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O custo médio para a transição à pecuária sustentável é alto .
O preço pago ao pecuarista que adere ao programa é o mesmo pago
àquele que faz tudo errado. (Reprodução)
A falta de crédito e de interesse do varejo por produtos sustentáveis pode limitar o escopo de um projeto ambiental inédito no país a no máximo 20% das propriedades rurais da Amazônia. Isso porque é caro demais implementar boas práticas associadas à elevação da produtividade animal sem contrapartidas de mercado. Sem elas, somente fazendas com área acima de 400 hectares teriam fôlego financeiro para mudar sua forma de produção sem destruir a floresta.
Esse é o principal alerta do estudo “Custos, benefícios e desafios da intensificação sustentável da pecuária”, publicado pela ONG The Nature Conservancy (TNC) como um diagnóstico da viabilidade econômica dos primeiros anos do projeto “Do Campo à Mesa”. Lançado em 2009, em parceria com o Marfrig e a rede varejista Walmart, o projeto visa diminuir os impactos da pecuária no ambiente através da adoção de boas práticas agropecuárias e bem-estar animal.
Em questão estão 13 propriedades rurais em São Félix do Xingu, no Pará. As fazendas estudadas somam 40 mil hectares (metade é pasto) e 33 mil bois.
Sete anos após sua implementação, duas constatações são extraídas dessa experiência. A primeira é que o resultado é bom. Com o projeto, nenhuma das propriedades efetuou qualquer desmatamento. A melhora na genética animal, a manutenção e o manejo do pasto contribuíram para, em alguns casos, mais que dobrar a produtividade – ou seja, o número de animais no pasto. Da média histórica de 1,2 boi por hectare na Amazônia, os pecuaristas do projeto foram a três ou quatro animais. Ao mesmo tempo, as pastagens estão gradativamente sendo reformadas, e as áreas de preservação permanentes isoladas, como as margens dos cursos de água. Tudo isso garante benefícios ambientais, qualidade da produção e conformidade com a lei.
A outra constatação é que o custo médio para essa transição à pecuária sustentável é alto comparado ao que o pecuarista brasileiro tem hoje como referência. São US$ 1.335 por hectare – de 2,8 a 6 vezes o custo da atividade extensiva. Nas propriedades médias e grandes, esse investimento se paga e começa a dar retorno superior ao da pecuária tradicional em sete a 11 anos a partir do início da intensificação.
Mas é nas propriedades menores – em geral em piores condições e com uma lista maior de correções a serem feitas – onde as melhorias pesam mais: o hectare passa a custar US$ 2.368, um valor fora de sintonia com a capacidade financeira dessa camada da economia rural.
“Escala, nesse caso, não é factível. Funcionaria apenas para propriedades acima de 400 hectares, só que 80% delas têm menos de 300 hectares. Uma outra abordagem deve ser considerada”, diz Edenise Garcia, gerente-adjunta de Ciências da TNC e coautora do estudo.
Pesa contra eles a falta de titularidade da terra (o que os afasta do crédito rural), as dificuldades de acesso ao Programa de Agricultura de Baixo Carbono e a própria aversão ao risco e a tecnologias – maior entre os pecuaristas que em produtores de soja, por exemplo.
Além disso, apesar das várias iniciativas ‘verdes’ e programas de bônus, a falta de incentivos e demanda do mercado varejista por produtos sustentáveis prevalecem na cadeia de valor da carne, o que freia o investimento em boas práticas. O preço pago ao pecuarista que adere ao programa é o mesmo pago àquele que faz tudo errado.
“Em muitos casos, a sustentabilidade não é encorajada e valorizada, e a crise econômica brasileira limita a habilidade dos frigoríficos de assumir riscos e custos sem apoio de varejistas, cuja principal preocupação (dividida com o consumidor) é comprar carne a preço acessível”, diz o documento. Some-se a isso o valor de mercado menor da carne do Pará, as distâncias de frete e custos com insumos (suplemento animal, fertilizantes), a margem de São Félix sofre ainda mais pressão. Se a sustentabilidade for escalonada, esses custos terão de ser reduzidos, conclui o estudo.
Amazônia.org
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