segunda-feira, 20 de março de 2017

Você faz tudo no último minuto? Relaxe, você é criativo(a)!

 Katarzyna Kozak | Mar 19, 2017
Olga Kuevda
Agora temos permissão científica para deixar para depois!


Por muitos anos eu vivi com sentimento de culpa porque deixava muitas tarefas para o último momento, e, portanto, algo estava errado comigo, especialmente quando vi que meu marido fazia tudo de imediato, como a maioria dos meus amigos faz. E eu vivo entre eles segundo o princípio: “O que posso fazer hoje, farei amanhã”.

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Tudo começou com minha dissertação de mestrado, que eu terminei no dia em que tinha de entregar. Claro que foi no dia em que minha impressora quebrou e, como resultado, entreguei o texto no último minuto. Em seguida, durante vários anos, trabalhei em escritórios editoriais, mas raramente escrevia artigos, então eu nunca percebi que algo estava errado. Isso até que eu me tornei freelancer e comecei a trabalhar como jornalista para várias revistas. Eu sempre começava a escrever um artigo algumas horas antes do prazo. Eu sentava na frente do computador apenas quando o nível de estresse atingia o seu auge. Isso não significa que eu não tinha pensado sobre o tópico anteriormente. Eu coletava as informações, encontrava-me com pessoas, conversava com peritos etc. E então esperava até o último minuto para sentar e escrever. E o mais estranho é que os editores nunca se queixaram. Mas eu ainda não podia deixar de sentir que havia algo de errado comigo.

Um pouco de teoria

Há muito tempo eu descobri uma palavra estranha – procrastinação. Segundo psicólogos, trata-se de uma desordem envolvendo adiar tarefas para um momento posterior e, finalmente, fazer no último minuto, ou, às vezes, não fazer. Procrastinação em casos extremos pode levar a um estado de neurose ou mesmo depressão. Os afetados repetem o mesmo padrão toda vez – eles adiam o que precisam fazer, procurando várias desculpas para justificar a falta de ação. Eles fazem o trabalho no último momento, ou não fazem. Toda vez prometem para si mesmos que nunca mais trabalharão dessa maneira, e fazem a mesma coisa novamente. Muitas vezes eles sentem raiva de si mesmos, culpa e vergonha.

As razões são diferentes – pode ser uma tendência para o perfeccionismo, a falta de autoestima, o medo do sucesso ou de cometer um erro, ou a necessidade de uma espécie de estresse alimentado por adrenalina.

Segundo psicólogos, a procrastinação na forma avançada requer terapia. Comecei a me perguntar se eu deveria fazer terapia. O maior problema que eu tinha não era tanto lidar com a procrastinação, mas a pressão dos outros para eu trabalhar igual a eles.

Melhor tarde do que muito cedo

O Independent publicou um artigo citando Adam Grant, professor de psicologia da Universidade da Pensilvânia, que foi um dos primeiros cientistas a avaliar a procrastinação. Ao escrever seu livro Originals: How non-conformists change the world, Grant descobriu que as pessoas mais criativas atrasam a execução da ação até o momento em que a melhor solução vem à mente.

Os procrastinadores mais famosos da história incluem Leonardo da Vinci e Martin Luther King.

“A procrastinação lhe dá tempo para considerar ideias divergentes, pensar em formas não-lineares, fazer saltos inesperados”, diz o cientista. Grant se identifica como um precrastinador (uma pessoa que tem que fazer tudo imediatamente). Em um de seus artigos publicados no New York Times ele admite que toda a sua vida ele acreditou que tudo devia ser feito mais cedo. “Ao longo dos meus estudos, eu terminei meus trabalhos antes do prazo, incluindo a minha tese, que eu terminei quatro meses antes da data de entrega. Meus companheiros de quarto brincavam que eu tenho uma forma produtiva de transtorno obsessivo compulsivo”, escreveu Grant. Em sua opinião, precrastinação é a necessidade de iniciar imediatamente a tarefa e terminar o mais rapidamente possível. E, se para o procrastinador atrasar a ação é a norma, para um precrastinador isso gera um grande estresse.

Acontece, no entanto, que as primeiras ideias que vêm à nossa cabeça raramente são criativas. As mais interessantes vêm depois de algum tempo.

Isso pode estar relacionado ao fenômeno da incubação, identificado pela psicologia cognitiva. A incubação é um momento de repouso após tentativas intensivas de resolver um problema. Aumenta a flexibilidade mental, permitindo a introspecção, ou a compreensão súbita de algo. Com a incubação, nos livramos dos detalhes sem importância, mantemos os aspectos mais importantes e as lembranças mais recentes têm tempo para se integrar com as mais antigas. Novos estímulos podem desencadear uma nova maneira de ver o problema ou vemos uma analogia necessária para resolver o problema. Minha avó costumava dizer, com razão, que se eu tivesse um problema, eu deveria dormir com ele e a solução viria por conta própria. Isso funciona muito bem na minha vida profissional.

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