sexta-feira, 30 de junho de 2017

"Há uma clara inflação de histórias de aparições marianas", diz postulador de canonização

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Depois das primeiras aparições de Medjugorje, mais de 800 casos foram identificados.
Da Bósnia para o Brasil, os relatos de aparições da Virgem Maria multiplicam. A Igreja Católica é cautelosa sobre o seu reconhecimento.
Da Bósnia para o Brasil, os relatos de aparições da Virgem Maria multiplicam. A Igreja Católica é cautelosa sobre o seu reconhecimento. (D. Giagnori / Archivolatino-REA)
Por Clémence Houdaille

Entrevista com Joachim Bouflet, consultor e postulador para várias causas de canonização.

Nos últimos anos, o fenômeno Medjugorje, ao qual o historiador Joachim Bouflet dedicou vários livros, resultou em uma série de supostas aparições em todo o mundo.

La Croix: Além de Medjugorje, existem atualmente outros lugares onde as pessoas relatam aparições marianas?

Joachim Bouflet: Depois das primeiras aparições de Medjugorje, mais de 800 casos foram identificados desde a Áustria até o Canadá, passando pela Austrália e Argentina... Nos Estados Unidos, muitos videntes dizem que tiveram uma primeira aparição em uma peregrinação na antiga Iugoslávia, e que continuou na volta para casa. Outros supostamente tiveram aparições depois de receber uma bênção e uma missão de Vicka, uma dos videntes de Medjugorje.

Não sei de nenhum ano desde as aparições de Fátima, em 1917, no qual não tenha ouvido falar de alguma visão de Nossa Senhora. Mas há uma clara inflação desses fenômenos depois de Medjugorje.

Quais caraterísticas se apresentam nessas diversas aparições?

JB: Na maioria dos casos, as mensagens são muito semelhantes às de Medjugorje. O próprio destas "novas aparições" é se sucederem no tempo a cada 30 ou 40 anos. Em outros lugares, vemos a influência indireta de Medjugorje em indivíduos que já ouviram falar sobre isso sem ter estado lá, mas têm visões sobre a mesma mensagem da "Rainha da Paz". Outras das características comuns são um anúncio de punição e uma forte crítica à Igreja e ao papa, particularmente a Francisco.

A maioria das aparições é duvidosa. Elas compartilham de alguma uma forma de sensacionalismo e uma série de segredos. Aquelas, no entanto, mais propensas a serem reconhecidas pela Igreja estão marcadas por uma submissão dos videntes à autoridade do bispo, pela sua discrição e vida exemplar.

Existem outras aparições que não se relacionam com Medjugorje?

JB: Podemos lembrar as aparições de El Escorial, Espanha, no início de 1980. Sem reconhecer essas aparições, a Igreja autorizou em 2012 a construção de uma capela. Em Itapiranga, no Brasil, o bispo reconheceu, em 2009, as aparições marianas ocorridas entre 1994 e 1999.

Em 2016, na Argentina, Dom Sabatino Cardelli reconheceu as aparições de San Nicolas, ocorridas entre 1983 e 1990. Na França, o culto público e as peregrinações são autorizados na localidade de L'Ile-Bouchard (Indre-et-Loire) desde 2001, depois das aparições de 1947. Os reconhecimentos destas aparições estão no caminho certo.

Há casos em que a Igreja condena relatos de aparições?

JB: Às vezes algumas aparições improváveis ​​são ignoradas pela Igreja devido à idade avançada do vidente. Mas, em outros casos, a Igreja se pronuncia como ocorreu com as aparições de Borg in-Nadur, em Malta, condenadas pelo bispo em 2016. Também no caso das aparições da "inocência divina", na Grã-Bretanha, que foram condenadas pelo Arcebispo em 2007, antes de uma sanção da Congregação para a Doutrina da Fé.

La Croix
Tradução: Ramón Lara

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