sábado, 24 de junho de 2017

Nossos medos

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Comentário à liturgia da XII Semana do Tempo Comum, Ano A, Mateus 10, 26-33.
A fé não cria homens covardes, mas pessoas resolutas e audazes.
A fé não cria homens covardes, mas pessoas resolutas e audazes. (Divulgação)

José Antonio Pagola*

Quando nosso coração não é habitado por um amor forte ou uma fé firme, nossas vidas ficam facilmente a mercê de nossos medos. Às vezes é o medo de se perder prestígio, segurança, comodidade ou bem-estar aquilo que nos impede de tomar decisões. Não nos atrevemos a por em risco nossa posição social, dinheiro ou pequena felicidade.

Outras vezes, o medo de não sermos acolhidos nos paralisa. Atemoriza-nos a possibilidade de ficarmos sós, sem a amizade ou o amor das pessoas, ter que enfrentar a vida diária sem a companhia próxima de alguém.

Com frequência vivemos preocupados em apenas estar bem . Dá-nos medo parecer ridículos, confessar nossas verdadeiras convicções, testemunhar nossa fé. Tememos críticas, comentários e rejeição dos demais. Não queremos ser classificados. Outras vezes nos invade o medo do futuro, o qual não vemos claro. Não temos segurança em nada. Talvez não confiemos em ninguém. Dá-nos medo enfrentar o amanhã.

Tem sido tentador aos que creem buscar na religião um refúgio seguro que liberte dos medos, incertezas e temores. Mas seria um erro ver na fé a muleta fácil dos frouxos, covardes e assustados.

A fé que se deposita em Deus, quando devidamente compreendida, não conduz os fieis a fugirem de suas próprias responsabilidades ante os problemas. Não lhes leva a evitar conflitos para se isolarem comodamente. Ao contrário, é a fé em Deus aquilo que preenche seus corações com força para viver mais generosamente e de maneira mais ousada . É a confiança viva no Pai que lhes ajuda superar covardias e medos para defender com mais audácia e liberdade o reino de Deus e a sua justiça.

A fé não cria homens covardes, mas pessoas resolutas e audazes. Não encerra os crentes em si mesmos, mas os abre sempre mais à vida com seus problemas e conflitos cotidianos. Não lhes envolve na preguiça e comodidade, mas lhes incentiva a estabelecerem compromisso.

Quando alguém que crê escuta de verdade em seu coração as palavras de Jesus: "Não tenhais medo", ele não se sente convidado a fugir de suas obrigações. Ao contrário, é incentivado pela força de Deus a enfrentá-los.


Religión Digital - Tradução: Gilmar Pereira
*José Antônio Pagola é padre espanhol e doutor em Teologia e Ciências Bíblicas. Também é autor de diversos livros, entre eles "Jesús. Aproximación histórica".

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