quinta-feira, 30 de junho de 2016

Encontro tardio com Érico Veríssimo

 domtotal.com
Cruz Alta ainda respira o clima das velhas tradições gaúchas.
Feliz de uma terra que pode se  dar ao luxo de homenagear e tecer loas a um escritor desse tamanho.
Feliz de uma terra que pode se  dar ao luxo de homenagear e tecer loas a um escritor desse tamanho.

Por Ricardo Soares*

Embora visível  a cidade de Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul, sempre foi uma das minhas cidades invisiveis porque embora eu sempre soubesse de sua existência nunca pude conhecê-la direito mesmo tendo passado do lado em 2003  regressando da Patagônia. Agora, 2016, rumo ao Uruguai , entrei e fiquei um pouco aproveitando da hospitalidade do amigo Saulo Cemin e sua doce Bia e fui visitar o motivo de meu interesse por Cruz Alta. Érico Veríssimo , filho da terra, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos e que aqui morou até os 26 anos de idade.

Buscar Érico em sua antiga casa que virou museu  , na avenida General Osório 380,  é tentar entender o quanto tem de Cruz Alta em suas obras , notadamente no espetacular "Incidente em Antares". A missão pode parecer inglória mas não é na medida em que no museu nos deparamos com originais de Érico, uma de suas remotas máquinas de escrever e mesmo uma antiga  e ainda firme nespereira ( que fora do Rio Grande chamamos de ameixeira) à sombra da qual ele recebeu seus convidados no fundo da casa hoje convertida em museu.

Se museus em geral dão um astral de naftalina aos seus homenageados por outro mantém vivas as memórias deles o que é sempre bem vindo no Brasil que tanto desprezo devota aos seus autores notáveis. Nesse ponto vale muito a pena visitar o Museu Érico Veríssimo onde você será recebido pela Alessandra e pela sabida Emília que tudo sabe sobre o autor de "O Tempo e o Vento".

Ao lado do museu ainda existe a farmácia que foi de Érico e muitos Veríssimos ainda vivem na cidade dando a ela uma razão de existir pois como bem lembra meu amigo Saulo o autor emprestou uma identidade à cidade tanto que ao entrarmos nela lá está a placa " terra de Érico Veríssimo". Fora que muita coisa em volta, comércio ou não, recebeu nome de obras e personagens do autor de "Clarissa".

Cruz Alta ainda respira o clima das velhas tradições gaúchas que vão muito além dos embates lendários entre chimangos e maragatos . Sua velha estação ferroviária ainda se mantem precariamente de pé "atendendo" apenas a trens de cargas carregados de grãos. Ao lado essa estação um museu histórico da cidade que apesar do esforço em emprestar importância aos outros personagens da região sabe que nunca nenhum deles chegará aos pés em prestígio e importância do nome e obra de Érico Veríssimo. E é isso que devemos louvar . Feliz de uma terra que pode se  dar ao luxo de homenagear e tecer loas a um escritor desse tamanho. Quiçá o país e o Rio Grande do Sul pudessem ter mais Éricos para louvar em um época onde homenageamos tantos ídolos de pés de barro e currículos cobertos de lama.

*Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, jornalista e roteirista. Autor de sete livros e diretor de 12 documentários escreve às segundas e quintas para o DOM TOTAL.

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