domingo, 30 de julho de 2017

Centro do poder ou 'circo dos horrores', Câmara dos Deputados define futuro de Temer

domtotal.com
Com o final do recesso em agosto, a câmara voltará aos holofotes do cenário político.
Se os deputados votarem contra Temer e o caso for a juízo no STF, ele fica afastado por até 180 dias.
Se os deputados votarem contra Temer e o caso for a juízo no STF, ele fica afastado por até 180 dias. (AFP).

A Câmara dos Deputados pode ser considerada o principal palco do poder no Brasil, com 513 parlamentares de 26 partidos, cujas alianças, intrigas e traições decidem o destino do país e têm agora em suas mãos o futuro do presidente Michel Temer, envolvido em acusações de corrupção.

Com o final do recesso em agosto, a câmara voltará aos holofotes do cenário político, como aconteceu no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando ao longo de três dias de insultos, referências a Deus e discursos extravagantes foi considerada um "circo de horrores".

A Câmara tem 190 de seus membros (37% do total) investigados pela Justiça, quatro condenados e um já preso, Celso Jacob (PMDB), que pode legisla durante o dia graças ao regime semi-aberto, antes de voltar para dormir na sua cela.

Dominada pelo "Centrão", a bancada "BBB" (boi, bíblia e bala), a Câmara decidirá se a acusação de que Temer cobrou suborno da JBS deve ser encaminhada ou não para o Supremo Tribunal .

Nessa sessão prevista para o dia 2 de agosto estará em jogo - mais uma vez - o futuro da Presidência da principal economia da América Latina.

A oposição deve reunir 342 votos para que o processo vá adiante. Trata-se de um número bastante alto, mas Temer parece fragilizado pela possibilidade de novas denúncias serem apresentadas pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot.

O poder por trás do poder

Segundo a socióloga Débora Messenberg, da Universidade de Brasília, 73% dos deputados federais pertencem à bancada "BBB".

A deputada Érica Kokay, do Partido dos Trabalhadores, acredita que o fator determinante para esse perfil foram as doações corporativas às campanhas.

"Temos muito poder econômico determinando os mandatos financiando as candidaturas e ao mesmo tempo dominando os próprios mandatos", diz. "

"Temos uma miríada de partidos representados na câmara. Os partidos, eles se fragilizaram e já não representam um campo de ideias, projetos que sejam discutidos com a própria sociedade. Com esse nível de fragmentação partidária, aparece um crescimento das bancadas suprapartidárias. As bancadas de interesse passam a ter um poder muito grande", acrescenta.

Para Messenberg, esse quadro obedece à capacidade de traduzir afinidades em votos, como no caso das igrejas evangélicas. "Essa marca conservadora esta ligada a uma capacidade de organização desses interesses", afirma.

Brasil, país conservador

O papel do "Centrão" foi determinante no impeachment de Dilma Rousseff, acusada de manipular as contas públicas. O processo foi conduzido por Eduardo Cunha, que atualmente cumpre pena de 15 anos de prisão.

Enquanto isso, o deputado Jair Bolsonaro sobe nas pesquisas para as eleições de 2018 com seu discurso que não poupa elogios ao regime civil-militar (1964-1985).

Para o deputado Marcos Rogério (DEM), membro da frente evangélica parlamentar, não há muito a ser analisado.

"O Parlamento voltou a se encontrar com as caraterísticas do Brasil, que é um país conservador e tradicional", define.

"Eu vejo um embate muito grande em relação a isso, que tem como argumento o Estado chamado laico, mas não dá para dissociar as pessoas de suas preferências religiosas. (...) Vejo com naturalidade as criticas, mas elas não podem afastar o direito dos cidadãos e de seus representantes de professar sua fé", argumenta.

Em jogo

Uma pesquisa do Instituto Ipsos mostrou nesta semana que 84% dos brasileiros considera que o governo Temer é ruim ou péssimo. Desde que assumiu, seu apoio se manteve abaixo de 15% e atualmente está em 7%, segundo o Datafolha.

"Mas ganhou todas as votações no Congresso, inclusive as posteriores à denúncia" de que Temer recebeu um suborno de JBS, disse uma fonte do Palácio do Planalto.

Três vezes presidente da Câmara, Temer chegou a ter do seu lado a mais de 20 dos 26 partidos representados no Congresso, antes de perder parte de sua base por causa do escândalo.

Se os deputados votarem contra Temer e o caso for a juízo no STF, ele fica afastado por até 180 dias.

Consciente dos riscos, o presidente liderou a batalha em uma comissão que avaliou seu caso antes de enviá-lo ao plenário e saiu vitorioso.

Fontes do governo acreditam que essa vitória deixou uma pequena margem para que ele seja afastado.

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AFP

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