quinta-feira, 20 de julho de 2017

Moro esconde fraqueza para condenar Lula



PAULO MOREIRA LEITE

O jornalista e escritor Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília

Como se não bastasse um sentença errada no mérito -- pois não se provou a culpa do réu -- há uma razão política óbvia para as novas medidas de Sérgio Moro contra Lula,  como o confisco de imóveis e o bloqueio de suas contas bancárias. 


São medidas preventivas, mais uma vez baseadas em suspeitas e nenhuma prova de crime. Ajudam no espetáculo e isso é o principal agora. Como no triplex, cujo dono é a   OAS, quem sabe a Caixa. Qualquer um,  menos Lula.  

Nesta situação, procura-se alimentar  os meios de comunicação que se dedicam a "deslegitimar" Lula desde o início da Lava Jato. O conceito se encontra no conhecido texto de Moro sobre a operação italiana Mãos Limpas, escrito em 2004.

 Ali se aponta para a necessidade da Justiça  criar um ambiente social desfavorável a políticos cuja condenação pode provocar reações imprevisíveis por parte da população.

 É um  cuidado ainda mais necessário quando se recorda que a segunda etapa do processo contra Lula, no TRF-4 ocorre  num ambiente de consagração de sua candidatura, em meio a críticas e manifestações de crescentes de desconfiança quanto à consistência das acusações contra ele por parte de vozes respeitáveis dos meios jurídicos.

Numa campanha onde o principal adversário de Lula, hoje, é Jair Bolsonaro, a conversa sobre uma versão tropical do francesa Emanoel Macron pode adquirir um inesperado sentido.   

Nesta situação, é indispensável criar um clima --  inteiramente artificial -- contra Lula, um já-perdeu, para enfraquecer  a defesa de  uma candidatura legítima, abrir caminho para uma desistência e até abrir o debate sobre alternativas mais palatáveis, dentro ou fora do PT. Com uma reconhecida  noção sobre o efeito político de suas decisões, a ação jurídica de Moro tem um impacto direto sobre o fator que mais interessa -- o apoio da população a Lula.

 Este é o sentido do circo punitivo que se assiste nos dias de hoje.

Uma coisa é condenar um político que já não conta com o amparo de aliados e eleitores. Esta é a situação ideal para quem pretende impor a tutela da Justiça sobre o direito da população de escolher quem deve governar o país.

Outra, muito diferente, é ir para cima de um candidato em boa saúde política, protegido pelo apoio popular, capaz de responder a uma medida de perseguição através de uma versão várias vezes multiplicada, em outro patamar como protesto político, daquela reação ocorrida durante a condução coercitiva para um depoimento no Aeroporto de Congonhas.

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