quarta-feira, 22 de março de 2017

A vida dos 40 em diante

 domtotal.com
Foi cientificamente provado que as pessoas que fazem mais aniversários vivem mais.
“Quarenta anos é a velhice da juventude, cinquenta é a juventude da velhice.”
“Quarenta anos é a velhice da juventude, cinquenta é a juventude da velhice.” (Divulgação)

Por Carlos Eduardo Leão*

Não gostei de fazer quarenta. Não quis comemorar. Peguei Thais e fomos pra NovaYork e ficamos uma semana na gelada Park Avenue do início de março. Uma tentativa de esquecer a irreversível entrada nos "enta"!

Não que me sentisse diferente dos trinta e nove mas algo mexe com a gente. E não adianta dizerem o contrário ou apelarem pra frases pré-concebidas como “Você não tem 40 anos, você tem 18, com 22 anos de experiência”, ou “Aos vinte anos de idade a vontade reina; aos trinta, a sagacidade; e aos quarenta, o juízo.” ou ainda "Não te dou mais que trinta e dois" e, pior, "Você tem a idade que aparenta". São todas tentativas frustradas de amigos que, certamente, não cruzaram ainda a referida barreira do tempo cronológico, de aplacarem nossa sensação de que a juventude começa uma inexorável descendente.

Vieram outros aniversários, a maioria comemorados. E não é que a desagradável sensação foi, aos poucos, passando? E que aquelas frases, antes bobinhas e de cunho paliativo, passaram a ter efeito positivo e dominante no meu pensamento? "... e aos quarenta, o juízo" foi então a mais sábia de todas. A partir dos quarenta o homem definitivamente se firma, se alicerça, se compenetra e se compromete com a vida, com a profissão e com a família. Perdi meu pai nesse período entre quarenta e cinquenta e pude comprovar, além do exposto, que nós, homens, tornamo-nos verdadeiramente adultos, na desventura de perder nosso pai.

Não foi traumático fazer cinquenta. Comemoramos muito bem junto aos amigos da vida inteira, amigos novos, parentes e agregados. Embora não precisasse, algumas frases de efeito surgiram e, diferentemente dos quarenta, foram muito bem recebidas. “Quarenta é a velhice da juventude; cinquenta é a juventude da velhice.”, muito embora a constatação de Geraldinho Diniz, um dos integrantes dos amigos da vida inteira, tenha sido a mais certeira: "Você sabe que fez cinquenta porque todo o dia você acorda com duas dores diferentes". O cinquentão é mais experiente, mais seguro, mais realista, mais sagaz tanto com as coisas da vida como da profissão e da família. Pensamos e agimos com a cautela da responsabilidade e normalmente chegamos ao patamar da curva de Gauss, que representa o apogeu da vida profissional, onde se permanece por mais quinze anos, um pouco mais ou um pouco menos.  A maioria absoluta dos cinquentões concorda com a pensadora Sophie Tucker que sentencia, sem dó nem piedade, que “Do nascimento aos dezoito anos de idade, precisamos de bons pais. Dos 18 aos 35, de boa aparência. De 35 aos 55, de uma boa personalidade. Dos cinquenta e cinco em diante, de dinheiro.”

Estou chegando à conclusão que chegar aos sessenta vai demandar comemoração. Não por ela em si mas pela necessidade de se ouvir as, antes, famigeradas frases que, aqui, funcionarão como bálsamos minoradores para uma triunfal entrada na última fase da vida, a terceira idade. Quer algo mais arrebatador do que quando se tiver 60, ouvir que parece ter 50? É a glória! Por isso,  cada  vez mais me convenço de que "ficar velho" é um estado de espírito. Sabemos que estamos ficando antigos quando a única coisa que queremos para o nosso aniversário é que ninguém se lembre dele ou quando as velas passam a custar mais que o bolo.

É de bom tom entender que, a partir dos sessenta, os melhores aniversários são os que estarão por vir e que um aniversário é apenas mais um dia em que você vai trabalhar e as pessoas manifestam carinho e amor. A idade é apenas uma sensação, e seremos tão velhos quanto pensarmos que somos. O importante é contabilizar as bençãos, agradecê-las, sermos felizes, e pedirmos apenas saúde e paz.

Quando chegarmos aos sessenta, deveremos todos acrescentar ao pensamento de Sophie Tucker: "... Dos cinquenta e cinco em diante, dinheiro (E SAÚDE)" já que, sem ela, ele não tem valor. Isso sem falar que, à partir dessa emblemática idade, poderemos estacionar em vagas especiais. Quanto a não entrar em filas, tenho minhas dúvidas. Aquelas reservadas para a terceira idade já estão sempre maiores. E, por fim, uma frase anônima que juraria ser de uma personagem folclórica de nossa recente e combalida história política, confirma todo o pensamento desse texto sobre a vida e o viver: “Foi cientificamente comprovado que as pessoas que fazem mais aniversários vivem mais".

*Carlos Eduardo Leão é cirurgião plástico e cronista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário