segunda-feira, 13 de março de 2017

Cristão sal e luz: formar-se para os novos tempos

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Cristãos maduros são os discípulos e discípulas que, ainda que suas necessidades e demandas espirituais não sejam imediatamente atendidas, permanecem firmes.
Formar o fiel leigo é também capacitá-lo.
Formar o fiel leigo é também capacitá-lo. (Divulgação)
Por Junior Vasconcelos do Amaral*

Encontramos nos Evangelhos, de modo geral, dois modos distintos de seguimento a Jesus de Nazaré. O primeiro corresponde à “multidão”, que o segue de maneira conveniente, em busca de sanar suas demandas existenciais (cf. Mc 8,1-3). O segundo corresponde aos “discípulos”, que mesmo nos momentos difíceis, passando por privações, sofrendo com Jesus e sendo criticados por ele, por uma fé pequena (Mc 8,23-27), ainda permanecem no caminho, seguindo com ele até Jerusalém, permanecendo de pé diante da cruz (Mc 15,40-41; cf. também Jo 19,24). Neste discipulado fiel, encontramos alguns paradigmas: “as mulheres que o seguiam e o serviam” e “sua mãe e o discípulo amado”.

Estas duas categorias nos ajudam a perceber muitos cristãos hoje: alguns que não passam de cristãos de conveniência, cristãos por interesse, por status quo ou ainda cristãos com fé infantilizada, que buscam, de igreja em igreja, uma solução para seus problemas e, quando estes são solucionados, abandonam rapidamente. Contudo, há outra categoria de cristãos discípulos e discípulas que, mesmo que suas necessidades e demandas espirituais não sejam imediatamente atendidas, permanecem firmes. Estes são cristãos maduros na fé, que precisam ser sempre mais formados, para que sejam também novos evangelizadores, formadores de opinião e possam auxiliar os cristãos de conveniência na fé.

Neste sentido, podemos dizer que esta categoria de cristãos em nossas comunidades, assíduos, firmes, convictos precisam ser melhor formados para uma fé cada sempre robusta e adulta, a fim de não permanecerem tutelados, à mercê da autoridade eclesial, seja o presbítero ou o pastor. Neste sentido, faz-se indispensável formar melhor nossos fiéis leigos e leigas para o protagonismo de discípulos e oxalá de apóstolos, pois Jesus não ordenou nenhum de seus discípulos padre ou nem sequer os consagrou pastores no sentido institucional do termo. Tais cristãos devem ser respeitados em seu múnus apostólico, pois vivem o sacerdócio comum dos fiéis.

Nós, particularmente, que estamos vinculados à Igreja de uma maneira institucional, como diáconos, padres e bispos, temos o dever de formar nossos fiéis para o protagonismo da fé e da evangelização, para uma cidadania eclesial, para um destutelamento de nossas ordens e vontades, haja vista hoje que muitos fiéis leigos também gostariam de ocupar postos mais decisivos na igreja, o que não significa que devem ser clericalizados, pois este, evidentemente, não é o melhor caminho, talvez seja o pior, pois há muitos leigos que “mandam” mais na Igreja, querendo inclusive ensinar o “Padre Nosso ao vigário”. Faz-se oportuno, antes de tudo, que os membros ordenados e o Povo de Deus, vivamos na Igreja e no mundo nosso papel de “sal da terra e luz do mundo”, a fim de que o mundo possa crer.

Formar o fiel leigo é também capacitá-lo, oferecendo-lhe conteúdos que o conduza ao esclarecimento da fé, a dar razão de sua fé, de sua esperança, como diz o apóstolo Pedro (1Pe 3,15). Faz-se oportuno hoje que os (as) fiéis leigos (as) de nossas comunidades estejam atentos às necessidades da Evangelização, formando-se bons ministros da Palavra, da Eucaristia. Que estes fiéis também saibam bem acolher em nossas portas, ir ao encontro dos que têm fome. Compete ao fiel bem instruído participar, maduramente, da vida da comunidade, em sentido pastoral (atuação como evangelizador) e administrativo, e quiçá formarem outros cristãos como professores e professoras de Teologia.

Este convite à formação dos nossos cristãos hoje soa como uma mensagem de esperança para o mundo. Afinal de contas, o cristão é chamado por Jesus a ser “sal da terra” (Mt 5,13) e “luz do mundo” (Mt 5,14), por isso não se pode dar sabor à vida das pessoas se nós mesmos perdermos o nosso sabor próprio, nem sequer podemos iluminar o mundo se deixarmos que nossa luz se extinga por falta de fé. Ser sal da terra e luz no mundo é ser responsável pelo sabor do mundo, por sua iluminação, a partir de novas relações com a natureza, com o meio ambiente, com nossa comunidade, nossas famílias e com os nossos semelhantes.

Por fim, a formação cristã, não especificamente para uma função na comunidade cristã, mas para um papel social e político, é sumamente importante em nossas comunidades cristãs hoje, a fim de que os fiéis, o Povo de Deus, vivam sua liberdade de evangelizar e possa testemunhar sua adesão a Jesus Cristo, que nos diz “quem me segue não andará nas trevas, mas terá (e será) a luz da vida” (Jo 8,12).

*Junior Vasconcelos do Amaral é doutor em Teologia Sistemática pela FAJE/BH (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia), professor de Bíblia na PUC-Minas, presbítero a serviço da Arquidiocese de Belo Horizonte, MG.

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