua pequena biblioteca particular. Lá, a jovem Isabel com seus 16 anos encontrou uma biografia de Juscelino Kubitschek, em 3 volumes, que mostrava a trajetória política do mineiro de Diamantina que tanto agradou os olhos do avô, quando da primeira leitura do livro na casa da família Guedes.

O segundo volume descrevia o período em que JK foi prefeito de Belo Horizonte e perpetrou diversas obras na cidade alterando a sua estrutura urbana e sua paisagem.

Nesse momento, houve a fusão da paixão do vovô pela leitura com a recém conquistada paixão da jovem pelo estudo das Cidades. Os dados mencionados no livro foram, aos poucos, minuciosamente verificados quando, já em BH, pode deparar-se com as esquinas, ruas e avenidas descritas naquelas páginas que definiram parte de seu destino.

O Sr. Políbio não soube, mas ajudou (e muito!) na formação profissional e na vida adulta da neta que hoje atua na área do direito imobiliário, ambiental e notarial, jamais esquecendo que o amor pela leitura veio do exemplo e das histórias contadas em família sobre o avô e seu hábito literário.

Hoje, o vovô Políbio está no genótipo e na certidão de nascimento da Isabel, mas, sobretudo, imortalizado, de forma doce como as guloseimas, no coração e na gratidão por um avô que foi exemplo, mesmo quando a finitude humana chegou antes da presença física.

Os avós são muito mais que referências de afeto e amor. São exemplos graníticos como as serras, demonstrando solidez, segurança, temporalidade e um caminho a seguir. Os cabelos grisalhos e as rugas, parâmetros costumeiros para se referir a imagem dos avós (fatores que, diga-se de passagem, não mais coadunam com o perfil dos avós dos dias atuais, que conservam a aparência e o dinamismo dos jovens) mostram em si próprios a passagem do tempo na “paisagem” humana. Nela nos identificamos, nos recordamos e nos sentimos pertencidos. Os avós, assim como um determinado espaço geográfico, são o “lugar familiar” de onde viemos e para onde retornaremos...

Obrigada a todos os Vovôs e Vovós pela construção da linha de paisagem que possibilita o desenho de nossas vidas!  

Tenham todos um feliz (presencial ou saudoso) dia dos avós!

Em homenagem a uma História de Família contada, despretensiosamente, em uma tarde de quarta-feira, após a reunião do grupo de pesquisa MAPE.

*Carolina é graduada em Direito pela PUC Minas, especialista em Direito Público com ênfase em Direito Constitucional pela Universidade Cândido Mendes, mestre em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Escola Superior Dom Helder Câmara e integrante do Grupo de Pesquisa MAPE – Meio Ambiente, Paisagem e Energia da ESDHC.

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