quarta-feira, 10 de maio de 2017

Curar a dor de uma Mãe

A Igreja não fala muito da depressão pós-parto. Algumas mulheres católicas estão mudando isso.


Para católicas que experimentam depressão pós-parto e ansiedade, a fé e as comunidades de fé podem ser um respiro de vida, mas também uma fonte potencial de culpa, vergonha ou frustração.
Para católicas que experimentam depressão pós-parto e ansiedade, a fé e as comunidades de fé podem ser um respiro de vida, mas também uma fonte potencial de culpa, vergonha ou frustração. (Divulgação)
Por Kerry Weber
Para Marissa Nichols, o momento decisivo acabou acontecendo uma noite em 2011 quando o marido dela saiu para comprar leite. Sentada no seu apartamento em Santa Clara, Califórnia, acompanhada da sua filha de dois anos e seu filho mais novo até então, ela começou se sentir profundamente sozinha e desesperada. Eram sentimentos que apareceram com o nascimento do seu segundo filho e se agravavam pelo fato das difíceis circunstâncias financeiras em que a crise econômica deixou à família. Nichols tinha largado o trabalho dela recentemente para se dedicar às crianças, enquanto seu marido ia de trabalhar como professor até treinar para se tornar um policial, o que significou noites e fins de semana na academia policial.
A única personagem durante grande parte do dia era Nichols, quem começou se sentir esgotada e abafada pelas tarefas de casa, tentando amamentar diariamente ao seu filho, enquanto também cuidava da sua outra filha, lavando roupa nas lavanderias sociais que ficavam perto de casa. O desânimo dela cresceu até virar antipatia, que cresceu no que ela descreve como um “desesperado ódio delirante". Constantemente se sentia agitada e então “parava, se quebrava internamente e fazia tudo de novo". Ela se achou descontando a sua raiva no marido e os dois brigavam frequentemente. Nichols ocasionalmente escrevia mensagens à irmã dela pedindo apoio, mas os dias continuaram devorando-a.
Ela desejava que sua vida familiar refletisse "esta aliança gloriosa entre Deus e a igreja", com crianças como "o grande fruto do nosso amor". Contrariamente, ela pensava: “Não, eu não quero que ‘frutifique’ mais. Eu só quero que todo o mundo me deixe em paz”. "Eu não podia me esforçar mais em amar algo ou alguém", ela disse. "Eu não tinha ninguém em quem confiar e não via razão em continuar viva".
Marissa Nichols e suas criançasEntão, aquela noite o seu marido partiu para comprar leite, algo na partida dele ativou uma reação em Nichols. Eu me sinto tão sozinha nisto, ela pensou. Ela fez uma ligação para a polícia em que falou com eles da sua preocupação de ferir-se a si mesma. Ela foi colocada voluntariamente, nessa noite, em uma casa de saúde mental e logo foi diagnosticada com depressão pós-parto.
A maioria das mulheres experiencia o que é chamado frequentemente de "Baby Blue”[1], sentimentos de tristeza e frustração, por aproximadamente 10 dias depois do parto, mas estes sintomas são tipicamente passageiros. Sintomas que duram muito mais tempo do que duas semanas podem ser um sinal de uma desordem de humor perinatal, como uma depressão pós-parto ou ansiedade. Aproximadamente uma entre sete mulheres experimentam alguma forma de depressão pós-parto. Esta é uma condição médica que varia amplamente em severidade e é marcada por sentimentos persistentes de raiva, vergonha, irritabilidade, culpa e uma inabilidade de se vincular com a criança. Os sintomas, frequentemente originados a partir de desequilíbrios hormonais ou químicos, podem ser ativados através de circunstâncias, incluindo o estado socioeconômico, a história de saúde mental anterior e as experiências no nascimento da criança como uma separação traumática, até o nascimento prematuro. A condição pode trazer impactos dramáticos no bem-estar das famílias, incrementando os níveis de stress no matrimônio e até pode trazer implicações de longo prazo para a saúde do bebê.
Dado a confluência complexa de fatores que contribuem a desordens de humor perinatais, o tratamento deve ser também completo, incluindo frequentemente o uso de medicamentos, terapia e grupos de apoio. Os medicamentos são frequentemente o primeiro passo do tratamento por serem mais rápidos na cura da depressão, porém, estudos também mostraram que crenças e práticas religiosas podem ser recursos úteis e adicionais no tratamento. De acordo com um estudo, em 2016, mulheres que assistiram a encontros religiosos foram menos propensas a experimentar depressão. Contudo, outro estudo do ano 2016, conduzido por investigadores da Universidade Estatal de Nova Iorque em Búfalo, achou que existem mais benefícios que as igrejas e as comunidades de fé podem oferecer para apoiar as mães que experimentaram depressão pós-parto, particularmente mulheres afro-americanas e Latinas cuia condição de risco aumentou 38 por cento. O estudo achou essas comunidades de fé, especialmente aquelas onde há "pessoas que estão dispostas a ajudar e pastores que estão dispostos a escutar", tem ajudado aliviar sintomas de depressão pós-parto nestas mulheres. Os investigadores sugeriram maior colaboração entre igrejas e líderes religiosos que poderia aumentar o impacto no número crescente de mulheres em busca de tratamento.
Apesar dos benefícios potenciais de uma comunidade de fé, mulheres católicas não acham comumente recursos católicos que pudessem ajudá-las na experiência dos desafios da depressão e da maternidade. O Papa Francisco reconheceu esta necessidade de apoio prático para todas as mães no dia 7 de janeiro de 2015, quando falou: "Apesar de ser louvada gloriosamente de um ponto de vista simbólico, muitos poemas, muitas coisas belas que se falam dela, a mãe raramente é ajudada na vida diária, ou ainda, é considerada no seu papel central na sociedade". Acrescentou: "Ainda hoje, o centro da vida da igreja é a mãe de Jesus".
Durante as profundidades da depressão, Nichols, agora de 35 anos de idade e mãe de quatro crianças com idades entre 9 e 11 anos, voltou-se para a fé, mas no princípio isto só fez ela se sentir mais frustrada. "Eu fui para me confessar e me lembro de estar com tanta raiva", ela disse. "Eu sentia que Deus tinha me enganado completamente com tudo isto. Eu li A Teologia do Corpo. Acreditei e amei isto. Entendi o método natural de controle de natalidade, mas eu me sentia confusa com todo isto. Eu sentia: Isto não é da mesma forma que se supõe deveria ser".
Nichols sente muita paz hoje com a sua fé, mas continua sentindo a pressão de uma sociedade americana que frequentemente espera que as mulheres sejam todas as coisas para todas as pessoas. Ela continua esperando por mais ajuda da igreja na sua busca de um equilíbrio saudável.
"A sociedade diz que você precisa poder fazer tudo, e se não, você é um fracasso ou você desperdiçou sua educação", Nichols falou. "Eu não preciso alguém para me falar sobre como usar meu diploma ou citar o Catecismo para mim. O que você acha de vir e me ajudar? Eu sou uma taxista; sou uma cozinheira; sou uma doutora. E as pessoas ainda pensam, Oh, você é uma mãe dessas que não sai de casa, isto é um ataque contra mim aos olhos do mundo ou, aliás, algo em que a igreja realmente não sabe como ajudar”. Nossa igreja faz tanto tão bem: missões para o pobre, para crianças, para prisioneiros. Todavia, há algo que está perdendo, se as mães estiverem sentindo desta forma. “Há algo que precisamos fazer e não estamos fazendo”.
Mãe de misericórdia.
Para as mulheres Católicas que experimentam depressão pós-parto e ansiedade, a fé e as comunidades de fé também podem ser um respiro de vida, mas também uma fonte potencial de culpa, vergonha ou frustração. No mesmo ano de 2015, o Papa Francisco descreveu as mães como "um grande tesouro", "o antídoto para o individualismo" e "os maiores inimigos da guerra". Estes são palavras de acolhida e de respeito, mas para as mães que lutam com depressão pós-parto e ansiedade, podem se sentir desconectadas do papel delas na sociedade e, inclusive, das suas crianças. Uma versão idealizada da maternidade pode parecer impossível de viver e pode exacerbar sentimentos de isolamento e fracasso espiritual.
Logo após a filha mais velha dela nascer, Gina Parnaby estava escovando os dentes no banheiro enquanto seu marido estava pondo a filha dela para dormir. A filha de Parnaby estava inquieta e Parnaby sentiu que o som do choro da filha a estava irritando extremamente. Se eu tivesse uma arma, ela pensou, eu atiraria neles e depois em mim mesma. Quando o marido dela acabou de pôr a filha para dormir ele achou Parnaby no chão do banheiro em uma poça de lágrimas. "Eu não sei o que acontece”, ela lhe falou, "mas preciso de ajuda".
Através do seu emprego, numa escola Católica, Parnaby, de 37 anos, agora mãe de três filhas com idades entre 8, 7 e 3 anos, em Roswell, Geórgia, teve acesso direto a um programa de ajuda de empregados que vincula os indivíduos a profissionais de saúde mental. Ela foi diagnosticada logo com depressão pós-parto. A diagnose foi particularmente um indutor de culpa para Parnaby porque ela e o seu marido tinham lutado muito tempo contra a infertilidade. "Porque nós tínhamos rezado tantas vezes e tão fervorosamente e tanto para ter somente esta criança. Eu estava lutando com ingratidão", Parnaby disse. Ela sabe agora que a infertilidade é uma condição que, além dos sofrimentos óbvios, também pode aumentar as chances de desenvolver depressão pós-parto.
"Nossa imagem da maternidade, inclusive na Igreja Católica é frequentemente a Maria calma, bonita e serena e isso nem sempre é a realidade da maternidade", Parnaby acrescentou. “Você sente como se houvesse algo errado com você, como se você não estivesse perfeitamente feliz e brilhando como mãe”. Parnaby teve uma devoção a Maria de toda a vida e se sentir longe de Maria durante a depressão, deixou-a se sentindo mais isolada. Mas Parnaby achou conforto mais adiante, aprofundando na espiritualidade mariana, especialmente através da devoção a Nossa Senhora das Dores. "Eu penso que Maria entende isto", ela disse. "Mas eu não penso que todas nossas imagens dela entendem da mesma forma".
Como professora, Parnaby ofereceu palestras às suas alunas sobre infertilidade e depressão pós-parto, mas ela também espera que a igreja entenda que não são só as mulheres que precisam estar atentas de tais coisas. "Pastoralmente, isto precisa estar no radar do clero", ela disse. "Se um padre se sentasse com uma família para fazer a papelada batismal ele poderia dizer: 'Como vocês estão se sentindo? Como você está levando as coisas? Se você precisar de ajuda ou apoio, aqui estão os recursos que disponibilizamos para vocês. E aqui estão alguns recursos para as mães Católicas... O que são os sinais de depressão pós-parto? E como nós podemos ajudar?'".
Uma maior consciência do transtorno de humor perinatal também entre mulheres Católicas poderia ajudar superar o estigma que muitas mulheres sentem ao tentar discutir a condição delas com outros. Sara Snapp, de 32 anos, de Colorado Springs, Colorado, experimentou uma depressão pós-parto depois dos nascimentos das suas duas filhas, agora de 8 e 21 anos de idade respectivamente. Ela teve dificuldade para se vincular com as suas filhas e buscou conforto na fé e na sua comunidade de fé. Porém, quando ela tentou expor o tópico no grupo de mães da paróquia dela, ela se encontrou, disse, "com obstáculos". Ela nunca ouviu o tema sendo discutido na Missa ou na sua paróquia. Ela começou a orar e tentou rezar diariamente.Jena Booher e família
"Eu tentava imaginar o que a Mãe Santíssima faria e continuava pensando que ela seria mais paciente do que eu e viveria a abundância do amor de Deus de um modo que eu não era capaz de viver", ela disse. Eventualmente, Snapp expressou esta preocupação ao doutor. "Eu lhe falei que me sentia como uma cristã ruim porque eu não podia superar a depressão com o poder da oração. Ele respondeu: 'você sentiria que alguém é um cristão ruim porque precisa de remover o apêndice?' e eu disse: 'Não, isso seria uma loucura' E ele disse, 'Pois é.'"
Com o passar dos anos, Snapp tem crescido de forma mais consolada partilhando sua experiência. "Nós falamos sobre maternidade que é uma vocação santa, mas é muitas vezes completamente ignorada em nossa vida de comunidade”, ela apontou. "Eu adoraria ver diaconisas, de forma que as mulheres pudessem compartilhar afetuosamente suas experiências de vida em uma posição onde elas adquirissem um pouco de respeito. Para dar às mulheres a chance de falar, os fiéis todos poderiam se abrir a conversações totalmente novas".
Uma continuação do cuidado.
Indubitavelmente, o potencial de apoio católico para as mulheres que atravessam pela depressão pós-parto se estende além dos muros da igreja. Os médicos Católicos e hospitais têm o potencial para serem pontos de contato cruciais para mães em necessidade. A Dra. Marguerite Duane, clínico geral em Washington, D.C., e professora associada na Universidade de Georgetown, trabalhou durante vários anos em um centro de saúde comunitário com fundamentos religiosos onde ela ajudou nos nascimentos de aproximadamente 300 bebês em cinco anos. Duane achou que o papel dela como médico clínico lhe permitiu entende melhor as vidas dos seus pacientes antes, durante e depois da gravidez, dando-lhe uma melhor chance de identificar problemas pós-parto.
"Não é verdade que eu vejo só os pacientes algumas vezes, senão que eu acabei formando um vínculo com eles", ela disse. "Eu consegui entender o que era normal para eles e o que não era".
Como uma das fundadoras do Centro de Avaliação de Fertilidade e Ensino Científico, a Dra. Duane também trabalha para educar os médicos e profissionais de saúde nos princípios básicos de fertilidade, métodos baseados na consciência de planejamento familiar, para que os profissionais da saúde possam prover um melhor apoio às famílias que usam estes métodos. Para mulheres Católicas que escolhem estes métodos, o período pós-parto pode ser um tempo crucial de necessidade de apoio, de acordo com a Dra. Duane, como resultado da frustração e do stress referente ao uso de métodos de controle de natalidade naturais é comum acontecer um transtorno de depressão perinatal, muitas vezes devido à pressão de doutores ou comunidades católicas.
"Um dos desafios é você querer tratar [a depressão ou ansiedade], mas também querer tratar as condições que levam até a depressão, assim em alguns casos, há uma necessidade forte de adiar outro bebê", a Dra. Duane disse. "E uma mulher pode estar sob pressão de um médico bem-intencionado que sugere para sua paciente um controle de natalidade, o que pode acrescentar ao conflito ou à tensão que sentem as mulheres. Alguns doutores podem ser descuidados e encorajar uma mulher a renunciar a um aspecto da sua fé, o qual pode ser parte da cura, podendo agravar o conflito interno e arruinar a confiança dela num método de controle de natalidade que pode ser usado de maneira muito efetiva".
A Dra. Duane expressou que outra fonte de pressão para mulheres que lutam com depressão pós-parto pode vir de Católicos bem-intencionados. “Pode haver um distintivo de honra entre algumas pessoas que pensam que enquanto mais crianças você tem, melhor católico você é”, a Dra. Duane disse. "Mas o Papa Paulo VI não pediu às mulheres para terem tantas crianças quanto podem; ele disse que se houverem razões sérias para um casal adiar uma gravidez, pode se usar o planejamento familiar natural para adiá-la. E para um casal que adia a gravidez e que precisa lidar com a depressão pós-parto, com os comentários ruins ou com a crítica de amigos católicos bem-intencionados que perguntam quando eles planejam ter mais crianças, devem ter cuidado de não se deixar arruinar a experiência de fé".
Profissionais de cuidado médico, compreensivos e seviciais, podem trilhar um longo caminho para oferecer uma melhor continuidade no cuidado para mulheres. O St. Joseph Hospital em Orange, Califórnia, um sócio da Aliança de Saúde Católica, atende partos de até aproximadamente 5.000 bebês por ano. O hospital garante que cada mãe seja examinada usando a escala Edimburgo de Depressão Pós-natal, um instrumento de 10 perguntas que avalia o risco de uma mãe sofrer depressão pós-parto. Katie Monarch é terapeuta e fundadora do programa do hospital que Cuida de Mulheres com Depressão decorrente da maternidade. Nos 11 anos dela no hospital, Katie trabalhou com mais de 2.000 mães. Enquanto o teste Edimburgo é um bem conhecido e um efetivo instrumento na predição de depressão, Monarch calcula que aproximadamente só 50 por cento dos hospitais examinam as mulheres para transtornos de depressão perinatais.
O sucesso do programa São José vem, em parte, da relação contínua com os pacientes e uma flexibilidade que responde pela situação individual de cada mulher. As mulheres podem ser examinadas no hospital depois de dar à luz, mas o tema também é discutido em aulas de parto pré-natais e são colocados panfletos sobre a condição mencionando consultórios de obstetras. Mães novas voltam ao centro de avaliação mãe-bebê do hospital três dias depois do nascimento, um processo que permite a relação e que constrói o cuidado contínuo. "A papelada do instrumento Edimburgo põe a semente dentro da cabeça de uma mãe nova, que 'Se eu estou tendo problemas e eu sei que eles têm um programa de ajuda é bom saber quem que eu posso chamar'" a Monarch disse. "E muitas mães chamaram por causa disso".
Em recentes anos, disse a Monarch, o tema da depressão pós-parto recebeu a maior atenção, até as celebridades falaram das suas próprias experiências. Ela citou o recente ensaio de Chrissy Teigen sobre a luta pós-parto dela em Glamour. "Você vê Chrissy em todos os prêmios olhando aturdida, e com aquele bebê que é tão fofinho, e ela diz 'eu não estou gostando disto, é difícil'" a Monarch expressou. "Eu penso que é perfeito. É útil. Isso normaliza muito a situação. E estas mães estão morrendo para se sentirem normais".
Potencial pós-parto.
Apesar da crescente consciência da condição, só perto do 20 por cento de mulheres que apresentam os sintomas buscam ajuda por depressão pós-parto. Isto pode ser atribuído, em parte, a uma falta de conhecimento dos sintomas, avaliações inadequadas e medo de ser estigmatizada. As comunidades de fé podem servir como um elo entre as mulheres e os serviços de saúde mentais. Porém, é crucial que aquelas comunidades de fé procurem as mães em luta, como alguns estudos mostram, muitas mulheres que estavam passando por uma depressão tinham menos probabilidade de assistir a encontros religiosos. Algumas vezes, quando as mulheres estavam precisando mais de uma comunidade de fé encorajadora, elas mais facilmente desistiam da possibilidade de ser parte de uma.
Sara Snapp e suas criançasUma sondagem informal de Facebook levada pela América constatou que, de 116 mulheres que tinham experimentado desordens de humor perinatais, só 84 por cento declararam que não tinham sentido apoio pelas suas comunidades de fé durante a depressão pela que atravessaram. Não há nenhum ministério Católico nacional especificamente para mulheres que experimentam desordens de humor perinatais, embora algumas dioceses ofereçam serviços de orientação. Houve sim alguns projetos antigos bem sucedidos. Em 2007 a Conferência Católica de Nova Jersey fez uma parceria com o Consórcio Materno e de Criança presente em todo o Estado para treinar o clero, religiosos e seculares de paróquias nos sintomas da depressão pós-parto.
Jennifer Ruggiero, diretora do escritório Respeito pela Vida da Diocese de Metuchen, serviu como a ponte diocesana com o consórcio e ajudou difundir a informação pelas paróquias. Ela também planejou seminários que incluíram uma conversa sobre o lado clínico da depressão pós-parto e uma conversa do testemunho de Sylvia Lasalandra, proeminente defensora católica para a conscientização sobre depressão pós-parto. (Lasalandra escreveu um livro sobre a experiência dela chamado O Toque de uma Filha). Ruggiero disse que as pessoas muitas vezes foram movidas pelas palavras, mas o aparecimento dos líderes das paróquias não foi tão vigoroso quanto ela esperava. "Eu estaria muito mais a favor de fazer isto novamente", ela disse. "Eu adoraria ver mais clero educado. Mas nós vamos de assunto em assunto e há tantos assuntos urgentes".
Reconhecendo que a sua diocese ou comunidade de fé podem não ter os recursos ou estruturas para prover o apoio necessário, as mulheres Católicas que experimentaram estas condições lideraram esforços contínuos sobre a consciência da depressão pós-parto, inclusive em contextos rurais.
Olhando para trás agora, Beth Gilbert, de 57 anos, sabe que experimentou alguma forma de depressão pós-parto depois dos nascimentos dos primeiros três filhos das cinco crianças que ela teve. Mas foi só depois do nascimento da terceira criança que começou a entender o que estava acontecendo e buscar ajuda. Um encontro com uma mulher religiosa na sua paróquia que também era conselheira a ajudou entender mais sobre a sua condição pós-parto. Ela começou a aconselhar. O medicamento ajudou, mas também as comidas saudáveis, fazer exercício, tentar construir redes sociais e tentar não se sentir culpada pelo fato de precisar de um descanso. "Eu tive que priorizar o cuidado próprio para que eu pudesse cuidar melhor das minhas crianças", ela disse.
Então, três anos depois que a terceira criança dela nasceu, Gilbert teve uma ideia. Ela achou pouco consolo na comunidade da sua paróquia. Ela escreveu uma carta para o pastor sobre a experiência dela respeito à falta de ajuda, com a esperança que o pastor poderia ajudar outras mulheres que vieram à igreja na procura auxílio. Ela nunca recebeu uma resposta.
Gilbert achou conforto tanto na Missa como nos sacramentos, mas ela precisava de apoio emocional e prático. Ela participou em uma conferência para mulheres em Peoria, Illinois, patrocinada pela Elizabeth Ministry, uma organização Católica internacional que trabalha oferecendo apoio espiritual e emocional, assim como diferentes recursos para mulheres que precisam de ajuda no que concerne ao parto e a relações afetivas. Gilbert começou a falar com outras mulheres sobre a possibilidade de começar um encontro na paróquia delas. "Eu pensei, este tipo de ajuda não estava disponível quando eu estava passando por tempos difíceis, e isto poderia ser útil a outras pessoas que podem estar experimentando algo semelhante", ela disse.
A depressão pós-parto não é o foco principal do Elizabeth Ministry, mas seu modelo pode ser adaptado para incluir apoio a mães que lutam com a condição. O ministério eclesial na paróquia de Gilbert envolveu um trabalho pessoal com as mulheres, particularmente as mães, na paróquia e a comunidade em que participam, sobretudo aquelas que poderiam precisar de uma escuta atenta ou também apoio logístico depois de um nascimento, problema ou em qualquer tempo difícil. O grupo trabalhou para vincular mulheres que tinham tido experiências semelhantes. Eles começaram com atividades na paróquia que envolviam bênçãos às mulheres gravidas quatro vezes por ano e que teve o benefício de identificar as novas mães de forma que elas poderiam se conectar com mulheres na comunidade em caso delas precisarem de apoio. Elas ofereceram cartões de oração, organizaram chá de fraldas e fizeram visitas umas às outras, inclusive entregaram refeições às novas mães.
O apoio que ela ofereceu a outros através deste ministério permitiu Gilbert usar a sua própria experiência dolorosa para oferecer uma escuta compassiva e ajudar a abrir perspectivas. "Eu só precisava poder achar o equilíbrio certo entre cuidar de mim e cuidar das minhas crianças", ela disse. "Eu precisei de outras pessoas para me ajudar a aprender como fazer aquilo corretamente. Eu também tive que ser um instrumento para ajudar criar uma estrutura de forma que outras pessoas se beneficiassem".
Criando uma Comunidade de cuidados.
Dot Project Blue é outro recurso para mulheres com desordens de humor perinatais, fundado por uma mãe que buscou uma comunidade encorajadora e que agora segue a experiência dela. Peggy Nosti de Escondido, Califórnia, tornou-se uma das fundadoras do projeto depois que ela fosse diagnosticada com ansiedade pós-parto logo após o nascimento da sua terceira criança em 2010 à idade de 39 anos. Enquanto ela estava lutando com a ansiedade, os amigos dela e a sua família cuidavam do bebê, a visitaram e levaram refeições. Nosti estava aberta para partilhar suas lutas, mas os membros da sua família ainda tinham certo receio de não discutir a ansiedade de Nosti publicamente porque eles sentiam que ela ficaria com vergonha.
"Eu nunca entendi isso", ela disse. "Eu soube que não era minha culpa... [não era o caso] eu não fui equipada para ser uma mãe. É um assunto de saúde mental". Ela esperava ajudar outros a entender isto também.
Nosti é filha de um casal que tinham sido sacerdote e freira anteriormente. Ela tem três crianças de 11, 8 e 6 anos. Nosti nasceu em uma família Católica muito dedicada e missionária. Este espírito de serviço a inspirou a procurar modos novos para comunicar a mães que estão sofrendo que podem falar sobre as suas experiências. Ela sentia que conscientizar sobre o problema podia ser um símbolo universal de ajuda. Nosti se reuniu então com um psiquiatra da área de fertilidade que aceitou a parceria com ela para fundar o Dot Project Blue para o qual eles promoveram uma missão de conscientização para a saúde mental materna, o ponto azul. A comissão de Apoio Internacional pós-parto votou o símbolo internacional da causa como o ponto azul e O Dot Project Blue distribui agora ímãs azuis de bebês, adesivos e alfinetes que podem ser usados ou ser postados como um sinal de apoio para a saúde mental materna.
Já o ímã de ponto no seu carro despertou várias conversações para Nosti inclusive fora da comunidade. "Você faz o melhor que você pode, mas nós não pretendemos fazer isto sozinhas”, ela disse. "Nosso trabalho implica ter uma comunidade".
Gina Parnaby e sua famíliaJena Booher, de 30 anos de idade, de Chappaqua, Nova Iorque, também atravessou pela experiência de transtornos de humor pós-parto. Ela fez um esforço para ajudar as mulheres acharem uma comunidade, consolação e equilíbrio depois do parto. Em contraste com o Dot Project Blue, cuia meta principal é conscientizar, Booher dedicou seus esforços para prover saúde mental através de serviços de orientação e de consultoria para empresas que esperam prover um ambiente familiar amigável.
Booher passou sua gravidez lutando com hiperémese gravidarum (vômitos fortes durante a gravidez), uma forma extrema de náusea. Ela também enfrentou uma situação difícil no seu escritório de Wall Street no qual ela estava cada vez mais afastada das suas contas a partir do anuncio da sua gravidez. Seguindo o nascimento da sua filha Siena, agora de 21 anos, as complicações continuaram. Booher deixou o trabalho dela logo após a licença de maternidade, mas lutou para enfrentar o que o seu papel novo como mãe trazia para a sua identidade depois que de tantos anos focalizada na sua carreira. Booher se achou uma perdedora e ficou perigosamente magra, em parte porque ela estava pulando refeições, sem perceber que estava fazendo isto. Ela teve tonturas persistentes, insônia e frequentemente largava as tarefas que ela não tinha completado aquele dia. Quase um ano depois do parto, Booher foi diagnosticada com depressão pós-parto.
"Eu tinha colocado minha autoestima nas minhas realizações", ela disse. "Isso contribuiu na minha depressão porque minha identidade foi sacudida no ponto mais importante". Ela lutou e cresceu no que para ela significa ser uma mãe. "Eu não tinha visto a qualidade do papel [de maternidade] como tão grande quanto o meu trabalho de Wall Street", ela expressou. "Dói-me dizer isso, porque agora eu sei que isso é lixo. A maternidade é o trabalho mais duro que há".
Aproximadamente 46 por cento das mulheres não voltam ao lugar de trabalho depois do parto. Para algumas esta é uma escolha deliberada; outras não têm nenhuma escolha, devendo enfrentar o custo dos cuidados às crianças, horários de trabalho inflexíveis, os descontos de salário, a falta de licença de maternidade ou até a discriminação. Booher teve a intenção de eliminar alguns destes fatores fundando Babies on the Brain, uma organização que ajuda às novas mães na transição das suas novas identidades através de serviços de orientação, assim como também ajuda companhias a fixar políticas que fazem da experiência da maternidade algo mais fácil para as mulheres continuarem com seus trabalhos. "Eu ajudo companhias a pensar além das lindas políticas de licença de maternidade", ela disse. "Trata-se de redefinir o status quo".
O status quo para a própria vida de Booher mudou também. Ela já não está pressa a dias de 12 horas em um escritório o que a ajudou a abraçar o papel dela como uma mãe trabalhadora. "Eu quis trabalhar e estou trabalhando, mas de certo modo isso não está definido através de normas tradicionais", ela disse. "Eu sou a responsável primeira da minha filha e eu sou uma estudante de graduação de tempo integral e, além disso, estou dirigindo meu próprio negócio. Como eu faço tudo aquilo? Eu trabalho horas extras. Eu me levanto 4:30 ou 5 da manhã. Trabalho antes do meu bebê acordar. Estas são as regras sobre como alcançar o sucesso e eu não está jogando esse papel como algo impossível para outras mães".
Lutar com depressão e a maternidade forçou Booher a reconsiderar a sua vida de oração também. "Eu tentei rezar muito com a Anunciação", ela disse. "Aquela oração realmente me ajudou. Sabendo que Maria não teve todas as respostas, e se Maria não teve todas as respostas então seguro que eu também não". Por agora, ela tenta se focalizar na beleza do momento, nos momentos de completa alegria, ela pode sentir agora o que é ser uma mãe. "É este o mistério. Sentir que eu ajudei trazer esta vida ao mundo é uma imensa alegria, sem deixar de sentir o que isso significa na vida real".
As dificuldades de maternidade são algo para o qual Papa Francisco também chamou a atenção, assim como nas esperanças para as quais a igreja prestará atenção. "Talvez as mães, prontas para sacrificar tanto pelos seus filhos e muitas vezes também por outros, deveriam ser mais escutadas", ele disse. "Nós deveríamos entender mais sobre as lutas diárias para ser eficientes no trabalho, atentas e afetuosas na família".
Nestes dias, Marissa Nichols está enfrentando ainda a luta diária que vem com a maternidade e a depressão, mas os modos nos quais ela pôde se sentir mais próxima a Deus na sua dolorosa experiência pós-parto também ficaram mais claros. "Eu estou conhecendo Deus como um pai", ela disse. "A humanidade faz com ele o que os meus filhos fazem comigo". Ela também sabe que, embora seja difícil explicar a depressão para os outros, ela não sente "nenhum julgamento de [Deus] sobre isto. Só sente misericórdia".
Ela espera que outras mulheres católicas que lutam com depressão e ansiedade pós-parto sentam isto também, e partilhem essa mesma misericórdia com outros, deixando para trás o estigma e a vergonha que cercam muito frequentemente estes assuntos. "A igreja está dizendo que a maternidade é algo que todos nós deveríamos respeitar", Nichols expressou. "Mas nós ainda temos que pôr isso em prática".
[1] Esta expressão faz menção ao azul, que na cultura inglesa é a cor que representa a depressão e a tristeza. No nosso contexto, a expressão faz menção à depressão pós-parto.
Fotos no corpo do texto em ordem: Marissa Nichols e suas crianças, Jena Booher e família, Sara Snapp e suas crianças, Gina Parnaby e sua família.

America
Tradução: Ramón Lara

Nenhum comentário:

Postar um comentário