sexta-feira, 2 de junho de 2017

O Papa Francisco está curando as relações católico-pentecostais

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Em muitos lugares, evangélicos pentecostais compartilham o louvor, o culto, a música e os estudos bíblicos com os carismáticos católicos.
Papa se ajoelha e recebe oração dos fiéis presentes em Roma para a comemoração dos 50 anos do movimento carismático católico.
Papa se ajoelha e recebe oração dos fiéis presentes em Roma para a comemoração dos 50 anos do movimento carismático católico. (Daniel Ibanez/ CNA).

A amizade muito pública e as aberturas do Papa Francisco com os líderes pentecostais e evangélicos é um reflexo da importância de um relacionamento que já existia nas bases entre os carismáticos católicos e alguns dos seus vizinhos cheios do Espírito, disseram os líderes da renovação.

Enquanto alguns pentecostais em algumas partes do mundo, especialmente na América Latina, têm uma reputação de tentar convencer os católicos de deixar a igreja, a realidade da relação católico-pentecostal é muito mais variada.

Em muitos lugares, eles compartilham o louvor, o culto, a música e os estudos bíblicos com os carismáticos católicos. Eles trabalham juntos para proclamar a todos que Jesus é o Senhor e lutam um ao lado do outro para alimentar os pobres e defender as crianças.

O Papa Francisco convidou cerca de 300 líderes pentecostais e evangélicos em Roma para se juntarem a um grupo de aproximadamente 30.000 carismáticos católicos na celebração do Pentecostes e para comemorar o 50º aniversário da renovação carismática católica.

Apresentando as celebrações, que terão lugar do dia 31 de maio ao dia 4 de junho, Salvatore Martinez, presidente da Renovação Carismática da Itália, chamou os movimentos carismáticos e pentecostais de "o maior despertar espiritual do século XX" e observou como movimentos similares do Espírito impactam as igrejas Anglicana, Protestante, Católica e Ortodoxa.

Reconhecendo que "é precisamente o Espírito Santo que cura divisões", como o Papa mesmo disse, ele queria uma celebração ecumênica.

Na verdade, muitas comunidades carismáticas têm uma associação mista e ecumênica, falou Michelle Moran, presidente dos Serviços de Renovação Carismática Católica Internacional do Vaticano (ICCRS).

Além de oração e ação compartilhada, ela disse, os carismáticos católicos estão envolvidos no diálogo teológico oficial com os cristãos pentecostais.

O diálogo patrocinado pelo Vaticano com os pentecostais e os evangélicos é um pouco diferente dos outros diálogos ecumênicos, que também estão trabalhando para a restauração da plena unidade, inclusive na doutrina, no ministério e nos sacramentos.

"Os católicos, os ortodoxos, os anglicanos e os protestantes provêm da mesma tradição e experiência histórica da igreja do primeiro milênio e mais", explicou o bispo Brian Farrell, secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

"Pentecostais e evangélicos", ele disse ao Serviço Católico de Notícias, "vêm de uma experiência histórica muito diferente, eles têm uma compreensão completamente diferente da igreja, do sacramento, do ministério e da missão. O objetivo do diálogo, então, tem que ser diferente".

"Com estes novos grupos religiosos, o objetivo ecumênico é uma maior compreensão e cooperação mútua para testemunhar a mensagem cristã", aponta ele, dizendo que, com muitos deles, a Igreja Católica concorda em "questões morais e éticas fundamentais", o que dá lugar a uma cooperação prática na defesa e promoção da visão bíblica da pessoa humana e da sociedade.

Enquanto alguns pentecostais têm uma atitude "exclusivista e anti-ecumênica, às vezes particularmente anti-católica", muitos outros se concentram na fé compartilhada em Jesus e na experiência comum do derramamento do Espírito Santo, disse o bispo Farrell.

"Onde o diálogo é possível", disse ele, o Papa Francisco "está pronto e disposto".

E, segundo ele, enquanto outros grupos estão atraindo católicos, a primeira questão deve ser "O que falta em nossa pastoral". Os católicos estão suficientemente atentos à Palavra de Deus nas Escrituras? Eles têm uma imagem positiva de Deus e uma experiência positiva de vida em sua igreja local? Em sua paróquia e bairro, eles criam uma comunidade operativa real, solidária e de cuidado mútuo?

"O fato de que tantos católicos e protestantes sejam atraídos para os novos grupos religiosos é um apelo a um exame sincero de consciência e ao trabalho dedicado por parte dos católicos", disse o bispo.

Onde a relação carismática católica com os pentecostais é positiva, oferece-se um exemplo de "ecumenismo espiritual", que supõe não só um acordo sobre os pontos teológicos, mas sobre a oração comum.

Contudo, o relacionamento também é um exemplo do que se chama "ecumenismo receptivo", o processo pelo qual os cristãos divididos reconhecem que os presentes também podem se beneficiar.

Os católicos têm muito a oferecer aos pentecostais, começando com a liturgia, seu mistério e o senso de sacrifício, disse Martinez. Mas também, com um foco tão forte na leitura da Bíblia, os pentecostais também se beneficiam dos escritos e reflexões dos teólogos da igreja primitiva. "Eles são um tesouro inestimável para todos os cristãos", e oferecem orientações importantes para a leitura e compreensão das Escrituras.

Dos pentecostais, Martinez disse que a primeira coisa que os católicos podem aprender é "o amor ao Espírito Santo, que continua a ser o grande desconhecido para a teologia católica".

Outra coisa, ele acrescentou, trata-se da sensação de experiência de fraternidade e comunidade pentecostal, mesmo em suas super-igrejas. "Em nossas paróquias e igrejas às vezes podemos nos sentir anônimos. No caso dos evangélicos em geral, vemos o foco no indivíduo e no acompanhamento espiritual como uma grande graça".

Para o bispo Farrell, os pentecostais geralmente se destacam pelo tipo de alegria e entusiasmo na partilha do Evangelho que o Papa Francisco tanto encoraja.

"A experiência direta da graça salvadora de Deus é o antídoto perfeito para uma fé morna e fraca e para esse tipo de catolicismo cultural que muitas vezes prevalece", disse o bispo. "O envolvimento pessoal na evangelização, o engajamento em ações genuínas de serviço aos outros, um sentimento de gratidão a Deus por cada benção e até por toda dificuldade na vida. Isso é o que podemos aprender imediatamente de nossos irmãos e irmãs carismáticos. Não é algo secundário nem acessório".

America
Tradução: Ramón Lara

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