sexta-feira, 31 de julho de 2015

O coração de Minas

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Onde está o coração de Minas Gerais?  Essa interrogação de grande e singular importância é também um convite a percorrer caminhos históricos, políticos, cidadãos e também religiosos. As respostas podem ser muitas, visto que a grande diversidade de lugares possibilitará diferentes interpretações. Certamente, todas elas justas.

Para se responder a essa pergunta, deve-se observar elementos relevantes que indiquem um critério seletivo. Não se pode eleger o coração de Minas por um conjunto restrito de referências, ainda que algumas delas tenham importância reconhecida. Convém considerar aspectos de caráter histórico, geográfico, cultural, político, religioso, ambiental e paisagístico. O lugar-candidato, com relevância para ser o coração de Minas, há de guardar em si o conjunto desses elementos todos e mais: deve ser agraciado por riqueza singular, com propriedade para alimentar o sentido de pertencimento e rasgar o tempo com sua atualidade; para conservar a força de sua beleza e ter o predicado de ser herança de todos, de incitar o dever de defesa e preservação.

Minas Gerais tem, indiscutivelmente, muitos lugares com belezas e qualidades para concorrer ao título de Coração de Minas. Contudo, parece incontestável a escolha do Santuário Nossa Senhora da Piedade - intitulado pelo sábio coração de Dom João Resende Costa, o segundo arcebispo de Belo Horizonte, “Magnífica Arquitetura Divina”.

Os mineiros, assim como os cidadãos de todo o mundo, quando o visitam se emocionam com as maravilhas dessa divina obra. O Santuário Nossa Senhora da Piedade é verdadeiramente o coração de Minas e parece ter sido criado para que fosse assim. Além disso, sua história, detalhada por infinitas riquezas, se confunde com a história deste “Estado Diamante”.

Neste 31 de julho, celebra-se o 55º aniversário da oficialização de Nossa Senhora da Piedade como Padroeira do Estado de Minas Gerais.

Naquele dia do ano de 1960, na Praça da Liberdade, coração da Capital Mineira, grande festa marcava a história de Minas. A Igreja, o povo e as autoridades governamentais celebravam a obtenção do título por meio do empenho do cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota junto ao Papa São João XXIII, em 1958. Filho de Caeté e arcebispo de São Paulo, o cardeal Mota nutria grande paixão por esse lugar sagrado, a 1746 metros de altura,  onde exercera seu  ofício religioso.    

História também construída com a intervenção da magistral inteligência de Frei Rosário Joffily, dominicano, o grande idealizador da estrutura que ainda hoje permite novos avanços. Trabalho de uma vida inteira, inspirado no pioneirismo de Antônio da Silva Bracarena. O português, um leigo vindo para ganhar dinheiro com a construção da Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Caeté, converteu-se pelo relato sobre a aparição de Nossa Senhora, no alto da Serra da Piedade, a uma menina muda que recebera a graça de voltar a falar.

Com permissão da Igreja, Bracarena empregou seus ganhos na construção da Ermida dedicada àquela que viria a ser Padroeira de Minas, cultuada na imagem veneranda de Nossa Senhora da Piedade, fruto da admirável arte do Mestre Aleijadinho.

Lá se vão 250 anos - a serem completados em 2017 - das raízes de fé ali plantadas, como fonte, atraindo peregrinos, marcando corações, indicando caminhos novos de humanidade e fé. Essa fonte renovável, por força da espiritualidade e da graça, retrata o ouro da fé cristã católica mineira no conjunto de suas riquezas depositado no alto da Serra.

No calvário lá assentado, na grande Praça Cardeal Mota, sobressai o trono de Cristo Rei, sua cruz redentora, sua realeza que se efetiva em oferta total de si pela salvação da humanidade. Assim canta o Hino do II Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Belo Horizonte, em 1936: “Firma aqui seu trono, Jesus, no altar das montanhas de Minas”.

Ao contemplar a Ermida da Padroeira comove ver que, ali, a Mãe da Piedade, a Mãe de Jesus, pôs sua casa de clemência e bondade. Não há outro retrato mais artístico e verdadeiro de Minas, emoldurado pelo imenso jardim botânico que é a Serra da Piedade. Criação de Deus, com fauna e flora de riquezas ímpares, referências do cerrado, da mata atlântica e do campo rupestre.

A vista em 360 graus, o movimento revelador da natureza num jogo de cores e luzes, de nuvens, de céu e de sol, e sua belíssima arquitetura;  os eventos religiosos que tornam a Casa da Mãe Piedade lugar especial  de espiritualidade, fé e  oração pela intercessão da Padroeira dos mineiros fazem do Santuário de Nossa Senhora da Piedade o coração de Minas. Oportunidade singular para se reverenciar o sagrado, cultivar o respeito à natureza dadivosa, sensibilizar os corações com a fé dos peregrinos e  conquistar um coração novo em humanidade e espiritualidade.

Todo esse esplendor, presente em testemunhos e experiências, reafirma: o Santuário, na Serra da Piedade, é o Coração de Minas.

Dom Walmor Oliveira de AzevedoO arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas. 

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