segunda-feira, 24 de julho de 2017

A lua cheia, às vezes

domtotal.com
Às vezes tem feito lua cheia e me pego perguntando que tipo de influências as "luas" exercem sobre nossos cotidianos.
Às vezes tem feito lua cheia e eu penso em lobos e desertos, mas essa geografia não está disponível pelas vizinhanças.
Às vezes tem feito lua cheia e eu penso em lobos e desertos, mas essa geografia não está
 disponível pelas vizinhanças. (Divulgação)
Por Ricardo Soares

Às vezes tem feito lua cheia e eu penso em “sereia” como rima. Não, não, péssima ideia até porque as sereias são traiçoeiras. Às vezes tem feito lua cheia e eu penso em lobos e desertos, mas essa geografia não está disponível pelas vizinhanças. Aí olho para os prédios sujos em volta e lembro de onde estou, com quem não estou, para onde eu vou ou não vou.

Às vezes tem feito lua cheia e me pego perguntando que tipo de influências as “luas” exercem sobre nossos cotidianos. Quiçá sejam boas porque estamos a precisar de novos caminhos, desafios e todas aquelas balelas que nos dizem quando o país inteiro precisa de ajuda. Há amigos e amigas que estão longe. Uma delas a desfrutar o sol da Córsega olhando o Mediterrâneo com calor sem saber o que se passa por aqui. A outra em San Francisco recebendo de manhã a brisa friazinha pensando sem nostalgia em dias passados menos conturbados.

Entra em mim agora uma música de João Donato, suingue batuta. A música chama-se “Nua Idéia” e traz de volta a utopia de um país tropical mas sem ufanismos. Música brasileira na veia, sem axés, breganojos e forrós estercos. Não sei nem bem porque, mas volto então a um Rio dos anos 50 do século 20, época tão festejada de um país que tinha esperança atrás do sorriso de JK. De lá para cá...

Reticências afora e esperanças adentro, lembro pois que o mote da crônica é a lua cheia que às vezes aparece, impávido colosso agora empanado por uma luminária idiota de rua que colocaram defronte à minha casa. Abro então o portão azul, olho para trás e me vejo entrando na mesma casa, portão pintado de outra cor, há quase 15 anos. E constato que sim “é melhor ser alegre que ser triste”. E que o maior desafio agora é manter a mente aberta, a espinha ereta e o coração infartado tranquilo. Não tem sido fácil, mas às vezes tem feito uma lua cheia e isso ajuda bastante.

*Ricardo Soares é escritor, diretor de TV, roteirista e jornalista. Publicou 8 livros e dirigiu 12 documentários. Escreve às segundas e quintas-feiras para o DOM TOTAL.

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